Ailton Krenak: COP30 não pode virar balcão de negócios

Krenak critica a insistência dos países no petróleo e a lentidão da transição energética para fontes renováveis.
8 de setembro de 2025
ailton krenak cop30
Adriana Moura / Facebook Ailton Krenak

Ainda faltam pouco mais de 60 dias para a abertura da COP30 em Belém, mas o tom das discussões até aqui não vem agradando o escritor Ailton Krenak. Para o líder indígena e agora imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), a Conferência do Clima está arriscada a virar um balcão de negócios, com o mercado assumindo o protagonismo e os Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais ficando de fora.

“A sociedade fora, os Povos Originários fora, a Amazônia fora, e o mercado dentro. Esse é o resumo da COP”, lamentou Krenak ao Valor. “A pauta ativa da COP vai ser negócios, transformando tudo isso numa dinâmica financista. A transição energética vai levar ainda mais 40 a 50 anos. Enquanto isso, a gente come o planeta”.

Outro incômodo de Krenak é com a chamada bioeconomia, frequentemente citada pela ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) como uma nova possibilidade de desenvolvimento sustentável para a região amazônica. Para ele, a despeito de não questionar a boa vontade de Marina, esse discurso repete a exploração sob nova roupagem.

“Quando se fala em bioeconomia, acena-se para que alguma dinâmica econômica dê continuidade aos processos de exploração brutal que acontecem na Amazônia. Não é um ‘não’ ao sistema, é uma adaptação”, pontuou Krenak.

Um fator a contribuir para tornar a COP num evento elitista é a dificuldade da sociedade civil de participar da Conferência de novembro em Belém. O risco de esvaziamento ainda é significativo por conta dos altos preços de hospedagem na capital paraense, que melhoraram nas últimas semanas, mas seguem acima do normal.

“Vão dizer: ‘Não, a COP é para todo mundo’. Mas quem tem 600 dólares, em média, para se hospedar? De modo geral, os penalizados são principalmente as delegações dos países com menos recursos. Você está abrindo [a COP], mas só participa quem tem dinheiro”, afirmou José Guilherme Fernandes, professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), ao InfoAmazonia.

Um reflexo desse problema está sendo vivido por um dos hotéis que se transformaram em símbolo da carestia. A AFP visitou o agora famoso Hotel COP30, um pequeno motel que foi adaptado para virar hospedagem para os participantes da COP, mas que inicialmente cobrava preços na casa de US$ 1,2 mil por noite. Sem nenhuma reserva realizada, o estabelecimento precisou reajustar sua tarifa para, no máximo, US$ 350. g1 e O Globo também abordaram essa situação.

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