ClimaInfo, 9 de novembro de 2017

ClimaInfo mudanças climáticas
COP23

 

PRESERVAR FLORESTAS EM TROCA DO AUMENTO DE EMISSÕES FÓSSEIS É BOM NEGÓCIO?

As florestas tropicais armazenam bilhões de toneladas de carbono que, se destruídas, mandariam ainda mais bilhões de toneladas de CO2 e metano para a atmosfera, o que daria um tremendo impulso à elevação da temperatura média global. Ao mesmo tempo, essas florestas ficam nas regiões mais pobres do planeta e o aproveitamento destas terras para lavouras poderia aliviar a pobreza de suas populações.

Esse é o dilema por trás das iniciativas que buscam colocar o carbono florestal em mercados de emissão.

Nestes mercados, uma empresa ou país que precise emitir CO2 pagaria para o país, estado ou município – ou mesmo para o proprietário da terra – para que a floresta permaneça em pé.

O tema divide a comitiva brasileira na COP. De um lado fica o governo federal que, desde o começo das negociações do clima, assumiu o monopólio do tema e proibiu a comercialização de créditos de desmatamento evitado. O Fundo Amazônia faz parte desse conceito, muito embora os doadores, Noruega, Alemanha e Petrobrás, não recebam direitos de emissão. Para o governo, o assunto mexe com temas como segurança nacional e a não ingerência de entes estrangeiros nos rumos do país.

De outro lado, os governos dos estados da Amazônia querem ser recompensados por não terem como arrecadar impostos da floresta nativa, e contam com o apoio de organizações de setores produtivos e de algumas ONGs.

Existe um terceiro lado, formado por organizações da sociedade civil que defendem que as florestas são bens naturais e não devem ser trocadas por dinheiro; ainda mais quando se dá a permissão para que países e empresas continuem a emitir gases de efeito estufa, ao invés de aplicar esse dinheiro para fazer a transição para uma economia de baixa emissão.

Vários pesquisadores e organizações investigam e experimentam meios de tornar a floresta em pé tão ou mais rentável que a lavoura. Quando isso acontecer, o dilema deixará de existir.

Enquanto isso, o destino da floresta em pé soma-se ao destino do pré-sal, formando a dupla de pontos mais agudos da agenda climática que a sociedade brasileira tem que resolver.

https://theintercept.com/2017/11/08/uso-da-amazonia-e-de-outras-florestas-como-moeda-e-tema-chave-para-brasil-na-conferencia-do-clima/

http://epoca.globo.com/ciencia-e-meio-ambiente/blog-do-planeta/noticia/2017/11/incoerente-estrategia-brasileira-para-amazonia.html

https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/11/07/estados-da-amazonia-legal-podem-ser-compensados-por-areas-de-protecao-e-reservas-indigenas

 

A POLÔNIA QUER AJUDA PARA CONTINUAR QUEIMANDO CARVÃO

A Polônia pleiteia uma ajuda de bilhões de euros para suas velhas plantas térmicas a carvão mineral e encontra pesada resistência da União Europeia. Quase dois terços da sua eletricidade são gerados em térmicas a carvão, muitas delas bem velhas e pouco eficientes. Mas o país não tem recursos para mudar sua matriz e quer receber do mercado de carbono europeu para subsidiar suas velhas térmicas. A União Europeia definiu, como meta de curto prazo, não emitir mais que 550 gCO2 por kWh gerado. Pouco antes da COP23, grupos e países começaram a pressionar pela redução desta a 450 gCO2/kWh. As emissões Polonesas são de quase 2.000 gCO2/kWh, e não haveria como a Polônia e seu carvão cumprirem qualquer uma das metas europeias. Daí o governo pedir para o mercado de carbono europeu lhe brindar com milhões de permissões de emissão. Mesmo aos valores baixíssimos deste mercado, a mãozinha pleiteada pela Polônia monta a quase € 30 bilhões.

http://www.climatechangenews.com/2017/11/06/polish-coal-cash-grab-attacked-uk-france-germany/

 

FRANÇA ORGANIZA CÚPULA DO CLIMA, E NÃO CONVIDA TRUMP

A França de Emmanuel Macron sediará uma conferência de cúpula sobre o clima em dezembro, para a qual Trump não será convidado. Os EUA poderão participar, mas com uma representação diplomática de menor grau. A reunião arregimentará mais de cem países e tem como objetivo definir compromissos concretos sobre recursos financeiros para agenda climática.

http://www.reuters.com/article/us-climatechange-accord-trump-paris/trump-not-invited-to-paris-december-climate-change-summit-for-now-says-france-idUSKBN1D71U0

 

E para além da COP23

 

ICMBio PODE TER SEIS VEZES MAIS RECURSOS PARA ÁREAS PROTEGIDAS

O governo está elaborando um projeto de lei para destravar recursos de compensação ambiental de grandes obras e direcioná-los para o ICMBio, com o propósito de fortalecer o manejo e a preservação de áreas protegidas. Estima-se que a verba atual seria multiplicada por seis, passando de R$ 200 milhões para até R$ 1,2 bilhão.

É um movimento parecido com o que pretende direcionar uma parte dos recursos das multas ambientais do Ibama para projetos que o órgão definir como prioritários.

http://www.valor.com.br/brasil/5185745/projeto-preve-verba-6-vezes-maior-para-parques-nacionais

 

A ELETRICIDADE BRASILEIRA É SÓ A 6a MAIS LIMPA DO MUNDO

Virou jargão dizer que a matriz elétrica brasileira é a mais limpa, senão uma das mais limpas do mundo. Para ser exato, é a 6a, atrás de Noruega, Suécia, França (cheia de nucleares), Suíça e Canadá. 97% da eletricidade norueguesa vem de fontes renováveis, enquanto 26% da nossa não é. Os números vieram de uma publicação da petrolífera BP e foram publicados em artigo do New York Times que fala sobre o que resta de emissões de carbono na eletricidade mundial, apesar de todo o avanço das eólicas e fotovoltaicas.

https://www.nytimes.com/2017/11/07/business/climate-carbon-renewables.html

 

INTENSIFICAÇÃO DA PECUÁRIA É CHAVE PARA SUA SUSTENTABILIDADE

Temos um rebanho estimado em quase 220 milhões de cabeças que ocupa uma área de pastagem ao redor de 190 milhões de hectares, ou seja, pouco mais de um boi por campo de futebol (em média, os campos oficiais medem um hectare). Numa área deste tamanho, os produtores dos países desenvolvidos conseguem criar muito mais bois. O pessoal do Agroícone publicou um estudo interessante sobre a importância da intensificação da pecuária para o aumento da produtividade do setor, o que, de lambuja, reduziria significativamente as emissões do setor e contribuiria para a implantação do Código Florestal.

Os pesquisadores entendem que a avaliação da viabilidade econômica precisa levar em conta que a intensificação da produção aumenta o valor da propriedade. Outro ponto importante: se os bois forem criados em área menor, sobrará terra para a expansão de lavouras, o que reduziria a pressão sobre as áreas com vegetação nativa na Amazônia e no Cerrado.

http://www.inputbrasil.org/wp-content/uploads/2016/12/Intesificação-da-pecuária-como-peça-chave-na-expansão-da-agropecuária-sustentável-no-Brasil-1.pdf

http://www.inputbrasil.org/publicacoes/intensificacao-da-pecuaria-como-peca-chave-na-expansao-da-agropecuaria-sustentavel-no-brasil/

 

HIDRELÉTRICAS MUDAM A HIDROLOGIA DA AMAZÔNIA

Um artigo publicado na Science analisa os impactos que as hidrelétricas da Amazônia têm sobre a hidrologia de toda a bacia. Os pesquisadores constataram que o tipo e a magnitude das alterações hidrológicas variam de usina a usina, mas os maiores impactos acontecem nas grandes represas localizadas em baixas elevações. Os autores ressaltam que os pequenos aproveitamentos têm um impacto muito grande em relação à sua capacidade de geração elétrica. E concluíram que o impacto cumulativo de múltiplas usinas sequenciais é significativo, mas somente sobre certos aspectos do regime hídrico. Eles ressalvam que a pesquisa é só um primeiro passo para a elaboração de planos ambientais e políticas públicas relevantes para a região amazônica neste aspecto.

http://advances.sciencemag.org/content/3/11/e1700611

 

DEMANDA POR PETRÓLEO PODE COMEÇAR A CAIR SE OS VEÍCULOS ELÉTRICOS ESTOURAREM

A insuspeita OPEC (organização dos países produtores de petróleo) declarou que, se houver realmente um boom de carros elétricos, a demanda por petróleo pode começar a cair antes de 2040. Segundo a OPEC, quando um quarto dos carros no mundo estiver rodando a baterias, o que deve acontecer por volta de 2035, a demanda por petróleo atingirá o pico de 110 milhões de barris por dia e, a partir daí, começará a cair.

A equipe do ClimaInfo se deu conta que faltam somente 18 aninhos até 2035, o que torna a intenção do governo Temer de subsidiar por 40 anos a exploração do pré-sal um presente muito mais generoso do que pensávamos.

https://www.bloomberg.com/news/articles/2017-11-07/opec-says-oil-use-could-peak-in-late-2030s-if-electric-cars-boom

http://www.valor.com.br/internacional/5185783/demanda-por-petroleo-pode-ter-pico-em-2034#

 

CHOCOLATEIRAS PRECISARÃO PROTEGER FLORESTAS NA ÁFRICA

Há pouco tempo, o jornal The Guardian publicou um artigo acusando as grandes chocolateiras, Nestlé, Hershey’s e Mars, de comprarem e até incentivarem plantações de cacau nos dois maiores produtores, Gana e Costa do Marfim, às custas do desmatamento de suas florestas tropicais. As três amigas primeiro tentaram se esquivar da pecha de desmatadoras e assumiram uma moratória, no estilo da bem sucedida moratória da soja. Agora, os governos destes países deram partida a programas que buscam ensinar os agricultores a plantar árvores de cacau embaixo das sombras generosas das florestas nativas. Na Costa do Marfim, as chocolateiras serão obrigadas a assumir áreas degradadas onde terão que restaurar florestas para que os agricultores plantem seu cacau debaixo das copas. Gana também está pensando num esquema semelhante. Ainda é cedo e existe uma infinidade de pontos a serem resolvidos. Mas pelo menos estes dois países estão caminhando na direção da reversão do desmatamento de suas florestas tropicais.

https://www.theguardian.com/world/2017/nov/08/rare-victory-for-rainforests-as-nations-vow-to-stop-death-by-chocolate

https://www.theguardian.com/environment/2017/sep/13/chocolate-industry-drives-rainforest-disaster-in-ivory-coast

 

Para Ver:

A DANÇA DA CONCENTRAÇÃO-DE-CO2 COM A TEMPERATURA-GLOBAL

Kevin Pluck, já famoso pelo hobby de montar gráficos não usuais sobre o aquecimento global, montou uma nova animação bonita e muito interessante. Ele montou dois gráficos tipo barril lado a lado, nos quais as curvas sobem em torno de um eixo vertical, como se estivessem se enrolando nas paredes externas de barris. Um dos gráficos mostra o aumento na concentração de CO2 na atmosfera, mês a mês, ano a ano, desde 1958. O outro mostra a temperatura média global, também mês a mês e ano a ano.

Quem diz não acreditar no aquecimento global terá que se esforçar muito para explicar a dança extremamente sincronizada do par de curvas.

https://www.vox.com/2017/11/7/16612498/climate-change-carbon-dioxide-co2-temperature-animation