Petrobras tem estratégia de negócios descolada das metas climáticas brasileiras

Estudos mostram que a empresa precisará diversificar portfólio de atividades para o clima e sua própria sobrevivência.
24 de setembro de 2025
Petrobras descarte água contaminada
Gustavo Moreno/Metrópoles

As ideias que a Petrobras tenta vender ao público em sua campanha publicitária sobre transição energética justa não correspondem aos fatos sobre a crise climática e a urgência em se eliminar os combustíveis fósseis, os principais causadores das mudanças do clima. É o que mostram o relatório “A Petrobras de que precisamos”, do Observatório do Clima, e o estudo dos professores Carlos Eduardo Young e Helder Queiroz Pinto, do Instituto de Economia (IE) da UFRJ.

Os documentos mostram que a Petrobras precisará adotar grandes mudanças em suas operações e estratégias de investimentos nos próximos anos para que o Brasil possa alcançar as metas climáticas assumidas junto à ONU, informa a Folha. As análises se baseiam na projeção da Agência Internacional de Energia (IEA), quanto à demanda global por petróleo cair a partir de 2030, sobretudo pela implementação do Acordo de Paris, que limita a 1,5°C o aumento da temperatura média global em relação aos níveis pré-industriais.

Para os pesquisadores do IE/UFRJ, a petrolífera deve ser transformada para desenvolver produtos neutros em carbono, como o combustível sustentável de aviação (SAF, sigla em Inglês). O OC vai além: frisa que a estratégia de futuro da Petrobras está descolada dos objetivos de descarbonizar a economia brasileira.

Os documentos reconhecem que as mudanças devem ser feitas gradualmente, sem prejudicar a sustentabilidade financeira da empresa. Afirmam a necessidade da Petrobras investir em combustíveis renováveis e de baixa emissão, como etanol e biodiesel de 2ª geração, SAF, hidrogênio, biogás e biometano, e de se afastar do petróleo. Somente assim a empresa evitará o risco de acumular ativos encalhados conforme o mundo fizer a transição para longe dos combustíveis fósseis.

Questionada sobre os estudos, a Petrobras respondeu de forma protocolar e vazia, como de costume. Afirmou que aumentou os investimentos na transição energética, com US$ 16,3 bilhões para projetos de baixo carbono no Plano de Negócios 2025-2029, e reduziu suas emissões em 40% de 2015 a 2024, de 78 milhões de toneladas de carbono equivalente para 47 milhões de toneladas.

Mas a petrolífera sentiu o golpe. Tanto que o Ministério de Portos e Aeroportos informou na 2ª feira (22/9) que a Petrobras realizou a 1ª produção em escala industrial de SAF na Refinaria Henrique Lage (Revap), em São José dos Campos (SP), informa o Poder 360. Segundo o gerente-geral da Revap, Alexandre Coelho, o processo incorporou óleo vegetal ao modelo tradicional de produção de querosene de aviação, atingindo “impressionantes” 1,2% de conteúdo renovável. Então tá.

Se na estratégia e na ação a Petrobras anda devagar-quase-parando em direção à transição energética justa, no greenwashing a petrolífera é craque, como diria a Central da COP. Somente isso pode explicar a campanha publicitária sobre o tema, que inclui a contratação de influencers ligados às temáticas climática, ambiental e científica para posts elogiando a empresa, como mostrou a Agência Pública.

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