
Confirmando as suspeitas, a União Europeia recuou na 3ª feira (16/12) da proibição de novos carros a gasolina e diesel, que entraria em vigor em 2035 e era vista como um marco na luta contra as mudanças climáticas, destaca o Le Monde. Em tese, a flexibilização visa fortalecer o setor automotivo europeu, que enfrenta uma grave crise. Mas seu resultado prático para o clima é mais emissões.
Pela legislação que entrou em vigor em 2023, as montadoras seriam obrigadas a garantir que 100% da produção de carros e vans no bloco tivesse emissões zero a partir de 2035 — o que representaria o fim de veículos a motor a combustão e movidos a combustíveis fósseis. Agora, a Comissão Europeia propôs reduzir esse percentual para 90%, permitindo a continuidade da fabricação de uma parcela de carros elétricos híbridos plug-in, ou mesmo de carros com motores de combustão interna, após 2035, explica o Guardian.
Em uma abordagem de incentivos e sanções, os 10% restantes da produção da linha de montagem que não são neutros em carbono precisarão ser compensados por outras medidas ecológicas no chão de fábrica. Isso inclui o uso de aço verde fabricado na Europa ou de biocombustíveis em veículos não elétricos.
A flexibilização se dá após uma forte pressão da indústria automobilística da UE e também de países-membros do bloco, como Alemanha e Itália. O chanceler alemão Friedrich Merz liderou os argumentos contra a proibição de motores a combustão a partir de 2035, citando a fraca demanda por veículos elétricos na Europa e o domínio das montadoras chinesas nesse segmento, informa a Deutsche Welle.
Merz afirmou que a mudança de posição de Bruxelas ocorreu após um “sinal claro” de Berlim. “Maior abertura à tecnologia e maior flexibilidade são os passos certos a dar para melhor alinhar as metas climáticas, as realidades do mercado, as empresas e os empregos”, disse o “xenófobo de Belém”.
Com o afrouxamento das regras, as montadoras europeias poderão reduzir o ritmo de lançamento de VEs. Com isso, segundo a Bloomberg, a UE se alinha mais estreitamente aos EUA, onde o Trump está revogando os padrões de eficiência para carros estabelecidos pelo governo de Joe Biden.
Apesar de atender a uma demanda da indústria automobilística, as fabricantes do bloco ficaram divididas quanto à flexibilização, de acordo com a Reuters. A mais vocal contra o recuo europeu é a sueca Volvo Cars. “A flexibilização dos compromissos de longo prazo em prol de ganhos de curto prazo corre o risco de comprometer a competitividade da Europa nos próximos anos. Um quadro político consistente e ambicioso, bem como investimentos em infraestrutura pública, é o que trará benefícios reais para os consumidores, para o clima e para a força industrial da Europa”, disse a montadora.
Business Green, Wall Street Journal, BBC e The Times também repercutiram o recuo europeu na proibição de veículos a combustível fóssil.
Em tempo: O recuo dos EUA e da Europa quanto aos carros elétricos dá às montadoras chinesas mais oportunidade de consolidar sua liderança na transição para longe dos motores de combustão interna, destaca a Bloomberg. Um dia antes do anúncio da Comissão Europeia, a Ford informou que registraria US$ 19,5 bilhões em encargos relacionados ao desmonte de grande parte de sua estratégia de VEs. Uma lacuna que as fabricantes da China podem preencher, com empresas como BYD e Xiaomi avançando rapidamente em tecnologia embarcada, sistemas avançados de assistência ao motorista e carregamento ultrarrápido, fortalecendo ainda mais sua posição como principais produtoras de veículos elétricos.



