
“Pedidos múltiplos, promessas mais limitadas”, disse o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, quando perguntado sobre financiamento climático nas primeiras conversas na Pré-COP, evento preparatório para a conferência que terminou ontem (14/10) em Brasília. “A cada três palavras, uma era financiamento”, contou um observador do encontro ao Capital Reset.
A reunião não integra o calendário oficial da Convenção do Clima (UNFCCC), mas tem sido realizada nos últimos anos pelos países-sede da conferência para antecipar negociações da agenda. Como o Brasil ambiciona fazer a “COP da Implementação”, Corrêa do Lago destacou a importância da Pré-COP para minimizar ruídos. Mas como implementar depende de dinheiro, era inevitável que os planos para desatar o nó do financiamento dominassem os debates.
Mas o que se viu no 1º dia do evento, segundo o Estadão, foi desconfiança. Um atraso de agenda postergou a reunião sobre o “Mapa do Caminho de Baku a Belém para 1,3 trilhão de dólares”. A reunião foi a última do dia, com uma apresentação breve sobre o documento e, depois, uma apresentação do economista e professor da Universidade Columbia, José Alexandre Scheinkman, com ideias sobre o tema. Mas não houve espaço para que os países se manifestassem sobre o financiamento, o que frustrou alguns observadores.
Scheinkman coordena o conselho de economistas criado pela presidência brasileira da COP30 para assessorar a elaboração do mapa de Baku a Belém. Em entrevista, ele criticou os green bonds e alertou sobre os limites da engenharia financeira para financiar a agenda do clima. O especialista defendeu o financiamento catalítico, como o programa Eco Invest Brasil, e apresentou uma proposta de US$ 130 bilhões para descarbonizar a geração de eletricidade em países emergentes, à exceção da China, em 10 anos, segundo a Exame.
Pessoas que acompanharam a reunião entre ministros de Estado no 1º dia da Pré-COP disseram à Folha que os discursos repetiram a velha história na qual países de economias menores demandam mais recursos – e não são atendidos pelas nações ricas, que ficaram em silêncio, informa O Globo. Mas, apesar disso, houve um destaque inédito para o tema da adaptação.
Um grupo de 41 organizações da sociedade civil entregou ao presidente da COP30 uma carta pedindo que o financiamento para adaptação seja triplicado. Segundo a ONU, essa área tem a maior lacuna de recursos climáticos, superando R$ 2 trilhões.
Na sessão ministerial, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, classificou como “urgente” a reformulação do sistema global de financiamento climático, de acordo com O Globo e Vero Notícias. Marina defendeu a simplificação do acesso aos recursos e a priorização dos investimentos para as populações mais vulneráveis. Para ela, que destacou que o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) e o regime de Redução das Emissões Provenientes do Desmatamento e da Degradação Florestal (REDD+) podem contribuir nesse esforço para CNN e Exame, enfrentar a emergência climática é também um desafio de “natureza ética”, destaca a Revista Fórum.
Secretário-executivo da UNFCCC, Simon Stiell disse aos delegados na Pré-COP que houve avanços na agenda climática, mas que eles não foram uniformes, segundo Valor e Folha. Ele reforçou que “as economias estão mudando, mesmo de maneira desigual, com os mais vulneráveis lutando para acompanhar o ritmo”. Ou seja, falta dinheiro.
Participando por vídeo, Laurent Fabius, presidente da COP21, a que gerou o Acordo de Paris, citou as ideias do presidente Lula de criar um conselho sobre mudança climática ligado à Assembleia Geral da ONU e reformar a arquitetura financeira global para incentivar fluxos que descarbonizem as economias, informa o Valor. Ele preside um dos quatro círculos criados pela presidência da COP30 – o dos presidentes das COPs passadas.
Sumaúma, Agência Brasil, CBN e Valor também repercutiram a Pré-COP.
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Em tempo 1: Foi lançada na Pré-COP uma aliança estratégica entre Brasil, Japão, Índia e Itália cuja meta é quadruplicar globalmente a produção e o uso de combustíveis sustentáveis, informam Veja, eixos, Jota e Bloomberg Línea. Segundo o diretor do Departamento de Energia do Itamaraty, João Marcos Paes Leme, alguns países europeus manifestaram interesse, mas ainda não aderiram formalmente. A intenção é mobilizar adesões até a COP30.
Em tempo 2: Até 2ª feira (13/10), apenas 62 dos 197 países signatários do Acordo de Paris tinham submetido suas metas climáticas (NDCs) à ONU, informa O Globo. Com grandes emissores ainda em dívida, como a União Europeia e a Índia, as promessas entregues cobrem apenas 31% das emissões de efeito estufa globais.
Em tempo 3: Um grupo de indígenas protestou na 3ª feira (14/10), no segundo dia da Pré-COP, em frente ao Centro de Convenções Internacionais do Brasil (CICB), em Brasília, reivindicando a demarcação de Terras Indígenas no país, segundo o Poder 360. No dia anterior, cerca de 200 indígenas de diferentes regiões participaram de uma passeata em defesa da demarcação, informa ((o))eco, que teve como destino final o prédio do Ministério da Justiça.



