
A 2a Cúpula do Clima da África se encerrou nesta 4a feira (10/9) na Etiópia com uma declaração que foca no principal desafio do continente para a ação climática: a falta de financiamento. Enquanto os líderes africanos criticaram a reticência das nações ricas e industrializadas de cumprir com seus compromissos financeiros internacionais, eles também reforçaram o interesse em buscar soluções próprias, voltadas às necessidades de seus países.
A Declaração de Addis Abeba reiterou que os países ricos estão se omitindo sobre suas responsabilidades internacionais no enfrentamento à mudança do clima, especialmente no fornecimento de ajuda financeira às nações mais pobres e vulneráveis. “[O financiamento climático] é uma obrigação legal, não uma caridade, conforme consagrado na Convenção da ONU sobre o Clima [UNFCCC] e no Acordo de Paris”, assinalou o texto.
“Exigimos compromissos e parcerias internacionais mais fortes para fechar o déficit financeiro”, defenderam os líderes africanos. A declaração também lembrou da importância da concessão de subsídios e doações ao invés de empréstimos, de forma a não agravar a já pesada dívida externa dos países africanos. Além disso, o texto trouxe um apelo aos bancos multilaterais de desenvolvimento para investirem mais no financiamento de baixo custo em projetos relacionados ao clima.
Apesar das reclamações, os líderes africanos aproveitaram o encontro em Addis Abeba para mostrar que, mesmo com as dificuldades, as nações do continente estão atuando como podem para mitigar suas emissões e adaptar suas infraestruturas para os impactos das mudanças climáticas.
Na abertura da Cúpula, um acordo entre financiadores de desenvolvimento africanos e bancos comerciais prometeu destravar cerca de US$ 100 bilhões para investimentos na geração de energia renovável. Outra proposta apresentada na Etiópia foi a criação de um Pacto Africano pela Inovação Climática, com a mobilização de US$ 50 bilhões anuais para soluções de energia, agricultura, água e transporte. Bloomberg e Reuters deram mais detalhes.
A Presidência da COP30 também marcou presença nas discussões em Addis Abeba. O presidente-designado da Conferência, embaixador André Corrêa do Lago, defendeu um alinhamento dos países africanos com os objetivos da COP de ampliar o diálogo e impulsionar a implementação dos compromissos internacionais.
“Quando a África fala com uma só voz, o mundo precisa ouvir”, defendeu Corrêa do Lago, que também reforçou a defesa do multilateralismo climático como um objetivo comum da Presidência da COP e dos países africanos. “Alguns atores ficariam felizes em ver o multilateralismo fracassar. Juntos, podemos provar que eles estão errados”.
Climate Home, Financial Times, Mongabay e TIME também repercutiram os resultados da Cúpula do Clima da África.
Em tempo: O sucesso da Semana do Clima e da Cúpula Africana em Addis Abeba colocou a Etiópia na liderança da corrida pela sede da COP32, em 2027. Segundo o Climate Home, o país do leste africano demonstrou estar preparado para grandes eventos internacionais, com boa infraestrutura, um processo de visto mais simples e maior apoio político. Esses pontos colocam a Etiópia à frente de seu único rival público até o momento, a Nigéria. Essa definição deve acontecer somente no ano que vem, na COP31 - que, aliás, segue sem definição de sede, com Austrália e Turquia disputando a indicação.



