Presidente do IBAMA vê risco de “guerra de flexibilizações” entre estados com PL da Devastação

Segundo Rodrigo Agostinho, defensores do projeto propagam desinformação; PL pode impactar no aumento do desmatamento e insegurança jurídica.
1 de dezembro de 2025
Ibama Rodrigo Agostinho
Divulgação

A derrubada de 56 dos 63 vetos do presidente Lula ao PL da Devastação por deputados e senadores abre caminho para uma “guerra de flexibilizações” de leis ambientais entre estados e municípios para atrair empreendimentos. A avaliação é do presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho.

Além de impactos diretos, como o aumento do desmatamento e de licenciamentos precarizados – por serem autodeclaratórios -, Agostinho avalia os impactos indiretos da derrubada dos vetos n’O Globo. Um deles é a possibilidade de estados e municípios estabelecerem regras cada vez mais flexíveis para empreendimentos cujo licenciamento é de responsabilidade desses entes federativos.

“Um determinado governador pode falar: ‘venha para cá, que aqui te dou a licença no mesmo dia’. Com isso, pode haver migrações de atividade industrial ou econômica de um lugar para o outro, pela facilidade de se obter uma licença”, explica o chefe do IBAMA.

Como o Jornal do Estado destaca, cresce também o risco de insegurança jurídica. “Se eu fosse um empresário e estivesse investindo, não gostaria de ter uma licença precária para o meu estabelecimento”, afirma o presidente do IBAMA.

Quanto ao argumento de que o texto agiliza projetos de interesse econômico do país, como justificado pelos defensores do PL, Agostinho afirma que a retórica carrega desinformação. “Não se agiliza licenciamento ambiental mexendo na regulação. O problema geral, que acaba por causar a demora no processo, costuma ser a baixa qualidade de projetos e estudos. O Brasil tem uma produção muito ruim do ponto de vista de engenharia, da qualidade do projeto de obra parada”, ressalta.

Quem defende o PL da Devastação também fala em impactos sobre a atividade agropecuária no país que, lembra Agostinho, é exercida por cinco milhões de proprietários. Mas isso não é, como muitos defendem, benéfico. Como lembra a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) na CBN, a derrubada dos vetos pode afetar o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.

Marina reforça que, em vez de agilidade, a derrubada dos vetos de Lula provocará um processo de judicialização generalizado. “Imagina, cada estado, cada município faz uma lei para o licenciamento. Um vai flexibilizar para poder concorrer, atrair. É a competição pelo caminho de baixo'”, afirma.

Ambientalistas protestaram no domingo (30/11) em sete estados (PA, SP, PI, MA, MG, AL, RN) e no Distrito Federal contra o PL da Devastação, informa a Folha. Para diversas organizações da sociedade civil, o projeto não responde a demandas sociais e atende apenas a interesses econômicos. Os protestos tiveram como motes  “Congresso inimigo do povo e do meio ambiente” e “Não à lei da devastação”.Organizações ambientais e científicas já demonstraram – e demonstram há meses – preocupação com a nova norma. Afirmam se tratar de um retrocesso histórico e se articulam para ir à Justiça contra o PL.

Continue lendo

Assine Nossa Newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Justiça climática

Nesta sessão, você saberá mais sobre racismo ambiental, justiça climática e as correlações entre gênero e clima. Compreenderá também como esses temas são transversais a tudo o que é relacionado às mudanças climáticas.
2 Aulas — 1h Total
Iniciar