
O presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, lançou no fim de semana suas nona e décima cartas sobre a Conferência e as expectativas de resultados diante da urgência climática. Com as negociações iniciando hoje e se estendendo oficialmente até o dia 21 de novembro, ele novamente conclamou as partes à ação e reforçou a necessidade de fortalecer o multilateralismo.
Corrêa do Lago chama os países a transformar Belém em “um ciclo de ação” no enfrentamento da crise climática global, destaca a Carta Capital. Na 10ª carta, divulgada ontem (9/11), o diplomata faz um resumo das missivas anteriores e ressalta que o processo de mudança deve acontecer conjuntamente.
“A COP30 pode marcar o momento em que a Humanidade recomeça, restaurando nossa aliança com o planeta e entre gerações. Somos privilegiados por ter sido destinado a nós o dever de fazer história como aqueles que escolheram a coragem em vez da omissão, para virar o jogo na luta climática. Devemos abraçar esse privilégio como responsabilidade – pelas pessoas que amamos, pelas gerações que vieram antes e pelas que ainda virão”, afirmou.
No carta anterior, publicada no sábado (8/11), Corrêa do Lago lembra do “mutirão global” proposto pela presidência brasileira da conferência na busca de soluções para conter as mudanças climáticas. A carta, segundo ele, trata “do desafio decisivo de manter vivo o objetivo de 1,5 °C”, acordado no Acordo de Paris, há 10 anos. E “responde à urgência climática por meio da aceleração da implementação e do fortalecimento da cooperação internacional”.
O presidente da COP30 faz um apelo para que os investimentos para conter a crise climática sejam intensificados e concentrados, e afirma que “múltiplos pontos de inflexão podem desencadear transformações em cadeia e que se reforçam mutuamente”, informa a Folha. “Embora a janela de oportunidade esteja se estreitando, manter vivo o objetivo de 1,5 °C ainda é possível – desde que a cooperação internacional seja direcionada para catalisar círculos virtuosos de transformação acelerada”, afirma.
Falando em dinheiro, a carta destaca a necessidade de ampliação do financiamento climático, que vem travando as negociações nas últimas COPs, sobretudo em razão da resistência dos países ricos em atender à demanda das nações em desenvolvimento. Mas Corrêa do Lago ressalta que o “Mapa do Caminho de Baku a Belém”, elaborado por Brasil e Azerbaijão, propõe uma série de novidades financeiras e mostra formas para o mundo conseguir mobilizar os US$ 1,3 trilhões anuais necessários.
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Em tempo 1: Dos 195 signatários do Acordo de Paris, apenas 79 entregaram suas novas metas climáticas (NDCs) até o início da COP30, representando 64% das emissões globais de gases de efeito estufa, segundo a plataforma Climate Watch. Uma das lacunas é a Índia, o que deixa os diplomatas no escuro sobre o que pretende o 3º maior emissor do mundo. A União Europeia, outro grande emissor, só entregou sua meta há cinco dias, lembra a Folha.
Em tempo 2: O presidente Lula propôs um “mapa do caminho” para o fim dos combustíveis fósseis, mesmo admitindo a contradição da exploração de petróleo e gás fóssil na Amazônia. Para o presidente da conferência, André Corrêa do Lago, não só a proposta deve ser debatida em Belém, como o Brasil deve liderar o debate, por ser um dos maiores produtores de petróleo do mundo, segundo a Folha. "O Brasil é um país fóssil, não há dúvida, e de certa forma isso nos dá uma posição muito especial para falar sobre o tema. Mas também somos campeões em renováveis e na agricultura. Somos campeões em florestas. Queremos ser campeões em todas essas áreas. Portanto, acho que talvez seja o lugar certo para discutir isso", afirmou.
Em tempo 3: Lançar um “mapa do caminho” para acabar com os combustíveis fósseis é fantástico, mas a ideia resistirá aos lobistas da indústria de petróleo, gás e carvão? Uma pesquisa compartilhada com Guardian e reproduzida pel’O Globo revelou que os cerca de 5.350 lobistas desse setor tiveram acesso às COPs do clima nos últimos quatro anos. Esses lobistas que interagiram com líderes mundiais e negociadores climáticos nesse período trabalharam para pelo menos 859 organizações ligadas a combustíveis fósseis, incluindo grupos comerciais, fundações e 180 empresas de petróleo, gás e carvão envolvidas em todas as etapas da cadeia de suprimentos, da exploração e produção à distribuição e aos equipamentos. A análise foi feita pela Kick Big Polluters Out (KBPO), coalizão de 450 organizações que tentam impedir que a indústria de combustíveis fósseis bloqueie e atrase a ação climática global.



