ClimaInfo, 1º de novembro de 2017

ClimaInfo mudanças climáticas

VEM AÍ A COP23

Para começar a entender as negociações climáticas deste ano, nada melhor que ler o artigo que Dani Chiaretti escreveu para o Valor.

Ela comenta que a COP23, que será presidida por Fiji e sediada na Alemanha, acontece sobre um pano de fundo político importante: o anúncio feito por Trump da saída dos EUA do Acordo de Paris. As regras Acordo só permitem que os EUA saiam em outubro de 2020. Daí que muitos se preocupam com o comportamento dos negociadores daquele país em Bonn. Que orientação receberão da Casa Branca?

Com este problema importunando a todas as partes, a COP23 tem duas tarefas técnicas a cumprir: fechar o “Livro de Regras” sobre tudo o que foi acertado no Acordo de Paris – e que precisa ser regulamentado antes da COP24 que acontecerá na Polônia – e preparar o Diálogo Facilitador para 2018.

Segundo Mark Lutes, do WWF-Internacional, o “Livro de Regras” envolve definições sobre as regras de contabilidade, os processos de medição do desempenho dos países vis-à-vis suas metas climáticas, mecanismos de transparência e detalhes de funcionamento do mercado de carbono, entre outras questões técnicas e políticas. Lutes avalia que a definição sobre o funcionamento do mercado de carbono é o item mais distante de um acordo. Quanto à transparência, Lutes diz que “a base está lá, mas a grande questão é como se dará a diferenciação entre países com capacidades diferentes”.

Os financiamentos climáticos também estão em aberto. Os países ricos têm como compromisso mobilizar US$ 100 bilhões por ano para ajudar países em desenvolvimento a cortar emissões ou a se adaptar aos impactos.

O Diálogo Facilitador 2018 será um encontro para os países mostrarem até onde avançaram nos seus compromissos para 2020.

http://www.valor.com.br/internacional/5173138/cop-23-busca-avaliar-progresso-nas-metas-climaticas

 

COMO ANDA A IMPLANTAÇÃO DA POLÍTICA CLIMÁTICA BRASILEIRA?

O World Resources Institute Brasil divulgou ontem um relatório de monitoramento da implantação da política climática brasileira. Entre as principais observações, o WRI diz que a política “apresenta um planejamento estruturado de diretrizes e ações de mitigação e adaptação e arranjo institucional com clareza de papéis e responsabilidades. Todavia, em termos de execução, foram identificadas (…) importantes lacunas e oportunidades de aprimoramento na implementação dos instrumentos da política”.

O WRI sugere a “criação, pelo governo federal, de um sistema para monitorar a implementação da política climática”.

O relatório pode ser acessado no link abaixo.

http://wribrasil.org.br/pt/publication/monitoramento-da-implementacao-da-politica-climatica-brasileira

 

O ETANOL BRASILEIRO É FUNDAMENTAL PARA DESCARBONIZAR O TRANSPORTE

O etanol brasileiro pode fornecer energia equivalente a 3,6 milhões de barris de petróleo bruto por dia até 2045, podendo chegar a 12,8 milhões de barris/dia, reduzindo as emissões globais do setor de transporte em até 5,6%; isto tudo sem prejuízo da proteção de florestas, da alimentação da população e da produção de ração para animais. Estas são as conclusões de estudo divulgado em 23/10 pela revista científica Nature Climate Change.

Fernando Miguez, um dos autores do estudo, diz que “dos combustíveis líquidos renováveis ​​produzidos em escala, o etanol de cana-de-açúcar brasileiro é o mais sustentável e o maior compensador de emissões de carbono de combustíveis fósseis. O estudo mostra que o etanol do Brasil pode dar um passo importante para atingir os objetivos de mitigação estabelecidos do Acordo de Paris”.

Já faz um tempo que nos perguntamos aqui no ClimaInfo por que o setor não investe pesado em células de combustível a etanol? Com a palavra a Única e as demais associações de produtores.

Abaixo um link para um artigo do Observatório do Clima sobre o estudo e um link da Nature para o estudo.

https://www.nature.com/articles/nclimate3410

http://www.observatoriodoclima.eco.br/etanol-brasil-pode-resolver-o-problema-das-emissoes-de-co2-no-transporte-revela-estudo/

 

O RENOVABIO SEGUNDO A AGROÍCONE

Em artigo assinado por seu diretor geral, a Agroícone lembra que as metas assumidas pelo Brasil junto ao Acordo de Paris visam uma participação de 45% de fontes renováveis de energia na matriz energética brasileira, para a seguir perguntar se são factíveis de serem alcançadas – até 2030 – as participações de 18% de biocombustíveis e de entre 28% a 33% de renováveis, além da hidroeletricidade, com as políticas e o mercado de energia atuais.

A meta para 2030 equivale a 50 bilhões de litros de etanol, e “é inconcebível sem uma mudança política pragmática e de longo prazo”.

A Agroícone diz que o RenovaBio poderá pautar o ritmo dos investimentos, da inovação e da capacidade do país em liderar globalmente essa agenda.

O programa RenovaBio do governo federal quer aumentar a produção brasileira de etanol dos atuais 30 bilhões de litros por safra para 50 bilhões até 2030.

http://www.udop.com.br/noticia_impressa.php?cod=1157254

http://sna.agr.br/renova-bio-brasil-pretende-dobrar-producao-de-etanol-ate-2030-anuncia-governo/

 

PRÉ-SAL OU PRÉ-SOL?

Para questionar a privatização da Eletrobras, Roberto D’Araujo, diretor do Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Energético (Ilumina), faz uma comparação inusitada em artigo para o Valor.

A comparação: no pré-sal, uma área de aproximadamente 150 km2 pode produzir quase 1 milhão de barris de petróleo por dia. Em termos anuais, este petróleo equivale a 204 TWh/ano em eletricidade, pouco menos da metade do consumo anual brasileiro. Por outro lado, se esta mesma área fosse coberta de placas solares, geraria, no mínimo, 37,8 TWh/ano, ou quase 20% da energia associada ao pré-sal. Este resultado, que por si só já é fantástico, fica ainda mais impressionante quando obtemos o resultado da conta reversa, que calcula quanta área de painéis fotovoltaicos seria necessária hoje para gerar a eletricidade consumida no Brasil: seriam 2.142 km2 ou somente 10% da área do Sergipe. E o resultado só tende a diminuir, dada a melhoria constante na eficiência de conversão de luz em eletricidade que tem acontecido nos últimos anos.

D’Araujo lembra que a tecnologia solar tem colocado problemas interessantes para os operadores dos sistemas elétricos dos países onde tem avançado, por conta de sua intermitência. Esta tem promovido grandes avanços tecnológicos nas baterias para estocagem de eletricidade. A tese de D’Araujo é que a situação brasileira é diferente, por conta dos reservatórios das hidrelétricas que podem substituir as baterias estocando água. E que esta diferença demanda estudos e pesquisas para os quais a Eletrobras seria indispensável. Afinal, segundo ele, a Eletrobras é a criadora do CEPEL, o único centro de pesquisas no assunto existente no Brasil.

http://www.valor.com.br/opiniao/5170028/pre-sal-ou-pre-sol#

 

BNDES AUMENTA EMPRÉSTIMOS PARA EÓLICA E FOTOVOLTAICA

A quantia total de desembolsos “verdes” feitos pelo BNDES permaneceu praticamente estável em cerca de US$ 10 bilhões entre 2016 e 2017. Mas as fontes de energia solar e eólica ganharam espaço neste ano, enquanto os aportes em áreas tradicionais recuaram no confronto com 2016. Entre janeiro e setembro de 2017, R$ 5,85 bilhões dos “empréstimos verdes” foram destinados às energias renováveis e à eficiência energética, um aumento de 66% na comparação com igual período do ano passado.

Enquanto isso, o banco reduziu os empréstimos feitos para hidrelétricas de mais de 30 MW. Em 2017, até agora, R$ 181 milhões foram emprestados para este tipo de projeto, contra os R$ 997 milhões de igual período do ano passado. Segundo Guilherme Teixeira, da Sitawi Finanças do Bem, a mudança nos desembolsos é positiva: “as hidrelétricas, apesar de serem fontes renováveis, trazem um risco maior para impactos sociais e ambientais, o que não ocorre com a energia solar”.

https://www.ambienteenergia.com.br/index.php/2017/10/bndes-amplia-desembolso-para-energia-solar-e-eolica-em-2017/33023

 

GERAÇÃO FOTOVOLTAICA CHEGA A 1 GW E MOVIMENTA R$ 45 BILHÕES

O setor solar fotovoltaico brasileiro vai movimentar mais de R$ 4,5 bilhões neste ano e deve alcançar a marca histórica de 1 mil MW de projetos operacionais na matriz elétrica nacional. O aumento da capacidade instalada representa alta de mais de 11 vezes em relação aos cerca de 90 MW observados em janeiro deste ano.

http://economia.estadao.com.br/blogs/coluna-do-broad/setor-solar-fotovoltaico-deve-movimentar-r-45-bilhoes-no-pais-este-ano/

 

QUEDA NAS EMISSÕES RELACIONADAS À ENERGIA EM 2016 NOS EUA

As emissões norte-americanas de CO2 relacionadas à energia diminuíram em 89 milhões de toneladas, passando de 5,26 bilhões, em 2015, para 5,17 bilhões, em 2016. Embora o PIB tenha aumentado em 1,5% neste período, outros fatores mais do que compensaram o crescimento econômico e levaram a uma queda de 1,7% nas emissões de CO2 relacionadas à energia. Esses fatores incluem um declínio de 1,7% na intensidade de carbono da oferta de energia e um declínio de 1,4% na intensidade energética da produção do país. Combinados, estes dois fatores levaram a um decréscimo na intensidade geral de carbono da economia (CO2/PIB) equivalente a 3,1%.

As emissões totais dos EUA diminuíram em 6 dos últimos 10 anos e as emissões de CO2 relacionadas à energia em 2016 foram de 823 milhões de toneladas abaixo dos níveis de 2005.

https://www.eia.gov/environment/emissions/carbon/?src=home-b6

 

BP E SHELL APOIAM PUBLICAMENTE O ACORDO DE PARIS, MAS USAM CENÁRIOS DE 5°C DE AQUECIMENTO GLOBAL EM SEUS PLANEJAMENTOS

As gigantes petrolíferas Shell e BP fazem planos internos e avaliam a resiliência de seus negócios com base em cenários de até 5ºC de aquecimento global, enquanto apoiam o objetivo de limitação a 2ºC definido pelo Acordo de Paris. A discrepância foi revelada pela Share Action que afirmou que estas atitudes colocam em risco o capital dos seus acionistas.

A ShareAction também revelou que os principais executivos das duas empresas seguem recebendo incentivos para perseguir estratégias centradas no petróleo e no gás e têm bônus pagos durante três a seis anos por projetos fósseis que terão efeitos prejudiciais aos acionistas décadas mais tarde.

Em 2015, mais de 98% dos acionistas, tanto da Shell como da BP, votaram favoravelmente a resoluções que exigem que as empresas informem regularmente sobre suas emissões, sua resiliência às mudanças climáticas, seus investimentos em tecnologia de baixo carbono e sobre os incentivos para executivos. Estas deliberações ajudaram a abrir caminho para resoluções subsequentes e semelhantes de acionistas de outras empresas como a Exxon e a Occidental Petroleum.

http://www.independent.co.uk/news/business/news/bp-shell-oil-global-warming-5-degree-paris-climate-agreement-fossil-fuels-temperature-rise-a8022511.html

 

Para ler:

José Eli da Veiga passeia pelas hipóteses de Gaia e Medea sobre a evolução da vida sobre a Terra e algumas consequências dessas visões quase que opostas. E recomenda a leitura de um livro que navega por um terceiro caminho, “o mais coerente com o materialismo darwiniano”, segundo ele.

O artigo de Zé Eli saiu no Valor de 6ª feira.

http://www.valor.com.br/opiniao/5170032/bola-de-gude-azul#

E o livro recomendado é “On Gaia: A Critical Investigation of the Relationship between Life and Earth”, do oceanógrafo Toby Tyrrell”

 

Para ir:

INHOTIM – MUDANÇA CLIMÁTICA E BIODIVERSIDADE

O Instituto Inhotim, em parceria com o BID, PNUD e WWF Brasil, oferecem um seminário com a participação de Sir Ghillean Prance, Ernst Gotsch,  Harri Lorenzi,  Aline Tristão, Rogério Basso, Thelma Krug,  Thomas Lovejoy (remoto), Germano Luiz Gomes Vieira,  Sandra Paulsen e  Everton Lucero.

No programa, uma visita ao parque/museu.

De 29 de novembro a 1o de dezembro, em Brumadinho, MG

Inscrições e programa em:

http://conteudo.inhotim.org.br/seminario-bid