O que precisa acontecer após a COP30, na visão de Marina Silva

“A realidade mostra que não há mais tempo, e mantemos apenas o básico como se ainda tivéssemos muito tempo”, lamenta Marina sobre ação climática.
5 de dezembro de 2025
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Reprodução / TV Cultura

Poucas pessoas lutaram tanto pela COP30 em Belém como a ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima). Nascida e criada na Amazônia, Marina esperava que a realização da Conferência do Clima na capital paraense inspirasse os negociadores a irem além do básico no esforço coletivo contra a crise climática. No entanto, como ela deixou evidente em seu discurso emocionado na plenária final da COP, os governos não conseguiram entregar aquilo que se sonhava há três décadas, quando o clima virou um tema de discussão global.

“Olhando para o que elas [participantes da Rio-92, quando a Convenção da ONU sobre Mudança do Clima foi assinada] sonharam, só temos uma conclusão: a de que sonhamos, no passado, com mais e chegamos 30 anos depois fazendo menos do que sonhamos”, afirmou Marina em entrevista a Jonathan Watts na Sumaúma e no Guardian. “Mas o que nos dá esperança é que, ao longo desses 30 anos, conseguimos manter a conectividade entre o sonho e a ação”.

O balanço da COP30 segue esse raciocínio. Para Marina, a Conferência de Belém poderia ter entregue mais: por exemplo, os “mapas do caminho” contra os combustíveis fósseis e o desmatamento, propostos pelo presidente Lula e motivo de tensão entre os países até o final das negociações, não entraram nas decisões do “Pacote de Belém”. As demandas dos países em desenvolvimento por mais financiamento climático também seguem desassistidas. Mas a COP30 conseguiu colocar a energia fóssil no centro do debate político sobre o clima.

“Acho que a COP30 na Amazônia foi, ao mesmo tempo, o lugar da denúncia e da inflexão de uma resposta. Pela primeira vez, pautamos, de forma clara e transparente – no esforço do governo brasileiro, na pessoa do presidente Lula – (…) a ideia de uma transição justa e planejada para sair da dependência do uso de combustíveis fósseis. Reconhecemos que o resultado ainda não foi suficiente, mas também devemos reconhecer que o que foi colocado na mesa é a resposta pela qual deveríamos estar trabalhando nos últimos 30 anos”, disse Marina.

Os impasses diplomáticos seguem sendo um obstáculo importante para o avanço da ação climática global. Essas dificuldades não estão isoladas do contexto político atual, marcado pela desconfiança entre os países e por uma descrença no multilateralismo. Mas, para a ministra, o problema a ser enfrentado é mais profundo, no nível dos valores: o mundo que gasta bilhões em armamentos e guerras para matar pessoas é o mesmo mundo que diz que não há dinheiro suficiente para reverter a crise climática e salvar vidas.

“Algo está errado. E não está errado apenas com a dinâmica do multilateralismo. Está errado com os valores éticos que orientam nossas decisões. Recentemente, nos mobilizamos para enfrentar o problema da COVID-19. Por que somos capazes de fazer isso quando apenas o mal já está instalado? Por que não temos a mesma capacidade de fazer isso quando o problema foi detectado e comprovado?”, pontuou.

Um Só Planeta repercutiu a entrevista de Marina Silva.

  • Em tempo: Na Folha, Caetano Scannavino (Projeto Saúde & Alegria) também fez um balanço da COP30. Para ele, as negociações em Belém escancararam o que já era conhecido: os países mais poderosos, supostos “líderes globais”, não estão se importando com o futuro da Humanidade. Enquanto os atores políticos se omitem, quem deu a cara à tapa na COP30 foi a sociedade civil, especialmente das nações em desenvolvimento. “Foi do Sul Global, da mobilização das organizações e movimentos sociais que emergiram pautas de verdade, onde clima não é só carbono. É também justiça social, direitos, reparação aos afrodescendentes, reconhecimento dos Povos Indígenas e Tradicionais como parte da solução. Sem social, não tem ambiental”, destacou.

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