
A urgência de se eliminar combustíveis fósseis para conter as mudanças climáticas não é novidade. Mas, para a indústria de petróleo e gás fóssil, em especial na América Latina – o que inclui a Petrobras –, o clima do planeta e a nossa sobrevivência nele que esperem. Essas empresas apostam no lema de Donald Trump, “Drill, baby, drill!”, em busca de mais reservatórios.
É o que comprova uma pesquisa da Aggreko, fornecedora de soluções de energia para plataformas de petróleo e minas em construção, entre outras aplicações. A exploração de novos campos de petróleo é a principal prioridade das empresas para 28% dos profissionais do setor na América Latina, informa o Estadão. Já a adoção de práticas sustentáveis ficou em último lugar entre os cinco quesitos do estudo: apenas 7% dos 312 profissionais entrevistados a colocam como prioridade. A pesquisa não incluiu como possível prioridade a diversificação de negócios, incluindo projetos de energia renovável.
Para o gerente de óleo e gás da Aggreko na região, Daniel Rossi, as empresas do setor já estiveram mais preocupadas em adotar práticas sustentáveis. Mas, segundo ele, dificuldades logísticas, técnicas e de custo têm tornado difícil a implementação. “O custo dessas práticas coloca a operação em um patamar em que a empresa perde competitividade”, opinou.
Não é o que avalia a coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, Suely Araújo. Para ela, a pesquisa mostra uma falta de preocupação do setor de combustíveis fósseis com a crise climática. “É até esperado que a direção das empresas petroleiras coloque prioridade no que fazem, mas teria de estar mais clara a atenção para a necessidade de descarbonização e de diversificação das atividades dessas empresas”, frisou.
Suely destaca que, ainda que os combustíveis fósseis não respondam pelo maior volume das emissões de gases de efeito estufa no Brasil, o país não pode ignorar a necessidade de reduzir a produção e o uso desses combustíveis. “Pouco mais da metade da produção brasileira de petróleo é exportada e acaba sendo queimada em outro local, emitindo gases de efeito estufa de qualquer modo”, explicou.
A Petrobras, porém, ignora essa necessidade. A petrolífera não apenas planeja explorar petróleo e gás fóssil em áreas ambientalmente sensíveis, como a Foz do Amazonas, como continua atravessando o Oceano Atlântico em busca de novas reservas de combustíveis fósseis.
No fim da semana passada, a estatal comunicou a conclusão da compra de uma participação de 27,5 % no bloco exploratório 4 em São Tomé e Príncipe, no continente africano, informam Valor, CNN, Reuters, InfoMoney, Money Times, RFi e Seu Dinheiro. A brasileira agora compõe o consórcio do bloco com a anglo-holandesa Shell (que detém 30% e opera o ativo), a portuguesa Galp (27,5%) e a Agência Nacional de Petróleo de São Tomé e Príncipe (ANP-STP, com 15%).



