
“Numa COP, todo mundo é lobista. Até os governos estão aqui defendendo seus interesses.” A frase, que de forma falaciosa compara laranjas com bananas, saiu da boca de um lobista, claro, quando questionado sobre a presença ostensiva de empresas e entidades empresariais na COP30. Foi dita por Roberto Ardenghy, presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás (IBP), que tem a Petrobras como uma de suas associadas, entre outras companhias do setor petrolífero.
A COP30 teve intensa participação de corporações, muitas de setores com alto nível de emissões de gases de efeito estufa, como o de petróleo e gás. A alta cúpula da Petrobras não esteve em Belém – certamente para fugir de protestos contra a exploração do bloco FZA-M-59, na Foz do Amazonas. Mas uma análise da Kick Big Polluters Out (KBPO) mostrou que mais de 1,6 mil lobistas dos combustíveis fósseis conseguiram se credenciar para a conferência.
O debate sobre a presença dessas empresas na COP30 esquentou ainda mais porque muitas delas tiveram acesso a reuniões estratégicas, lembra a Folha. Estavam na lista de indicados pelo governo brasileiro para circulação em áreas de acesso restrito representantes do IBP, da Petrobras, da estadunidense ExxonMobil, da refinaria Acelen, da Braskem e da empresa de gás fóssil Eneva, além de membros de indústrias químicas e do agronegócio, como a gigante JBS.
Também havia nomes de outros segmentos econômicos, como mineração, energia e financeiro. “Essa dinâmica cria um ambiente desigual, no qual interesses privados organizados podem interferir nas decisões que deveriam priorizar o clima e as pessoas”, diz Renato Morgado, da Transparência Internacional – Brasil.
Estudioso das relações entre público e privado, o pesquisador e professor do Insper Sérgio Lazzarini está fazendo um levantamento para analisar como e por que o setor empresarial se movimenta na agenda ambiental e climática, e como isso pode influenciar a política pública. Lazzarini diz que já identificou algumas tendências.
Setores exportadores, como o agronegócio, estão preocupados em entender como podem ser boicotados e quanto isso vai custar, explica o pesquisador. Por sua vez, a mineração tem fala consistente em defesa do meio ambiente e da transição, mas as práticas ainda não confirmam o discurso, analisa ele, como mostram os desastres de Mariana e Brumadinho.
Para Lazzarini, o setor de petróleo e gás exige mais cautela. E surpreendendo zero pessoas, sua agenda é atrasar a transição energética. A mesma que a Petrobras diz liderar “de forma justa”. Essas empresas têm grande poder de lobby. A ausência do mapa do caminho para eliminar os combustíveis fósseis da “Declaração de Mutirão” de Belém é apenas mais uma prova disso.



