
Os plásticos colocam em risco a saúde humana e planetária em todas as fases do seu ciclo de vida.
Desde a extração da matéria-prima, o petróleo, até o descarte majoritariamente incorreto no meio ambiente, estimam-se perdas econômicas globais relacionadas à saúde acima de US$ 1,5 trilhão (R$ 6,33 trilhões) anuais. E esses impactos à saúde afetam desproporcionalmente as populações de baixa renda e em situação de risco.
A ciência reconhece o potencial de danos à saúde humana dos plásticos desde a década de 1970. Micro e nanoplásticos estão onipresentes na terra, ar e água, e são encontrados em espécies marinhas e terrestres do mundo todo. No corpo humano, estudos já os detectaram no sangue, leite materno, fígado, placenta, pulmão, cérebro, coração e rins.
A maioria dos danos à saúde associados aos plásticos se deve aos aditivos químicos utilizados na sua produção, como monômeros e catalisadores, lubrificantes, corantes e retardantes de chama.
A exposição humana a estes produtos químicos é extensa. Aqui segue uma lista delas:
Bebês e Crianças
A exposição de bebês e crianças pequenas ao plástico começa já no útero. O contato materno com os plásticos está associado a riscos aumentados de aborto espontâneo, prematuridade, natimorte, baixo peso ao nascer e defeitos congênitos nos órgãos reprodutivos, comprometimento do neurodesenvolvimento, comprometimento do crescimento pulmonar e câncer infantil.
O contato gera uma série de danos à saúde da criança que perduram para a vida, como redução da fertilidade humana e o aumento dos riscos de doenças crônicas não transmissíveis, como câncer, diabetes e doenças cardiovasculares.
Trabalhadores da indústria
Trabalhadores da indústria do plástico estão expostos a uma ampla gama de produtos químicos tóxicos, incluindo agentes cancerígenos, como benzeno, 1,3-butadieno, formaldeído, cloreto de vinila e poeiras perigosas em suspensão no ar, que podem levar a doenças e morte prematura. Estudos também demonstram alto risco de lesões traumáticas.
Uma análise da Comissão Minderoo-Mônaco estimou, de forma conservadora, que aproximadamente 32 mil mortes prematuras ocorreram globalmente entre trabalhadores da indústria de plástico em 2015, somente no setor de produção, resultando em custos econômicos anuais relacionados à saúde de US$ 40 milhões (R$ 220 milhões).
A região onde a indústria está instalada também é afetada, pois a produção de plástico causa poluição da água, do solo e do ar. Na lista de emissões, estão, por exemplo, material particulado (PM2,5), ftalatos, dióxido de enxofre e óxidos de nitrogênio.
Plástico na comida
O contato do plástico com o alimento é uma fonte importante de exposição humana. Recipientes de alimentos, garrafas e sachês, bolsas de comida para bebês, utensílios de mesa e equipamentos de processamento podem liberar produtos químicos plásticos diretamente em alimentos e bebidas.
Uma revisão de 947 estudos sobre materiais plásticos em contato com alimentos encontrou 1.481 de 3.696 produtos químicos liberados em alimentos sob condições específicas. Mais de 1.396 produtos químicos liberados pelos plásticos em contato com alimentos foram detectados em humanos de todas as idades.
Resíduos plásticos e doenças transmitidas por vetores
Os resíduos plásticos contribuem para a disseminação global e a amplificação de doenças infecciosas transmitidas por vetores, como dengue, zika e chikungunya. Globalmente, menos de 10% do plástico é reciclado, e no Brasil, o número cai para menos de 2%.
Os mosquitos Aedes Aegypti se adaptaram para depositar seus ovos em recipientes artificiais, como garrafas plásticas, recipientes, pneus e sacolas descartáveis. A urbanização desordenada e a gestão limitada de resíduos no contexto das mudanças climáticas globais podem ter contribuído para o forte aumento da dengue observado nas últimas décadas.
A necessidade de intervenções
Em resposta aos danos cada vez mais visíveis causados por plásticos, os governos começaram a agir lentamente em nível global e nacional. No Brasil, por exemplo, o projeto de lei 2524/2022, hoje parado no Senado, estabelece regras para a economia circular do plástico que buscam limitar a produção e prevenir a geração de resíduos de produtos plásticos de uso único.
O processo de construção do Tratado Global de Não-Proliferação dos Plásticos promovido pela ONU busca, também, reduzir a produção e consumo de plásticos, restringir o uso de substâncias químicas nocivas na sua produção e regulamentar e monitorar a produção do produto. A 2ª parte da 5ª rodada de negociações do tratado acontece em Genebra de 5 a 14 de agosto de 2025.




