
A instalação de um data center em Caucaia, na região metropolitana de Fortaleza (CE), é contestada por diversas entidades e comunidades indígenas do entorno. Eles citam que o empreendimento demandará uma potência de 210 megawatts (MW) de eletricidade, com expansão prevista para 300 MW – o que, em pleno funcionamento, corresponde ao consumo diário de 2,2 milhões de pessoas, seis vezes mais do que a população da cidade.
O data center será construído no complexo portuário do Pecém pela brasileira Casa dos Ventos, em parceria com a ByteDance, controladora do TikTok, informa o UOL. O empreendimento já recebeu autorização do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e licença prévia da Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (SEMACE).
Em agosto, organizações da sociedade civil e indígenas enviaram ao Ministério Público Federal (MPF) um dossiê questionando pontos do relatório ambiental simplificado do data center, pontuando que os Povos que vivem próximos à obra não foram consultados. Eles também denunciam que o governo cearense garante água para empresas e indústrias, enquanto muitas famílias na região dependem de caminhões-pipa e cisternas, segundo o Intercept.
Para as entidades, o projeto teve um enquadramento equivocado, ao ser considerado como uma obra de “construção civil” e de “utilidade pública”. Isso tirou do empreendimento a obrigatoriedade do Estudo de Impacto Ambiental e do Relatório de Impacto Ambiental (EIA-RIMA).
Além disso, a SEMACE autorizou a Casa dos Ventos a desmatar um trecho da Área de Preservação Permanente (APP) do Lagamar do Cauípe para construir uma ponte de 38 metros sobre um curso d’água. Para justificar a obra como de utilidade pública, o órgão ambiental enquadrou o data center como uma infraestrutura de telecomunicações.
“A lei é clara ao restringir o enquadramento, que não se aplica a um data center que não presta serviço público nem se destina à oferta de telecomunicações. O TikTok vai prestar o mesmo serviço que Claro, Vivo, TIM? Não. Portanto, não deveria justificar a intervenção em uma Área de Preservação Permanente”, reforça Luã Cruz, coordenador de Telecomunicações e Direitos Digitais do Instituto de Defesa dos Consumidores (IDEC), também no Intercept.
Apesar do conflito hídrico e do impacto sobre comunidades locais e sobre o meio ambiente, o local foi escolhido pelo fato da região receber cabos de fibra óptica internacionais. Além disso, o Ceará é um dos maiores produtores de energia eólica e solar do país, sem falar nos projetos que ainda poderão sair do papel.
Em Fortaleza, foi inaugurado na última 5ª feira (23) o maior data center do Nordeste, com potência de 20 MW – ou seja, menos de 10% da energia mínima prevista para o projeto do TikTok. O Big Lobster é o terceiro da Tecto Data Centers somente na capital cearense, detalham Diário do Nordeste e TV Brasil.
O Ceará é tido pelo governo como um estado prioritário para a infraestrutura digital no país, e Fortaleza se tornou um hub tecnológico, disse o ministro das Comunicações, Frederico de Siqueira Filho, na inauguração. Ele também anunciou a estruturação da Política Nacional de Data Centers. Hoje, o Brasil ocupa a 12ª posição no ranking global, com 195 instalações em 17 estados.
O conflito com o consumo energético e hídrico de data centers não é exclusivo de Fortaleza e do Ceará. O problema é inerente a esses empreendimentos. Uma investigação denuncia a estratégia da Amazon para manter em sigilo o consumo total de água dos seus data centers, os maiores do mundo, de forma a não prejudicar sua reputação. A investigação aponta que a empresa consumiu 105 bilhões de galões (400 bilhões de litros) de água em 2021 – o equivalente ao abastecimento de 958 mil casas nos Estados Unidos, destaca o Olhar Digital.
Em tempo: O preço da conta de luz em locais próximos de data centers subiu até 267% em cinco anos nos EUA, e especialistas alertam que pode ocorrer o mesmo no Brasil. O consumo elétrico aumentou após a instalação de unidades de processamento gráfico (GPUs) da Nvidia nos servidores. Esses componentes eletrônicos processam muito mais dados, ao custo de gastar mais energia e dissipar mais calor, explica a Folha.



