COP30 terá que “escolher entre proteger a vida ou a indústria de combustíveis fósseis”, dizem cientistas

Grupo critica menção fraca ao “roadmap” no 1º rascunho do texto final da COP30; “Não é um workshop ou uma reunião ministerial", afirmam.
20 de novembro de 2025
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Planetary Science Pavilion/COP30

Os cientistas do pavilhão Planetary Science da COP30, liderados por Carlos Nobre e Johan Rockström, lançaram um comunicado na 4ª feira (19/11) com um alerta categórico: a conferência de Belém precisa entregar algum avanço concreto em relação ao Mapa do Caminho para o afastamento de petróleo, gás fóssil e carvão. “A COP30 tem uma escolha a fazer: proteger as pessoas e a vida ou proteger a indústria de combustíveis fósseis”, diz o documento.

A carta reforça que o mundo já enfrenta perigos climáticos, com bilhões de pessoas sofrendo e pontos de inflexão planetários avançando rapidamente, como vem ocorrendo na Amazônia e em sistemas recifais de corais tropicais, entre outros. Com 75% das emissões provenientes da queima de combustíveis fósseis, os cientistas clamam por um plano bem-estruturado, conta o Valor.

“Um ‘roadmap’ não é um workshop ou uma reunião ministerial. É um plano de trabalho real, que precisa nos mostrar o caminho, de onde estamos e para onde precisamos chegar. E como chegar lá”, reforça o documento, assinado também por Fatima Denton, da United Nations University (UNU); Marina Hirota, do Instituto Serrapilheira; Paulo Artaxo, da USP; Piers Forster, da University of Leeds; e Thelma Krug, presidente do Conselho Científico da COP30.

A crítica faz referência ao 1º rascunho do texto final da COP30, divulgado pela presidência da conferência na manhã de 3ª feira (18/11), no qual é possível observar divergências de delegados. Em uma parte do rascunho, é sugerido que o “roadmap” para eliminar petróleo, gás e carvão comece convocando uma reunião ministerial depois da conferência.

No The Conversation, Paulo Artaxo reforça que o que está em jogo vai além da crise climática: “Trata-se da construção de um novo modelo de civilização […] O modelo socioeconômico atual, que nos trouxe até aqui, mostra claros sinais de esgotamento”. À Veja, o cientista expôs o “interesse geopolítico de curtíssimo prazo” e a resistência de países produtores de combustíveis fósseis, que “defendem o petróleo ao infinito, não importa o que aconteça com 7 bilhões de pessoas”. Para ele, se a COP30 entregar o roadmap, pode se tornar a conferência climática“mais importante desde Paris”.

O debate, porém, seguia intenso. A Agência Pública traz uma fala da CEO da conferência de Belém, Ana Toni, sobre o assunto: “A grande maioria dos grupos com quem conversamos confirma que isso é uma ‘red line’ [algo inegociável] para eles. Seja porque parte desses grupos não quer esse tipo de linguagem sobre combustíveis fósseis, seja porque não quer mais nenhuma obrigação adicional de ter que fazer coisas. Muitos países em desenvolvimento chegam a dizer que isso é uma obrigação extra”.

A China é um exemplo. Mesmo liderando a expansão de fontes renováveis no mundo, o país defende que um mapa de transição dos combustíveis fósseis não é aceitável para nações em desenvolvimento. O governo chinês quer seguir investindo pesadamente em energias renováveis, mas sem reduzir, por enquanto, petróleo, gás e carvão, informam UOL e Guardian.

Ainda assim, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, acredita em um consenso. De um lado, os países produtores de combustíveis fósseis precisam reconhecer a ascensão da energia renovável; de outro, países ricos precisam fornecer garantias de financiamento, mas sem necessidade de “pôr mais dinheiro”. “Não precisamos de dinheiro público dos países desenvolvidos. Precisamos alavancar mais dólares com cada dólar que já possuímos”, disse ao Guardian.

“Eles podem oferecer não apenas mais recursos em bancos, em bancos multinacionais de desenvolvimento; investir mais dinheiro público em fundos como o Fundo Verde para o Clima ou o Fundo Global para o Meio Ambiente, mas também há um número crescente de alternativas, como a troca de dívida por Natureza e outros [instrumentos]”, exemplificou o diplomata.

Valor e TN também repercutiram as negociações sobre o Mapa do Caminho. 

  • Em tempo: A intensificação da exploração na Foz do Amazonas, em outras bacias da Margem Equatorial e também na bacia de Pelotas colide com os compromissos climáticos do Brasil, destaca a ex-presidente do IBAMA e coordenadora de Políticas Públicas do Observatório do Clima, Suely Araújo, em entrevista para a Revista Cenarium. Suely lembra o óbvio, mas que alas do governo que defendem a exploração “até a última gota” fingem não ver: não existe petróleo “sustentável” e não se pode aceitar que o país passe de 7º para 5º no ranking de produção mundial de petróleo, como, pasmem, o governo planeja.

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