Sob pressão de Trump, aliança climática de bancos chega ao fim

Grandes bancos dos EUA e da Europa lideraram investimentos em combustíveis fósseis na América Latina e no Caribe.
6 de outubro de 2025
bancos
David Vincent / Unsplash

Quatro anos após ser criada, a Net-Zero Banking Alliance (NZBA), a maior aliança climática do mundo para bancos, anunciou o encerramento de suas operações. A dissolução foi motivada pela debandada de grandes instituições financeiras após intensa pressão do presidente dos EUA, Donald Trump.

A coalizão global de definição de metas de emissões líquidas zero do setor bancário foi criada em abril de 2021, sob a liderança da Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP FI), explica o Um Só Planeta. Após as saídas, os membros restantes “votaram pela transição de uma aliança baseada em membros e para estabelecer sua orientação como uma estrutura”, informam Valor, Guardian, SustainableViews, Seu Dinheiro, Capital Reset, Financial Times, Business Green, Reuters e Bloomberg Línea.

Em seu auge, a NZBA representava mais de 40% dos ativos bancários globais. Após a reeleição de Trump, em novembro do ano passado, os maiores bancos de Wall Street saíram da aliança, enquanto o Partido Republicano intensificou as ameaças contra as instituições financeiras que adotavam políticas de emissões zero.

Defensores do investimento sustentável reagiram à decisão de formas diferentes. Codiretora de engajamento corporativo do grupo de investimento responsável ShareAction, Jeanne Martin, classificou-a como “profundamente decepcionante”. Já Lucie Pinson, diretora da Reclaim Finance, afirmou que “não lamentará”: “Como outras alianças financeiras do gênero, ela trouxe pouco, ou nada, para o clima e estava fadada ao fracasso. Seu objetivo nunca foi tomar medidas reais, mas criar a ilusão de medidas para afastar o risco de regulamentação”, salientou.

Uma prova desse greenwashing institucional é o estudo “The Money Trail Behind Fossil Fuel Expansion in Latin America and the Caribbean”, relatado pelo Um só planeta. Elaborado pelo Instituto Internacional Arayara, Urgewald (Alemanha), Conexiones Climáticas (México), FARN (Argentina) e Amazon Watch (Peru), o levantamento aponta bancos do Norte Global entre os maiores responsáveis por financiar empresas de petróleo e gás fóssil que avançam sobre Territórios Indígenas e ecossistemas frágeis na América Latina e Caribe.

Entre 2022 e 2024 – ou seja, com a aliança bancária ativa –, 290 bancos canalizaram US$ 129 bilhões para esses projetos, sendo 92% provenientes de fora da América Latina e do Caribe. O espanhol Santander lidera a lista, com US$ 8,8 bilhões, seguido pelo norte-americano JPMorgan Chase (US$ 7,9 bilhões), Citigroup (US$ 7,8 bilhões) e o canadense Scotiabank (US$ 6,9 bilhões). Mas há também bancos nacionais no top 20 do financiamento sujo: o Itaú Unibanco e o BTG Pactual, integrantes da NZBA.

Apesar de algumas instituições financeiras terem adotado políticas para proteger a Amazônia, os pesquisadores destacam que essas medidas são pouco eficazes, já que não restringem o financiamento em nível corporativo para empresas ativas na região. Uma das beneficiárias desses recursos, por exemplo, foi a Petrobras, que pleiteia a licença do IBAMA para explorar petróleo no bloco FZA-M-59, na Foz do Amazonas, e que já opera instalações de combustíveis fósseis no meio da Floresta Amazônica.

Continue lendo

Assine Nossa Newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Justiça climática

Nesta sessão, você saberá mais sobre racismo ambiental, justiça climática e as correlações entre gênero e clima. Compreenderá também como esses temas são transversais a tudo o que é relacionado às mudanças climáticas.
2 Aulas — 1h Total
Iniciar