
A Cúpula de Líderes do G20, grupo das 20 maiores economias do mundo, foi realizada pela primeira vez no continente africano e terminou ontem (23/11), em Joanesburgo, na África do Sul. Além do marco histórico, houve o ineditismo da declaração final de líderes ser lançada já no início das reuniões, no sábado. O documento não teve participação dos Estados Unidos, que boicotaram o encontro, e incluiu temas que contrariam seu presidente, Donald Trump, como o combate às mudanças climáticas e o fortalecimento do multilateralismo.
Autoridades sul-africanas afirmaram que o governo Trump pressionou a África do Sul para que o país não adotasse uma declaração conjunta dos líderes na ausência de uma delegação estadunidense, explica o AfricaNews. Contudo, no início da semana passada, o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, foi categórico: “Não nos deixaremos intimidar”. E não se intimidou.
O documento de 122 pontos instou a uma ação global mais incisiva em questões que afetam mais os países pobres, como desastres relacionados ao clima e níveis de dívida soberana. E foi promovido pelo país anfitrião como uma vitória para a primeira cúpula do G20 realizada na África, destaca a AP.
A declaração enfatizou a gravidade das mudanças climáticas. Destacou que o aumento de eventos extremos afeta de forma desproporcional as pessoas em situações de vulnerabilidade, exacerbando a pobreza e a desigualdade. E afirmou que o nível de endividamento é um dos obstáculos ao crescimento inclusivo em muitas economias em desenvolvimento, detalha a Al Jazeera.
Em seu discurso na 1ª sessão do encontro dos líderes do G20, o presidente Lula defendeu que países em desenvolvimento possam abater suas dívidas em troca de iniciativas de combate e adaptação à crise climática, segundo a Folha. “O custo do pagamento do serviço da dívida dos países em desenvolvimento aumentou para US$ 1,4 trilhão por ano. É mais do que o valor que o Plano de Ação de Baku a Belém tenta mobilizar para a ação climática.”
O “roadmap” para obter os US$ 1,3 trilhão anuais em financiamento climático não foi a única referência do presidente brasileiro à COP30. Em seu discurso na 2a sessão, Lula abordou o mapa do caminho para o fim dos combustíveis fósseis, proposto por ele na conferência em Belém, mas que ficou fora do texto final. E conclamou os países do G20 a liderarem o processo, informa o g1.
“Entramos agora numa nova etapa, que exigirá esforço simultâneo em duas frentes: acelerar as ações de enfrentamento da mudança clima e nos preparar para uma nova realidade climática. O G20 cumpre papel central em ambas. O grupo responde por 77% das emissões globais. É do G20 que um novo modelo de economia deve emergir. O grupo é um ator-chave na elaboração de um mapa do caminho para afastar o mundo dos combustíveis fósseis”, disse Lula.
E continuou: “A COP30 mostrou que o mundo precisa enfrentar esse debate. A semente dessa proposta foi plantada e irá frutificar mais cedo ou mais tarde. A mudança do clima não é uma simples questão de política ambiental. É, sobretudo, um desafio de planejamento econômico. As prioridades estão invertidas. É inconcebível que não sejamos capazes de mobilizar 1 trilhão e 300 bilhões de dólares em financiamento climático, enquanto o dobro desse montante é consumido por despesas militares.”
No fim do encontro, Ramaphosa reforçou que a declaração final refletiu um “compromisso renovado com a cooperação multilateral”, segundo a Reuters. E como agora os EUA assumem a presidência rotativa do G20, a África do Sul deveria transmitir o cargo. Mas, como Trump não apareceu, os sul-africanos rejeitaram a proposta estadunidense de enviar um funcionário da embaixada para a cerimônia de transição no lugar do “agente laranja”, considerando-a uma violação de protocolo.
A cúpula do G20 e os discursos de Lula no encontro também foram noticiados por O Globo, Carta Capital, O Globo e Folha.
Em tempo: O primeiro-ministro da Alemanha, Friedrich Merz, disse a Lula que não teve a intenção de ofender Belém e os brasileiros ao expressar alívio por retornar ao seu país depois da COP30. Merz, porém, não chegou a se desculpar pela declaração (xenofóbica e eurocêntrica), informa a Folha. O premiê e o presidente brasileiro tiveram um encontro bilateral de pouco mais de meia hora durante a cúpula do G20, em Joanesburgo, na África do Sul, no sábado (22/11).



