
O cumprimento dos compromissos climáticos do Brasil depende de uma transformação crucial em sua principal companhia: para que as emissões brasileiras se reduzam no volume necessário para limitar o aquecimento global em 1,5oC, a Petrobras precisará deixar de ser uma empresa de combustíveis fósseis para ser uma empresa de energia. Esse é o diagnóstico de dois estudos divulgados nesta 3a feira (16/9), que traçam os caminhos para a descarbonização da Petrobras nas próximas décadas.
O primeiro estudo, elaborado pelos economistas Carlos Eduardo Young e Helder Queiroz, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), aborda os desafios e as alternativas para a descarbonização do portfólio de investimentos da Petrobras. Ele oferece insumos para a segunda análise, batizada de “A Petrobras de que precisamos”, fruto de uma análise conjunta de 30 organizações que compõem o Grupo de Trabalho em Energia do Observatório do Clima (OC).
O panorama traçado pelas análises revela que a Petrobras mantém uma estratégia de investimentos baseada na expansão da produção de combustíveis fósseis em detrimento de fontes renováveis de energia. Em seu plano de negócios 2025-2029, a empresa prevê investimentos de US$ 111 bilhões, dos quais menos de 10% (apenas US$ 9,1 bilhões) serão destinados a energias de baixo carbono.
Essa estratégia está na contramão do compromisso assumido pelo Brasil e pelos demais signatários do Acordo de Paris para fazer uma transição para longe dos combustíveis fósseis começando nesta década. Ela também contraria a Estratégia Nacional de Mitigação, parte do Plano Clima, que vislumbra a neutralização das emissões de gases de efeito estufa do Brasil até 2050.
A priorização dos investimentos na expansão em hidrocarbonetos deixa a Petrobras – e, por tabela, o Brasil – exposta ao risco de estouro da “bolha do carbono” na próxima década, com o potencial da empresa terminar com um encalhe maciço de ativos que não darão o retorno esperado. Por isso, segundo as duas análises, o momento atual é chave para a empresa definir o seu futuro – e o caminho para o progresso está na transição energética real para fontes renováveis.
De acordo com “A Petrobras de que precisamos”, o caminho para essa transição energética passa por um aumento dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento e inovação de biocombustíveis e hidrogênio de baixo carbono; retorno do investimento em distribuição e terminais de recarga para o consumidor final; alinhamento do plano de negócios com os objetivos mais ambiciosos do Acordo de Paris, da NDC brasileira e da Estratégia Nacional de Mitigação; a priorização de investimentos em fontes de baixo carbono, de forma a diversificar o core business da empresa; e a realocação de investimentos planejados em novas refinarias para ampliar a participação de novos combustíveis na matriz energética.
“A Petrobras é uma empresa sem dúvida muito importante para o país, mas que necessita internalizar a crise climática com muito mais vigor do que fez até agora. Seu plano de negócios pode e deve ser ousado na perspectiva da diversificação de atividades, com destaque para investimentos em energias de baixo carbono e na transição energética”, defendeu Suely Araújo, coordenadora de políticas públicas do OC e coautora do 2o estudo.
As análises tiveram grande repercussão na imprensa, com matérias em Bloomberg, Brasil 247, Canal Energia, g1 e Valor, entre outros veículos.



