QUEIMADAS EXPLODEM NA AMAZÔNIA
E O PIOR AINDA ESTÁ POR VIR

A temporada de queimadas, que teve início em junho e vai até novembro, já chegou com tudo na Amazônia brasileira. O primeiro mês registrou o maior número de focos de incêndio desde 2007 – 2.911 focos de incêndio na região Norte.

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DESMATAMENTO E QUEIMADAS:
DOIS LADOS DA MESMA MOEDA

As queimadas estão intimamente relacionadas ao desmatamento ocorrido anteriormente, uma vez que, após a derrubada da floresta e a retirada de árvores com valor comercial, o que resta da vegetação destruída é deixado no solo para secar. A última etapa, realizada por quem literalmente “risca o fósforo”, envolve queimar essa matéria orgânica e “limpar” terrenos para lavouras e pastagens.

Quando o desmatamento é alto em um ano, o fogo vai correr solto no ano seguinte. E os dados apontam que, em 2022, o desmatamento ganhou escala industrial, com o aumento do uso de equipamentos, tratores e correntões (correntes de aço e ferro que, atadas em dois tratores, avançam sobre a mata nativa e vão derrubando árvores centenárias e tudo o que estiver pela frente).

HERANÇA MALDITA

A área total desmatada em 2022, no Brasil, foi de 2.057.251 hectares, 22,3% maior do que a registrada no ano anterior. Isso equivale, em área, a quase o tamanho do estado do Sergipe. 90% dessa devastação concentrou-se nos biomas Amazônia e Cerrado.

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ÁREA TOTAL DESMATADA (HA)

O desmatamento cresceu em cinco dos seis biomas brasileiros em 2022, na comparação com 2021, exceto na Mata Atlântica.

Os maiores aumentos ocorreram na Amazônia (incremento de 190.433 ha) e no Cerrado (156.871 ha).

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da área desmatada em 2022 foi detectada na Amazônia e no Cerrado.

Fonte: Relatório Anual de Desmatamento do Brasil 2022

Conforme dados da Sala de Situação da Amazônia, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Mato Grosso liderou o número de queimadas no mês de junho – concentrando 65% dos focos de incêndio registrados no período (um total de 1890). A maior parte dessas queimadas (82%) ocorreu em áreas privadas; 12% em terras com questão fundiária indefinida; e 6% em Assentamentos Rurais e Terras Indígenas. O Pará foi o segundo estado com maior número de queimadas – 20% do total.

CINCO ESTADOS (PA, AM, MA, MT E BA)
CONCENTRAM MAIS DA METADE DA ÁREA DESMATADA
NO PAÍS EM 2022

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0 milhões de ha

Foi a área devastada pelo fogo no Brasil entre 1985 e 2022 – média de 16 milhões de hectares ao ano, ou seja, mais que três vezes o estado do Rio de Janeiro anualmente. A área total queimada equivale à soma dos territórios da Colômbia e do Chile, segundo o MapBiomas Fogo.

A IMPRESSÃO DIGITAL DA AGROPECUÁRIA

De acordo com o último Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD2022), produzido pelo Mapbiomas, desmatamentos maiores se tornaram mais frequentes no ano passado.


“A pressão agropecuária respondeu por 1.969.095 hectares de área desmatada, ou 95,7% do total de (...) supressão de vegetação nativa.”

RAD2022
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Os desmatamentos com mais de 100 ha representam

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[3.627 alertas] do total de eventos.

Isso representa um aumento de

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em relação a 2021.

Esses desmatamentos em grandes áreas respondem por

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do total desmatado no país.

(Fonte: RAD 2022)

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PROJEÇÕES INDICAM QUE O PIOR
AINDA ESTÁ POR VIR

Os impactos das queimadas tendem a piorar nos próximos meses. Junho representa o segundo mês de estação seca – o chamado “inverno amazônico” – na maior floresta tropical do planeta, porém, a estiagem, historicamente, se intensifica entre julho e outubro, como mostra essa matéria do ((o))eco, agravando ainda mais a prática de queimadas. Confira o gráfico do INPE elaborado com projeções baseadas na série histórica.

POR QUE O EL NIÑO DESTE ANO É O MAIS PREOCUPANTE?

Porque o fenômeno, que já está em curso, será responsável por uma ano bem mais seco do que o normal no Brasil, o que acrescenta mais uma camada de desafios para uma temporada de queimadas que sucede um ano de desmatamento alto. Essa matéria do Climainfo traz mais informações.

O El Niño é caracterizado pelo aquecimento das águas do oceano Pacífico. Associado ao agravamento da crise climática, está contribuindo para a quebra de recordes históricos de temperatura média global.

O mês de junho foi o mais quente dos últimos 30 anos, de acordo com o programa europeu Copernicus. Julho já registrou dois recordes de temperatura média global: 17,01 graus Celsius, no dia 3, e 17,18oC, no dia 4. Este ano é “candidato” a ser o mais quente da história.

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CONSTRUINDO SOLUÇÕES

Após anos de desmando e de incentivo à destruição florestal, por parte do governo Bolsonaro, o Governo Lula trabalha em duas frentes principais: a primeira, para reduzir o desmatamento neste e nos próximos anos; e a segunda, com investimentos na prevenção e no controle dos focos de incêndio.

No dia 6 de julho, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima anunciou que a curva do desmatamento já começou a ser revertida na Amazônia no primeiro semestre deste ano, segundo dados de alertas de desmatamento (Deter/INPE). Houve queda de 33,6% no desmatamento na comparação com 2021, após anos sucessivos de altas.

Segundo a ministra Marina Silva, isso ocorreu por motivos tangíveis – como recursos e investimentos em equipes e capacidades de implementação de políticas públicas, retomada de operações de comando e controle por parte do IBAMA e do ICMBio e retomada da governança e da política ambiental após o “apagão” da gestão anterior. “Mas ocorreu também por motivos intangíveis, como a decisão do presidente Lula de assumir a política ambiental como transversal (…) com enfrentamento das mudanças climáticas e do combate ao desmatamento até 2030”, afirmou.

Os esforços, entretanto, não foram suficientes para conter o avanço do desmatamento no Cerrado. Houve recorde de desmate naquele bioma, com crescimento de 21% na comparação com o igual período de 2021.
Em prevenção e controle de incêndios florestais, a forma de atuação mudou da água para o vinho na transição de governo (confira quadro). Diante das estimativas e dos riscos de uma temporada de queimadas intensa neste ano, por tudo já exposto, o fato é que ela poderia ser ainda pior se a gestão anterior tivesse ainda no comando do país.

PREVENÇÃO E CONTROLE DE INCÊNDIOS FLORESTAIS – 2022x2023
BOLSONARO (2022)
* Em setembro de 2022, no final da temporada de queimadas, apenas 37% do orçamento previsto para prevenção e controle de incêndios havia sido executado;

* Dos R$ 52,75 milhões previstos, tinha executado menos de R$ 19,50 milhões;

* 2022 teve alta de 41% da área destruída pelo fogo na Amazônia entre janeiro e julho (comparado com 2021);

* O mês de agosto foi o pior, em termos de queimadas, em 11 anos de medições do INPE.
Lula (2023)
* Orçamento do IBAMA para a Prevenção e Controle de Incêndios Florestais em Áreas Prioritárias passou de R$ 38 milhões para R$ 83 milhões;

* Orçamento do ICMBio para Fiscalização Ambiental e Prevenção e Combate a Incêndios Florestais passaram de R$ 70 milhões para R$ 114 milhões;

* Portaria do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA Nº 395, DE 3 DE MARÇO DE 2023) declarou estado de emergência ambiental em risco de incêndios florestais em diversos estados;

* Realização de concurso para a contratação de 1,3 mil servidores para atuar em brigadas de incêndio federais em ações de prevenção e combate no âmbito do PrevFogo.