Mineração no fundo do mar pode reduzir biodiversidade, mostra estudo

Estudos mostram o potencial da atividade de matar de fome a cadeia alimentar; o mar profundo é surpreendentemente abundante e diverso.
18 de dezembro de 2025
mineração fundo do mar biodiversidade
Nature Ecology & Evolution (2025)

Um novo estudo publicado na revista Nature Ecology and Evolution mostra que a mineração industrial no fundo do mar pode reduzir a abundância e a diversidade de pequenos animais nas profundezas do Oceano Pacífico. Curiosamente, a pesquisa foi financiada pela The Metals Company, empresa que busca ser a primeira a realizar mineração comercial no fundo do oceano.

Pesquisadores do Museu de História Natural de Londres analisaram o fundo do mar da Zona de Fratura de Clipperton, área entre o Havaí e o México, antes e depois de um teste de mineração. E observaram que o número de vermes, minúsculos crustáceos e outros pequenos animais no trajeto do veículo de mineração caiu 37%. A variedade das criaturas também diminuiu em 32%.

A zona é alvo de mineração devido aos nódulos, do tamanho de batatas, que contêm metais como níquel, cobalto, cobre e manganês — matérias-primas usadas principalmente para fins militares e também na indústria de energia renovável.

Antes, cientistas presumiam que havia pouca vida no fundo do mar, por conta das condições extremas. Mas pesquisas recentes têm mostrado que a vida nessa região é abundante e diversa.

No estudo em questão, por exemplo, foram descritas 788 espécies de macrofauna, destaca o New York Times, em matéria traduzida pela Folha. “Na verdade, mostramos apenas uma proporção minúscula do mar profundo”, disse Eva Stewart, estudante de doutorado e autora principal da pesquisa. “Pode haver milhares de espécies esperando para serem descobertas.”

Cerca de 30% dos pequenos animais do fundo do mar estão diretamente associados aos nódulos ricos em minerais. Além disso, durante um teste, a The Metals Company liberou o excesso de sedimento a 1.200 metros abaixo das ondas, o que causou a diluição do suprimento de alimento do zooplâncton e de pequenas lulas. Isso poderia “matar de fome a cadeia alimentar”, afirmou Michael Dowd, estudante de doutorado na Universidade do Havaí. “Esses animais também servem de alimento para predadores de topo que mergulham profundamente e são importantes para a pesca comercial, como a do atum”, completou.

Mais de uma dúzia de países possuem licenças na ONU para explorar mais de 1 milhão de km² do fundo do mar profundo em todo o mundo. Em abril, o negacionista Donald Trump emitiu uma ordem executiva para acelerar a mineração comercial dessa região, instruindo o governo a emitir licenças em águas nacionais e internacionais. A ação foi criticada por contornar o processo da ONU.

Por ora, a Agência Internacional dos Fundos Marinhos ainda não aprovou a mineração comercial. No entanto, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA) está revisando o pedido de licença da The Metals Company.

Ambientalistas e cientistas dizem que não se sabe o suficiente sobre o ambiente e os danos potenciais para permitir a mineração industrial do fundo do mar. Quase 40 países pediram moratória ou proibição da atividade.

  • Em tempo: Em terra, um exemplo de extração irresponsável de minerais raros ocorre no Vale do Jequitinhonha (MG). A Agência Pública conta o caso de moradores de uma comunidade colada a uma mina de lítio explorada pela Sigma Lithium entre Araçuaí e Itinga, que temem que o teto caia sobre suas cabeças. A atividade de detonação que ocorre há anos causou rachaduras nas casas. Como sempre, a chegada do empreendimento foi anunciada como um vetor de royalties, que levariam ao desenvolvimento da comunidade. No entanto, a oferta de emprego, a renda e a qualidade de vida só se deterioraram.

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