
A Petrobras começou a perfurar o poço exploratório de combustíveis fósseis na Foz do Amazonas no mesmo dia em que recebeu a licença do IBAMA para a atividade. A petrolífera divulgou imagens mostrando o início da perfuração como se fosse um troféu. E anunciou que suas operações na região não vão parar por aí.
A diretora de exploração e produção da Petrobras, Sylvia dos Anjos, disse na OTC Brasil na 4ª feira (29/10) que a empresa priorizará a perfuração de poços exploratórios de petróleo e gás no Amapá, diante do ritmo mais lento de se criar uma sequência de atividades, por aspectos financeiros e ambientais, informa o Valor. Além do Bloco 59, a petrolífera tem processos de licenciamento abertos no IBAMA para outras cinco áreas na Foz do Amazonas.
Sylvia exibiu no evento imagens do início da perfuração no Bloco 59, informam O Globo e g1. O poço, batizado de Morpho pela Petrobras, está localizado a cerca de 175 km de Oiapoque, no norte amapaense. A atividade deve durar cinco meses, de acordo com a empresa.
“Essa imagem é da broca esperando a licença. Todo mundo estava esperando (na Petrobras). No dia em que a licença saiu, a sala que acompanha a atividade lotou. E quando a broca encostou no fundo, foi uma festa. Parecia que a gente tinha ganho a Copa do Mundo. Olha o momento”, disse a diretora, apontando para o vídeo, mostrado pel’O Globo, em sua palestra. Se para a Petrobras foi ganhar a Copa, para o clima e o meio ambiente foi como tomar uma goleada de 7 a 1 da Alemanha, diria a Central da COP, do Observatório do Clima.
O processo de licenciamento do poço da Petrobras no Bloco 59 tem quase 1.300 documentos e milhares de páginas. Eles agora estão integralmente disponíveis para consulta, segundo ((o))eco. Geralmente, o Sistema Eletrônico de Informações (SEI) do IBAMA permite apenas a visualização de dados básicos. Desta vez, no entanto, todo o material pode ser acessado livremente, sem necessidade de cadastro.
A licença do IBAMA é alvo de uma ação judicial promovida por organizações da sociedade civil, ação que agora tem o Ministério Público Federal (MPF) como um dos autores. Mas, além disso, o MPF enviou diversos ofícios ao órgão ambiental requisitando esclarecimentos e a não flexibilização de regras para a emissão da autorização. As cobranças apontam para o que o Ministério Público considera uma ampliação indevida do projeto e um afrouxamento das medidas de controle ambiental.
Enquanto isso, o presidente Lula voltou a defender a exploração da Foz do Amazonas, informam Folha e O Globo. Segundo Lula, o país vive uma “celeuma” em torno do tema, mas “não é possível ninguém abrir mão do combustível fóssil do dia para a noite” (Frente a esta fala de Lula, nossa redação pergunta: Então, presidente, vamos começar em qual dia e terminar em qual noite?)
Ninguém em sã consciência propõe abandonar os combustíveis fósseis de uma hora para outra, apesar da urgência climática exigir isso. Mas isso não significa explorar uma nova bacia de petróleo e gás em regiões de altíssima sensibilidade ambiental como a Foz. Nem deixar de estabelecer um cronograma para a transição energética justa, com a substituição gradual dos combustíveis fósseis por fontes renováveis e alternativas de baixo carbono. Foi, inclusive, o que Lula disse em seu discurso na cúpula de líderes da COP28 em 2023.



