
O aumento das temperaturas globais está matando uma pessoa por minuto em todo o mundo. Somente na América Latina, a mortalidade relacionada ao calor duplicou desde os anos 1990, e o risco de incêndios florestais aumentou 25%. Todas são tragédias causadas pelas mudanças climáticas. Ou pior: pela inação em freá-las.
Os dados são da 9ª edição do Lancet Countdown, relatório anual da prestigiada revista médica The Lancet que analisa o impacto das mudanças climáticas na saúde pública no mundo. O estudo é elaborado por 128 especialistas globais e é produzido em colaboração com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O documento diz que a dependência global em combustíveis fósseis causa poluição tóxica do ar, incêndios florestais e a disseminação de doenças como a dengue, e milhões morrem pela incapacidade de se combater o aquecimento global, informa o Guardian. Segundo o relatório, os danos à saúde irão piorar com líderes como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, revogando políticas climáticas e petrolíferas explorando novas reservas – caso da Petrobras na Foz do Amazonas.
Os pesquisadores mostram que os governos em todo o mundo deram US$ 2,5 bilhões por dia em subsídios diretos para empresas de combustíveis fósseis em 2023. Mesma quantia que foi perdida pelas pessoas por causa das altas temperaturas, que as impediram de trabalhar em fazendas e canteiros de obras.
A América Latina registrou um custo médio anual de US$ 855 milhões (mais de R$ 4,5 bilhões) por mortes em decorrência do aumento de temperaturas entre 2015 e 2024, um valor 229% mais alto do que nos 10 anos anteriores, explica a Folha. Segundo o estudo, são 13 mil mortes por ano na região por causa do calor – o número de mortes no Brasil não foi divulgado.
Aqui, temperaturas médias recordes, secas prolongadas e poluição atmosférica já custam bilhões em perdas econômicas e milhares de vidas a cada ano. Segundo o levantamento, mais de 63 mil brasileiros morrem anualmente devido à poluição do ar, sendo 24 mil dessas mortes diretamente ligadas à queima de petróleo, gás e carvão, informa o CicloVivo.
Na Índia, o número de mortes pela poluição do ar são mais impressionantes, mesmo considerando que a população indiana é quase sete vezes maior que a brasileira. O relatório indica que mais de 1,7 milhão de pessoas morreu no país asiático em 2022 devido à exposição ao particulado PM 2,5, destaca o Down to Earth. São quase 27 vezes as mortes registradas no Brasil.
Como amplamente documentado há anos, os impactos das mudanças climáticas na saúde recaem desproporcionalmente sobre os países mais pobres, que são os que menos contribuíram para a crise climática. Enquanto isso, observa-se uma reversão global nas respostas governamentais e corporativas à crise, de acordo com o Inside Climate News.
Os pesquisadores constataram que o percentual de governos que mencionaram a relação entre saúde e mudanças climáticas em declarações na Assembleia Geral anual da ONU caiu de 62% em 2021 para 30% em 2024, sendo os maiores emissores os principais responsáveis por essa perda de engajamento.
“Os atrasos na implementação de ações climáticas estão custando cada vez mais vidas e meios de subsistência. Estamos vendo milhões de mortes que ocorrem desnecessariamente todos os anos por causa de nossa persistente dependência de combustíveis fósseis e de nossa demora em mitigar as mudanças climáticas e nos adaptar a elas”, disse Marina Romanello, cientista biomédica e diretora executiva do Lancet Countdown.
Barrons, Cenário Energia, The Hindu, Veja Saúde, Business Standard e EcoDebate também repercutiram o novo relatório.
Em tempo: Os super-ricos dos EUA estão emitindo diariamente, 4.000 vezes mais do que os 10% mais pobres do mundo. Esses bilionários, que representam os 0,1% mais ricos da população estadunidense, também estão reduzindo o espaço climático seguro do nosso planeta a uma taxa 183 vezes maior que a média global. Os dados, produzidos pela Oxfam e pelo Instituto Ambiental de Estocolmo antes da COP30, destacam o abismo entre os super-ricos, grandes consumidores de carbono e principais responsáveis pela crise climática, e os pobres, vulneráveis ao calor, que sofrem as piores consequências. Os 0,1% mais ricos emitem, em média, 2,2 toneladas de CO2 por dia, o equivalente ao peso de um rinoceronte ou de um SUV. Já um cidadão da Somália emite apenas 82 gramas de CO2 por dia, o que equivale à massa de um único tomate ou meia xícara de arroz, destaca o Guardian.



