ClimaInfo, 6 de dezembro de 2017

ClimaInfo mudanças climáticas

CERRADO PERDEU MAIS VEGETAÇÃO NATIVA QUE AMAZÔNIA ENTRE 2000 E 2015

Aos poucos o país acorda para o desmatamento do cerrado e suas consequências para o ciclo hidrológico, a degradação do solo e, mais recentemente, para a contaminação das águas pelos agentes químicos usados para controlar pragas e neutralizar a acidez do solo.

Um estudo de Tiago Reis, do IPAM, sobre o desmatamento no cerrado e na Amazônia mostra que, se em números absolutos a Amazônia perdeu mais cobertura nativa, o Cerrado vem perdendo bem mais rapidamente. Só no período de 2000 a 2015 se foram 11% da cobertura nativa.

Tiago deu uma entrevista cheia de informações e análises para o pessoal do Instituto Humanitas Unisinos. Vale a leitura.

http://www.ihu.unisinos.br/574079-em-15-anos-cerrado-perde-11-de-cobertura-vegetal-nativa-por-causa-do-desmatamento-entrevista-especial-com-tiago-reis

 

A IMPORTÂNCIA DA LUTA SOCIOAMBIENTAL DOS POVOS TRADICIONAIS

Na volta da COP23, Natalie Unterstell, Cassia Moraes e Fábio de Almeida Pinto escreveram para o Estadão sobre os povos tradicionais e a pressão ruralista e grileira sobre suas terras. Os autores lembram que o papel dos povos indígenas na preservação de suas terras é internacionalmente reconhecido com prêmios por livros e produtos certificados da floresta. Eles também destacam quilombolas e ribeirinhos, atores com papel semelhante. Em contrapartida, os autores listam uma série de assassinatos e ataques a estas populações, para a qual a impunidade dos seus agressores ainda é regra, por mais que se conheçam os mandantes. Os autores terminam citando o processo de consulta pública aberta pelo Fórum Brasileiro de Mudança do Clima, que reconhece a importância dessas populações e coloca como prioridade “combater a grilagem por meio da destinação de terras públicas devolutas em áreas já estudadas e/ou de prioridade imediata”.

http://sustentabilidade.estadao.com.br/blogs/mais-democracia-mais-sustentabilidade/a-importancia-da-luta-socioambiental-das-comunidades-indigenas-e-dos-povos-tradicionais/

 

OS MUNDURUKU CONTRA A FERROGRÃO

No final de novembro iniciou-se uma série de consultas públicas sobre o projeto da Ferrovia Ferrogrão que organizações da sociedade civil e o próprio ministério público tentaram impedir. O processo, como tantos outros, não consultou os povos indígenas cujas terras serão atravessadas pelos trens.

A Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), ratificada pelo Brasil, diz que os povos indígenas têm o direito a uma consulta livre e informada com explicações detalhadas dos impactos que poderão vir a sofrer. Esta consulta não foi feita e, pelas declarações dos responsáveis, também não será feita.

Nesta segunda, 90 pessoas do povo Munduruku bloquearam a entrada de mais uma rodada das audiências públicas sobre a Ferrogrão por não terem sido consultados. “Só vamos sair daqui quando nos disserem que a audiência não vai acontecer, se não disserem isso, não vamos sair daqui. Eles nunca consultaram nós. Temos um protocolo de consulta e eles não podem passar por cima dele. Por isso nós estamos aqui também”, explicou Valto Dace Munduruku, cacique da aldeia Dace Watpu, na Terra Indígena (TI) Sawré Muybu, uma das a serem atravessadas pela ferrovia.

Por outro lado, moradores das vilas ao longo da BR-163 circularam no final de semana um panfleto ameaçando interromper a estrada. Eles acham que perderão empregos e oportunidades quando o tráfego rodoviário diminuir por causa da ferrovia. Muitos defendem a não construção da ferrovia, como defenderam a grilagem de terras no Parque do Jamanxim. Só que, daquela vez, os ruralistas estavam do mesmo lado. Vai ser interessante acompanhar o desdobramento.

Por falar em desdobramento, o BNDES já avisou que vai dar um financiamento especial à Ferrovia, com uma carência maior e um prazo também maior. E o empréstimo pode chegar a 80% do custo de construção e posta em operação da ferrovia. E, se bobear, as traders de commodities agrícolas que querem construir a ferrovia ainda arrancarão uma TJLP subsidiada ao invés da TLP corrigida pela inflação.

http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&conteudo_id=9603&action=read

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,governo-vai-mudar-emprestimo-do-bndes-para-viabilizar-ferrograo,70002095419

 

GEORREFERENCIAMENTO DO CARBONO ESTOCADO E DA EXPANSÃO DA CANA-DE-AÇÚCAR

Um trabalho publicado na Geography and Environment e feito por pesquisadores da Universidade de Gotemburgo (Suécia), do INPE, da ESALQ, da Unicamp e do Imaflora construiu um mapa em alta resolução do conteúdo de carbono na vegetação acima do solo. O trabalho é de fundamental importância para os futuros inventários de emissões do país e, principalmente, para a definição, a execução e o monitoramento de políticas públicas que, alterando o uso do solo, alteram o carbono estocado. Até agora, existiam dados e mapas, mas principalmente cobrindo as áreas de florestas. O novo mapa coloca na mesma resolução o restante do território nacional.

Um outro trabalho publicado na Nature Climate Change por pesquisadores da Universidade de Illinois, da USP e da ESALQ traz, também usando a alta resolução proporcionada por mapas georreferenciados, a atual área ocupada pela cana-de-açúcar e analisa o estoque de terras disponíveis para o caso de uma eventual expansão da lavoura para atender a uma demanda crescente por etanol como combustível veicular. A mensagem principal do trabalho é que é possível expandir a produção de etanol sem que seja preciso derrubar um hectare de áreas protegidas, um dos questionamentos mais comuns que aparecem em discussões sobre biocombustíveis. O trabalho estima que seria possível produzir o equivalente a 10 milhões de barris de petróleo por dia até 2045, o que evitaria a emissão de mais de 10 GtCO2e (bilhões de toneladas de CO2 equivalente). Lembrando que a produção atual dos campos de petróleo nacionais é da ordem de 2,6 milhões de barris por dia.

http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/geo2.45/full

https://www.nature.com/articles/nclimate3410

 

PARA ONU MEIO AMBIENTE A POLUIÇÃO TEM SOLUÇÃO

No Valor Econômico, Daniela Chiaretti compartilha sua extensa entrevista com Erik Solheim, um dos arquitetos do Fundo Amazônia e atual diretor-executivo da ONU Ambiente, que esta semana realiza Assembleia em Nairobi com foco na poluição.  Além de destacar a relação com a mudança do clima e com a saúde pública, Solheim compartilha sua visão sobre como superar o problema – que vai desde relacionar a proteção ambiental com o que faz sentido para a sociedade, como a criação de empregos, e fortalecer o argumento econômico para o investimento em renováveis, até a defesa da ciência.  Para Solheim, se quisermos combater problemas ambientais no futuro teremos que ser guiados pela ciência e, no longo prazo, crescimento econômico e proteção ambiental no Brasil dependerão de ter bons cientistas.  Para ler o restante, clique no link abaixo:

http://www.valor.com.br/internacional/5217643/onu-destaca-poluicao-por-uso-excessivo-de-plasticos

 

JÁ PARA A PREFEITURA DE SÃO PAULO…

Em razão da Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente, foram antecipados ao Estadão os dados de uma pesquisa liderada pelo médico patologista Paulo Saldiva, da USP, que compara a exposição do paulistano à poluição do ar com os impactos do cigarro. Os resultados mostram que ao longo de 30 anos na capital, o pulmão de uma pessoa pode ficar igual ao de um fumante leve (que consome menos de dez cigarros por dia).  Os níveis de partículas finas inaláveis (material particulado ou MP 2,5) está na cidade 90% acima dos níveis seguros, que são de 10 microgramas/m³. A concentração média anual da cidade é de 19 microgramas/m³. A matéria também conta que a obesidade, um problema de saúde em geral pouco relacionado com a poluição, também está sendo observada pelo grupo de pesquisa do Laboratório de Poluição da USP. Diante desse cenário, a jornalista Giovana Girardi fez três perguntas para Débora Diogo, do Comitê de Mudanças Climáticas da Prefeitura de São Paulo. As respostas indicam que não há uma estratégia consistente para enfrentar o problema.

http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,respirar-ar-de-sp-por-2-horas-no-transito-e-igual-a-fumar-um-cigarro,70002108042

 

OS TANQUES DA VALE E A MUDANÇA DO CLIMA

No começo de dezembro, a Vale comunicou ao Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), do Espírito Santo, que um de seus tanques instalado na Praia Mole, em Serra na Grande Vitória, vazou e despejou efluentes direto no mar. O Iema constatou que os efluentes estão impregnados de minério de ferro, bentonita e calcário e que foram jogados no mar sem qualquer tratamento. Em nota à imprensa, a Vale contesta, informando que o material é inerte e havia passado pelo sistema de tratamento. Também garantiu que os efluentes foram lançados por um ponto licenciado pelo órgão ambiental e monitorado constantemente pela Vale.

O que chamou nossa atenção foi a justificativa para o vazamento: situações de chuva extrema (que haviam efetivamente ocorrido na região). Com 1,1oC a mais na temperatura média terrestre, o planeta já está sujeito a uma maior frequência de eventos climáticos extremos. E eles tendem a se tornar cada vez mais corriqueiros, já que empresas como a própria Vale têm minado esforços e negociações para descarbonizar a economia. Não seria o caso da empresa rever seus ativos para checar o quanto eles resistem à mudança do clima?

http://conexaoplaneta.com.br/blog/tanque-da-vale-vaza-e-polui-mar-do-espirito-santo-com-efluentes-toxicos/

 

OS MAIS POBRES PAGAM A CONTA DO FECHAMENTO DAS TÉRMICAS A CARVÃO NA CHINA

Para reduzir a poluição nas grandes cidades chinesas, o governo está trocando velhas térmicas a carvão por outras a gás mais eficientes e muito menos poluentes. Assim, Beijing está vendo os céus mais limpos dos últimos invernos. No entanto, vinte minutos ao sul, em Zhuozhou, a população, mais pobre do que na capital, está com frio. A demanda de gás aumentou exponencialmente puxando os preços para cima. Estima-se que um terço das casas está conectado à rede de gás, mas as demais estão à espera da instalação de fogões e aquecedores. O governo retirou e destruiu todos os equipamentos a carvão para evitar que continuem poluindo. Mesmo nas casas ligadas à rede de gás, é frequente que haja interrupções no fornecimento por conta da demanda aumentada. A região em torno de Beijing é sede de muitas siderúrgicas antigas e de outras mais modernas construídas na onda do crescimento de dois dígitos da década passada. Agora, o país tem sobrecapacidade de produção e o governo tem um programa para desligar as mais velhas. Mas mesmo as mais novas precisam queimar carvão para produzir aço. Assim, para combater a poluição, o governo aperta o cerco ao uso do carvão no resto da economia. Para sorte dos moradores de Beijing e azar, pelo menos nesse inverno, dos moradores de Zhuozhou.

https://www.theguardian.com/world/2017/dec/04/poor-bear-brunt-beijing-coal-cleanup-with-no-heating-at–6c

 

TESLA INAUGURA BANCO DE BATERIAS DE 100 MW NA AUSTRÁLIA

O mega visionário e empresário Elon Musk cumpriu mais uma de suas promessas. Há pouco mais de três meses tinha prometido montar uma estação de baterias com capacidade de 100 MW ou o suficiente para fornecer energia para 30 mil casas durante uma hora em caso de blackout. Na semana passada, no prazo, a estação foi ligada. A função principal da estação, no entanto, vai ser mais a de cobrir horas de menos vento no parque eólico de Hornsdale, no sul da Austrália.

https://www.theguardian.com/australia-news/2017/dec/01/south-australia-turns-on-teslas-100mw-battery-history-in-the-making

 

GRUPO ACOMPANHA A ADAPTAÇÃO OU NÃO DAS ÁRVORES À MUDANÇA DO CLIMA

Sob o título O Clima Mudou (Climate Changed), um artigo publicado na Medium conta dos impactos da mudança do clima nas árvores e como estas estão – ou não – se adaptando. E aqui se trata de observar árvores, mais que florestas. Uma das iniciativas, a ForestGEO (Forest Global Earth Observatory), do venerando Smithsonian Institute, acompanha cerca de 6 milhões de árvores de dez mil espécies diferentes em 65 florestas de 28 países. O efeito do aquecimento global mais presente são as secas. Os pesquisadores descobriram que as árvores maiores e mais velhas são mais vulneráveis às secas porque precisam bombear mais água até alturas maiores através de vasos menos flexíveis, o que consome muito mais energia do que árvores menores e mais jovens. Outra alteração que já observada está ligada a climas mais secos. Os incêndios florestais estão ficando mais fortes, destruindo boa parte da floresta. Antes, as florestas rebrotavam com renovado vigor, mas agora, com o clima mais seco, a que aparece é mais frágil do que antes. O artigo da Medium segue contando casos e eventos arbóreos. Leitura recomendável.

https://medium.com/@erinbiba_32960/climate-changed-5c6feba0ed3c

 

PLANO PARA EVITAR QUE O CHÃO AFUNDE

Muitas cidades nos litorais estão vendo o nível do mar subir e vão, na medida do possível, montando suas defesas. Mas algumas estão enfrentando um duplo problema: seus solos também estão afundando. Jacarta, a capital da Indonésia está afundando quase 17 cm por ano, o que dá um metro a cada seis anos. Construir muros altos para conter o mar já não adianta posto que os muros também afundam. Cidades que afundam não são um fenômeno restrito ao litoral. Partes da Cidade do México, por exemplo, chegaram a afundar um metro em um único ano. E a razão por trás dessa subsidência é o uso de água subterrânea pela população. Em megacidades como Jacarta e México, o consumo de água está drenando as regiões subterrâneas que, à medida que secam, vão cedendo enquanto tudo que está em cima afunda. O artigo da BBC conta histórias de como cidades ou áreas inteiras lidaram com o problema, umas proibindo a extração de água de determinados aquíferos, outras indo um passo além e montando esquemas para recarregá-los. Se o afundamento não é atribuível diretamente à mudança do clima, os moradores de Jacarta estão enfrentando marteladas pelos dois lados.

http://www.bbc.com/future/story/20171130-the-ambitious-plan-to-stop-the-ground-from-sinking

 

BARBUDA MORRE DEVASTADA PELOS FURACÕES IRMA E JOSÉ

A ilha de Barbuda tem 16 mil hectares, o tamanho de uma propriedade média da Amazônia brasileira. Em 2017, ela praticamente morreu enquanto habitat humano. Num espaço de dias, dois furacões, Irma (categoria 5) e José (categoria 4) atingiram a ilha com tudo. Irma matou um menino e destruiu 90% das propriedades. José terminou o serviço. Entre os dois, os 1.800 habitantes foram evacuados para a ilha vizinha de Antígua, onde havia mais proteção. Por algum tempo, o governo proibiu o retorno da população, com receio da água parada ter virado um paraíso para vermes e insetos transmissores. Mesmo agora, meses depois dos furacões, a ilha continua fantasmagoricamente deserta.

https://www.theguardian.com/global-development/2017/nov/20/the-night-barbuda-died-how-hurricane-irma-created-a-caribbean-ghost-town

 

VEREMOS CADA VEZ MAIS FURACÕES NO ATLÂNTICO NORTE

Fazia 50 anos que uma tempestade pós-furacão não atingia a Irlanda. Este ano, Ophelia chegou batendo recordes com a onda mais alta (19 metros) e a maior velocidade de vento já medida por lá. Ophelia também foi acusada de provocar os fortes ventos que passaram pelo norte de Portugal e Espanha, atiçando e espalhando incêndios florestais que mataram dezenas de pessoas. Os modelos climáticos vinham prevendo que o aquecimento das águas do Atlântico Norte acabaria criando as condições para o surgimento de furacões que, ao invés de se dirigirem em direção ao Caribe, acompanhariam a Corrente do Golfo e atingiriam o litoral oeste da Europa. A pergunta ainda sem resposta é o quão frequente e fortes serão estas tempestades.

http://www.ozy.com/fast-forward/hurricanes-have-a-new-target-the-north-atlantic/81815