O tenso encontro entre o Secretariado da Convenção Clima (UNFCCC) e a organização da COP30 preocupa quem acompanha as negociações sobre o clima. O impasse em torno dos altos preços de hospedagem em Belém (PA), sem solução há menos de três meses da abertura da Conferência, ameaça esvaziar a COP.
“Essa situação nunca aconteceu”, comentou Marcio Astrini, secretário- executivo do Observatório do Clima (OC), em sua coluna na Rádio Eldorado, do Estadão. Um dado é particularmente preocupante: dos quase 200 países integrantes da UNFCCC, apenas 47 delegações confirmaram até agora reservas na capital paraense.
As nações em desenvolvimento ameaçam não vir à COP30 se não houver preços melhores ou apoio financeiro. Assim, sob o risco de uma COP esvaziada, o presidente Lula apelou para os países africanos terem uma “participação expressiva” na conferência, informa o Valor. O apelo foi feito na 2ª feira (25/8) em encontro com o presidente da Nigéria, Bola Tinubu.
Na semana passada em Bogotá (Colômbia), Lula tentou engajar seus vizinhos da América do Sul durante sua participação na Cúpula da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA).
Apesar do apelo, o governo federal não sinalizou com medidas adicionais para garantir hospedagem a preços razoáveis para as nações do Sul Global. Pelo lado do governo estadual do Pará, o discurso é de contenção de danos, em busca de “panos quentes” no impasse.
O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), ressaltou mais uma vez que todo esforço tem sido empregado pelas autoridades estaduais e federais para a redução dos preços de hospedagem, o que tem surtido algum efeito. Segundo ele, as tarifas estão se aproximando de um “patamar razoável” e ele espera uma participação diplomática superior à COP29, realizada em Baku (Azerbaijão) no ano passado. Segundo o governador, os países já foram informados da estrutura de hospedagem disponibilizada e novas confirmações seguem sendo registradas diariamente. Valor, O Globo e CBN deram mais informações.
Recentemente, a Defensoria Pública do Pará recomendou às plataformas de hospedagem a notificação de hotéis e pousadas com anúncios de diárias acima de três vezes superiores à média da alta temporada. De acordo com a Folha, a AirBnb informou às autoridades paraenses uma queda de 22% no preço médio das tarifas em relação a fevereiro. Na comparação entre agosto e julho, a redução foi de 9%.
Três fatores podem ter contribuído para a redução dos valores: prejuízos para a imagem internacional de Belém, podem ter sensibilizado proprietários; a existência de imóveis encalhados por conta dos preços altos; e ações contra abusos por parte de órgãos como Procon, Polícia Civil e Ministério Público.
Em tempo 1: Belém não sofre apenas com falta de leitos para a COP30. Segundo O Globo, diante da demanda excepcional, há dificuldade para a contratação de prestadores de serviços como motoristas, operadores de som e tradutores, o que resultou na “importação” de profissionais de São Luís e no uso de equipes remotas. Além disso, uma análise de especialistas em políticas de turismo da Universidade de São Paulo (USP) identificou falhas na definição de rotas de transporte e na padronização de cardápios, conforme exigido em megaeventos internacionais.
Em tempo 2: A Folha deu mais detalhes da investigação da Polícia Federal sobre o grupo suspeito de executar um “sofisticado mecanismo de lavagem de dinheiro” a partir de contratos referentes à COP30 com o governo do Pará. Segundo a investigação, o grupo teria influência junto ao comandante-geral da Polícia Militar paraense e dois secretários da gestão de Helder Barbalho. O grupo seria composto por policiais armados sob a coordenação do coronel da PM do Pará Francisco de Assis Galhardo e sob a liderança do deputado federal Antônio Leocádio dos Santos, o Antônio Doido (MDB-PA).
