China inicia construção de complexo hidrelétrico polêmico no Tibete

Megaprojeto terá custo estimado de US$167 bilhões; obra preocupa Índia, Tibete e ambientalistas.
23 de julho de 2025
china hidrelétrica tibete
Parte do rio Yarlung Tsangpo / China News Service

O primeiro-ministro da China, Li Qiang, anunciou no último sábado (19/7) a construção do maior complexo hidrelétrico do mundo no rio Yarlung Tsangpo, na cidade de Nyingchi, sudeste da região autônoma do Tibete. A um custo previsto de US$167 bilhões (cerca de R$946 bilhões), o megaprojeto produzirá cerca de 300 milhões de MWh (megawatts-hora) de eletricidade. Para comparação, a também chinesa barragem das Três Gargantas, atualmente a maior hidrelétrica do mundo, gera 88,2 milhões de MWh. Não à toa Qiang a chama de “projeto do século”.

A Folha informa que o empreendimento será composto por cinco hidrelétricas, com barragem localizada na parte inferior do Yarlung Zangbo. Uma seção do rio despenca 2.000 metros em uma extensão de 50 km, oferecendo um enorme potencial hidrelétrico. A capacidade prevista equivale à quantidade de eletricidade consumida pelo Reino Unido em 2024. As operações estão previstas para a década de 2030.

Como a Bloomberg pontuou, o volume de investimento torna a hidrelétrica uma das obras de infraestrutura mais caras da história, passando, inclusive, o valor da Estação Espacial Internacional. O Globo vê o movimento como um impulso para os esforços de Pequim para o reaquecimento do crescimento econômico. De fato, o anúncio fez os preços das ações e rendimentos de títulos subirem no mercado chinês.

O megaprojeto está dentro do plano de expansão de energias renováveis do gigante asiático que é, atualmente, o maior emissor de carbono do mundo. Segundo o Guardian, a China possui dezenas de milhares de projetos hidrelétricos – muito mais que qualquer outro país.

Mas o projeto, claro, causa desafios diplomáticos. Tanto Índia quanto Tibete se posicionam contrariamente ao projeto. O governo indiano registrou formalmente suas preocupações relativas ao projeto junto a Pequim em dezembro, e também durante reuniões bilaterais entre os ministros das Relações Exteriores dos dois países em janeiro. O rio Yarlung Tsangpo segue seu curso em direção à Índia e a Bangladesh, o que pode comprometer o fornecimento de água para milhões de pessoas.

Em resposta, o governo chinês afirmou que não busca “hegemonia hídrica” e que a hidrelétrica ajudará a atender à demanda de energia no Tibete e no resto da China sem afetar muito o abastecimento de água a jusante ou o meio ambiente. Já grupos tibetanos apontam a presença de locais sagrados ao longo do rio e a falta de informações sobre o potencial deslocamento populacional.

Ambientalistas também se preocupam com os impactos irreversíveis da construção de barragens no desfiladeiro do Yarlung Tsangpo. A região abriga uma reserva natural nacional que é considerada um dos principais pontos de biodiversidade do país. Além disso, eles também mencionam os impactos sobre a vida selvagem da região, bem como deslocamentos tectônicos significativos e deslizamentos de terra.

A construção da maior hidrelétrica do mundo também foi notícia na Reuters, BBC, Deutsche Welle, South China Morning Post, The Indian Express e The New Indian Express.

  • Em tempo: Um outro projeto hidrelétrico gigantesco caminha a passos mais lentos na África. A usina de Grand Inga, na República Democrática do Congo, teve sua construção acelerada depois de dez anos de atraso. Com capacidade total de até 70 GW, o empreendimento deve fornecer eletricidade para 300 milhões de africanos até 2030. A Newsweek deu mais detalhes.

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