
No Brasil, a agropecuária é a 2ª maior fonte de emissões de gases de efeito estufa, mostra o Sistema de Estimativa de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) do Observatório do Clima. Por mais que a bancada ruralista e as grandes corporações do agronegócio tentem negar, o setor é parte relevante do agravamento das mudanças climáticas. No entanto, além de não assumir a parte que lhe cabe no latifúndio da crise climática, ainda é beneficiado pelas medidas para remediar os efeitos das mudanças do clima.
É o que mostra um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), feito em parceria com o Ministério do Planejamento. Segundo o levantamento, a agropecuária fica com 73% dos recursos do Orçamento federal destinados a medidas de adaptação climática, destaca a Folha.
A dominância do agro nos recursos é um dos gráficos apresentados no documento. Depois, ficaram ações ligadas a recursos hídricos (com iniciativas como construção ou gerenciamento de sistemas de controle de enchentes e drenagem, por exemplo), com 13%. Biodiversidade, que reúne proteção do solo e da paisagem, ficou com 7%. E a gestão de riscos e desastres recebeu apenas 6%.
Infelizmente, este não é o único desajuste na distribuição de recursos relacionados ao clima no país. A Folha mostra que o volume de recursos destinados ao enfrentamento às mudanças climáticas no Brasil aumentou 157% entre 2019 e 2023, quando alcançou US$ 67,8 bilhões (cerca de R$ 360 bilhões). Grande parte dos recursos, porém, é direcionada ao setor de energia.
Os dados são de um estudo da Climate Policy Initiative (CPI), da PUC-Rio. O CPI mostra que 44% dos recursos aportados com financiamento climático no biênio 2022/2023 foram para projetos de geração de energia. A agricultura e o uso da terra, que lideram as emissões no país, também tiveram crescimento, mas grande parte do valor refere-se a crédito rural via bancos comerciais, que é alinhado ao clima, mas nem sempre tem resultados ou é bem fiscalizado.
Há dinheiro mal distribuído e há falta dele aqui e em outros países em desenvolvimento. Um relatório do BID, produzido em parceria com a consultoria de riscos Marsh McLennan, aponta um déficit anual de financiamento para adaptação climática na América Latina e no Caribe estimado em US$ 47 bilhões (quase R$ 250 bilhões) até 2035.
Segundo o documento, esse é o valor que seria necessário para os países da região implementarem integralmente seus Planos Nacionais de Adaptação à Mudança do Clima (NAPs, sigla em Inglês), informa o Valor. Porém, os recursos continuam fragmentados e insuficientes, dependendo fortemente de gastos públicos que, normalmente, são realizados após o desastre ter ocorrido.
A conta do clima só faz aumentar diante da lentidão de governos e empresas em enfrentar as mudanças climáticas. Um estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) indica que a inação diante da crise do clima pode custar o equivalente a até 33% do PIB combinado do Brasil e de outros países da bacia amazônica no acumulado até 2070, segundo a Folha. O levantamento foi feito em parceria com o Ministério da Gestão e Inovação.
Em tempo: Um retrato simbólico do agronegócio brasileiro, descrito pela Repórter Brasil: a fumaça de uma churrasqueira modesta invadia todo o salão fechado da Agrizone, pavilhão do setor que integra a programação oficial da COP30. Homens, quase todos brancos e muitos usando chapéu, seguravam marmitinhas de papel com picanha, arroz carreteiro, feijão tropeiro, farinha e vinagrete. Entre eles, de chapéu de palha, estava Silvério Fernandes, madeireiro ligado a diversos conflitos agrários em Anapu e Altamira, no Pará, e denunciado pela missionária Dorothy Stang por ameaça em 2002, três anos antes de seu assassinato. Na noite de 2ª feira (17/11), Silvério estava na primeira fila da plateia durante a cerimônia que antecedeu o churrasco promovido pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), parte do Dia da Pecuária Sustentável dentro da Agrizone. Depois, circulou entre dirigentes, políticos e empresários.



