Anúncios de petroleiras crescem 218% no Google Ads na véspera da COP30

Empresas fósseis investem em greenwashing digital globalmente antes da Conferência do Clima começar em Belém; Petrobras puxa salto de 2.900% de anúncios no Brasil.
20 de novembro de 2025
Montagem imagem Petrobras e COP30/Divulgação

Anúncios de petroleiras no Google Ads em todo o mundo deram um salto nas vésperas da COP30, que acontece em Belém (PA). Eles cresceram 218% em outubro em comparação a setembro de 2025, segundo análise feita pelo CAAD (Climate Action Against Desinformation), o Centro de Comunicação sobre o Clima e Ciência de Dados da Universidade de Exeter (C3DS, na sigla em inglês) e o Instituto Climainfo.

O trabalho considera oito empresas de grande presença no mercado publicitário digital, que juntas responderam a 70% dos anúncios feitos via Google Ads nos dez primeiros meses do ano: BP, Equinor, ExxonMobil, Petrobras, Repsol, Saudi Aramco, Shell e TotalEnergies. Elas passaram de 1.939 inserções em setembro, uma média de 64 por dia, para 6.384 em outubro, ou uma média de 206 por dia. 

Saudi Aramco apresenta a maior presença digital, com 2.220 anúncios em outubro, um crescimento de 469% em relação ao mês anterior. Em seguida, vêm a TotalEnergies, com 532 anúncios (106% de aumento) e a ExxonMobil, com 268 anúncios (156%). O maior salto foi registrado pela BP: 1.369% entre os dois meses, uma vez que partiu de uma base mais baixa, de 13 para 191 anúncios. 

O Google Ads lidera o mercado global de pay-per-click (PCC) e compõe um ecossistema de comunicação no qual empresas de petróleo buscam expandir sua influência política e social e, dessa forma, continuar suas operações. A queima do petróleo e de outros combustíveis fósseis é a principal causa das mudanças climáticas. 

“A indústria de combustíveis fósseis é fundamentalmente diferente das demais: ela enganou o público sobre as mudanças climáticas por décadas, é a maior responsável pelas mudanças climáticas e ativamente obstrui a ação climática” afirma Florencia Lujani, cofundadora do ACT Climate Labs. “Agências e veículos de mídia não deveriam trabalhar com clientes de combustíveis fósseis, pois nenhuma outra indústria combina esse impacto climático direto tão único com greenwashing e ameaças à integridade da informação nessa escala.”

“As petrolíferas intensificaram sua presença no Google Ads justamente nos meses que antecedem a COP30. Elas sabem que este é um momento decisivo, em que os países definirão os próximos passos da transição energética. Por isso, é fundamental que os países aproveitem este momento estratégico para desenhar e aprovar um mapa do caminho rumo ao fim dos combustíveis fósseis”, afirma a pesquisadora do Climainfo, Renata Albuquerque Ribeiro, que fez a análise. 

Um dos objetivos da Presidência brasileira na COP30 é obter um “mapa do caminho” para que os países diminuam gradualmente sua dependência de combustíveis fósseis. A proposta apresenta resistência de economias amplamente dependentes dessas fontes, como países árabes.

Além da estratégia de comunicação, as petroleiras também fazem o corpo-a-corpo. Estudo da Transparência Internacional indica como o setor influencia nas negociações sobre o combate à crise climática. Na COP30, um em cada quatro participantes é um lobista dos combustíveis fósseis, de acordo com a organização Kick-Out Big Polluters

“Todo ano as grandes petroleiras gastam rios de dinheiro em greenwashing e desinformação, e passou da hora de agentes políticos deixarem as plataformas digitais como o Google enriquecerem com mentiras”, diz Philip Newell, do CAAD.

Brasil

O maior aumento é observado no ambiente digital brasileiro: de janeiro a outubro, o crescimento de anúncios das oito empresas no país foi de 2.900%. 

A Petrobras puxou a fila, sendo que 80% de suas inserções aconteceram a partir de julho, quando lançou uma campanha publicitária promovendo sua imagem como  “líder na transição justa no Brasil”.

A narrativa busca promover a imagem da empresa em um ano politicamente sensível, marcado por debates sobre descarbonização, exploração de petróleo na Amazônia e a credibilidade internacional do Brasil antes da COP30. 

A despeito da campanha publicitária, a empresa historicamente é responsável pela maior parte dos incidentes envolvendo petróleo no país: uma média de 5,5 por dia entre 2012 e 2023, segundo registros mantidos pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

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