Belo Monte: presidência do IBAMA admite rever vazão do Rio Xingu

Mudança pode ser ponto de virada para Povos Tradicionais da região, que há anos denunciam impactos e pedem que a hidrelétrica libere mais água.
16 de setembro de 2025
belo monte presidência do ibama admite rever vazão do rio xingu
Joédson Alves/Agência Brasil

O presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho, acatou as recomendações da Diretoria de Licenciamento do órgão ambiental quanto à partilha das águas do Rio Xingu pela hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Assim, a usina, controlada pela Norte Energia, vai precisar rever a forma como controla a vazão do curso d’água.

Em um despacho ao qual a Agência Pública teve acesso, a presidência do IBAMA analisou sugestões apresentadas no fim de agosto pela Diretoria de Licenciamento. Pela primeira vez no processo de renovação da licença de operação da usina, houve a recomendação para a Norte Energia apresentar um novo hidrograma para a Volta Grande do Xingu, como a Pública noticiou.

O hidrograma é um esquema, definido no licenciamento ambiental, que estipula os volumes de água (vazões) a serem liberadas mensalmente pela usina para a Volta Grande – trecho de cerca de 130 km do rio, após a cidade de Altamira, com biodiversidade e riqueza cultural únicas no país. Na 6ª feira (12/9), a diretoria do órgão ambiental comunicou a decisão à Norte Energia.

A mudança pode se tornar um ponto de virada para os Povos Tradicionais da região, que há anos denunciam os impactos da usina e pedem que a hidrelétrica libere mais água, reforça a Agência Pública. O drama vivido por Povos Indígenas e Tradicionais do entorno de Belo Monte é retratado no documentário “Xingu à margem”, de Wallace Nogueira e Arlete Juruna, exibido no fim de semana passado no 58º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, informa o Correio Braziliense.

O filme acompanha o encontro da ribeirinha Raimunda Gomes da Silva com Arlete Juruna, numa conversa na qual refletem sobre o ciclo de injustiças gerado por Belo Monte do ponto de vista dos indígenas e dos ribeirinhos.

“Dona Raimunda foi a única a conseguir fazer uma queixa na Polícia Federal e, a partir disso, foi perseguida, ameaçada de morte. Era líder comunitária e a Norte Energia a desacreditou, os outros ribeirinhos ficaram com raiva dela, porque ela protestava, dizia que as casas que a empresa prometeu construir eram mentira”, conta Nogueira. “Toda essa situação gerou uma grande doença mental, física e da própria floresta. O lago de Belo Monte e todo o rio na frente de Altamira virou um grande reservatório que matou centenas de árvores e bichos.”

Em tempo: Comunidades indígenas Munduruku do Baixo Teles Pires e Alto Tapajós, no Pará, viveram dias de desespero em meados de agosto por causa da hidrelétrica Colíder, no Mato Grosso, controlada pela Eletrobras. Em poucas horas, sem um pingo de chuva no céu, em pleno verão, a água subiu com a rapidez de uma enchente fora de época. Praias fluviais foram tomadas, pedras, encobertas e inúmeros galhos, arrastados. Em seguida, o rio desceu como se tivesse sido sugada por um ralo. Cardumes mortos boiavam, e as tartarugas tracajás, desorientadas, depositavam ovos fora dos locais de costume, colocando em risco as chances de vida dos filhotes. A oscilação do rio estava ligada ao rebaixamento emergencial do reservatório da usina. O procedimento, usado para aliviar a pressão da água quando há falhas técnicas, foi adotado após problemas nos drenos do sistema, explica a Agência Pública. A Eletrobras, obviamente, minimizou o problema e disse que as comunidades Munduruku estão a mais de 400 km de distância e “não sofrem impacto direto”, o que é questionado pela líder indígena Ediene Munduruku. Além disso, segundo Ediene, a informação, quando chega, não é adequada ou disseminada. “Nós temos sentido falta dessa informação por parte da Eletrobras e da FUNAI. Eles precisam informar as organizações coletivas do Povo Munduruku”, reclamou.

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