
Eliminar a exploração e o consumo de petróleo, gás fóssil e carvão é cortar pela raiz o principal mal causador da crise climática. Petrolíferas, com seus caixas cheios de dinheiro que financia a desinformação sobre o clima, acionistas felizes com tantos dividendos e governos negacionistas como o de Donald Trump tentam dizer o contrário, mas não há outro caminho para ficarmos no teto de 1,5oC do Acordo de Paris. A ciência mostra – e comprova – isso há mais de 50 anos, e não há mentira impulsionada em redes sociais capaz de mudar o diagnóstico.
Apesar disso, o transitioning away incluído no Balanço Global (GST) da COP28 em 2023, e desaparecido no ano seguinte em Baku na COP29, não foi convidado para Belém. Mas, surpreendentemente, tornou-se uma “celebridade” de última hora na capital paraense, quando o presidente Lula convocou os países a criarem na COP30 um “mapa do caminho” para acabar com os combustíveis fósseis.
É verdade que esse convidado chegou sem hospedagem: não estava na agenda oficial, e diante de temas espinhosos como financiamento e adaptação, parecia impossível que ganhasse holofotes. Mas com a sinalização de Lula, a presidência da COP30, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o governo da Colômbia – o primeiro país da Amazônia a banir a exploração de petróleo e gás em sua parte do bioma – e outras nações começaram a se movimentar para arrumar um quarto para o “forasteiro”.
Em poucos dias, a eliminação dos combustíveis fósseis deixou de ser “penetra” na conferência do clima e ganhou tração. Como bem definiu Thais Folego, do Capital Reset, o tema, que chegou a Belém como “azarão”, virou trending topic na Zona Azul. Apesar do eterno nariz torto dos petroestados para o tema, liderados pela Arábia Saudita.
Agora, com a COP30 entrando na sua reta final, este necessário lugar de destaque precisa ser garantido. Ainda mais após o reforço do “Funeral dos combustíveis fósseis” na histórica Marcha dos Povos pelo Clima, que levou cerca de 70 mil pessoas nas ruas de Belém no sábado. O funeral foi idealizado pela Aliança Potência Energética Latino-Americana há meses, quando era remota a possibilidade de tratar o tema na conferência do clima. Mas os sinais dados dias antes mudaram essa perspectiva.
“Essa é a mensagem que a COP precisa ouvir. Os cientistas já disseram que não tem como resolver a questão climática se não acabarmos com os combustíveis fósseis. É física, não dá pra negociar”, explicou João Talocchi, um dos organizadores do funeral.
Aparentemente, a COP ouviu a mensagem. Mas na “COP da Implementação”, ouvir não é suficiente. É fundamental que a conferência de Belém termine com uma proposta efetiva para que os países tracem rotas para acabar com petróleo, gás e carvão. E que avance em uma transição energética justa, que garanta energia renovável [já disponível e cada vez mais barata que as opções fósseis] a todos e leve em conta a requalificação profissional de quem hoje depende da indústria de combustíveis fósseis como fonte de renda.
E a grande vantagem deste “funeral” é que petróleo, gás e carvão já estão enterrados. É só mantê-los como estão, para evitar que milhares de pessoas morram anualmente, em todos os cantos do mundo, em decorrência da poluição atmosférica e dos eventos climáticos extremos causados por sua exploração e queima.



