Em busca dos US$ 1,3 trilhão: o tabuleiro do financiamento climático na COP30

Especialista adverte que financiamento não depende só de recursos, mas de articulação, que vive momento delicado com cenário geopolítico.
29 de agosto de 2025
financiamento climático cop30
Rawpixel

A pouco mais de dois meses da COP30, o vácuo deixado pela Conferência do Clima do ano passado sobre o financiamento climático mantém o tema no centro das discussões na cúpula de Belém. Não à toa Brasil e Azerbaijão elaboram o “Mapa do Caminho de Baku a Belém” para tentar desatar esse nó, lembra o Valor.

A “parte desse latifúndio” de US$ 1,3 trilhão que cabe aos orçamentos nacionais dos países desenvolvidos continua incerta, o que amplia a cobrança sobre essas nações. Mas analistas consideram ser cada vez mais necessária a entrada do setor privado na conta, informa O Globo.

Além de recursos, o financiamento depende de articulações, avalia o economista Rogério Studart, senior fellow do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) e ex-diretor executivo do Brasil no Banco Mundial e no BID, no Valor. Apesar dos retrocessos em economias centrais, como a dos Estados Unidos, Studart afirma que há espaço para o que o escritor Ariano Suassuna definia como nem otimismo, nem pessimismo, mas “realismo esperançoso”.

O cenário geopolítico é um grande obstáculo, reforçam especialistas no Valor e n’O Globo. “Os países europeus estão mais preocupados com segurança do que com auxílio para o clima”, lamentou Maria Netto, diretora-executiva do Instituto Clima e Sociedade (iCS). No entanto, o setor privado está ganhando mais tração em direção à descarbonização, embora o ritmo não seja o ideal diante da emergência climática que já causa efeitos devastadores no mundo.

Uma alternativa em ascensão são os mecanismos de financiamento híbrido, ou blended finance, relatam O Globo e Valor. O modelo combina diversas fontes de recursos em arranjos variados: mobiliza capital catalítico – que pode ser público, filantrópico ou de bancos de fomento – para reduzir riscos e atrair investidores privados.

Globalmente, o fluxo de negócios com blended finance foi maior em 2024 que na média dos últimos cinco anos, saltando de US$ 38 bilhões entre 2020 e 2023 para US$ 65 bilhões no ano passado. Mas ainda é pouco, se comparado aos US$ 300 bilhões anuais em financiamento climático combinados ano passado em Baku. Quanto mais para US$ 1,3 trilhão.

O Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), que o Brasil quer lançar na COP30, deve chamar atenção pelo tamanho que o mecanismo pode adquirir – a expectativa é somar US$ 125 bilhões. A proposta, segundo O Globo, marca uma “virada” na lógica de como o mercado olha as árvores, que deixam de ser um passivo a ser removido para se tornarem um ativo valioso a ser preservado.

No entanto, entre a expectativa e a realidade, há uma longa distância. O TFFF precisa ser oficializado e garantir recursos. Além disso, como pontuou O Globo, os governos dos países com florestas tropicais precisam fortalecer a fiscalização, bem como criar incentivos e legislações para impedir o desmatamento.

“No Brasil, temos hoje algo em torno de 20 milhões de hectares que podem legalmente ser desmatados na Amazônia e no Cerrado. Isso está previsto no Código Florestal, que diz que um proprietário de terra pode desmatar até 20% de sua área da Amazônia ou 80%de sua área no Cerrado. Tem fazendas que não chegaram nesse limite ainda”, explicou o diretor executivo do IPAM, André Guimarães.

O protecionismo verde perpassa esse tabuleiro, quando a justificativa ambiental é usada para criar barreiras comerciais restritivas, lembra o Valor. Tais medidas têm sido cada vez mais alvo de debate e foram acionadas em conversas sobre o tarifaço promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. E nada impede que sejam acionadas para barrar recursos para países em desenvolvimento que precisem deles.

  • Em tempo: A força-tarefa criada pelo governo federal para destravar as reservas das delegações para a COP30 em Belém parece estar surtindo efeito. De acordo com a diretora-executiva da Conferência, Ana Toni, a situação “melhorou muito” e os ânimos, que terminaram exaltados na reunião da semana passada, estão mais calmos. “Certamente pode melhorar, mas acho que a gente mostra que tem um esforço grande que o governo está fazendo junto com o setor privado, da área hoteleira, das casas privadas, e os preços estão descendo. A gente está conversando com as delegações, então acho que está tudo muito mais calmo”, disse Toni, citada pelo Valor.

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