ClimaInfo, 8 de janeiro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

A MORTE NÃO ANUNCIADA DAS HIDRELÉTRICAS NA AMAZÔNIA

No começo do ano, uma notícia d’O Globo dava conta que uma das consequências da eventual privatização da Eletrobrás seria enterrar projetos de grandes hidrelétricas no país. Afinal, a empresa é sócia, majoritária ou não, das últimas grandes construídas: Belo Monte, no rio Xingu, Jirau e Santo Antônio, no Madeira, São Manoel e Sinop, no Teles Pires. E é majoritária no polêmico projeto das usinas do Tapajós, que, se o artigo estiver certo, estaria ainda mais enterrado. O artigo se baseou em falas do presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), Luiz Barroso, sobre a empresa estar tomando cuidados maiores com os impactos socioambientais desses megaprojetos.

Só que dias depois do artigo, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), anunciou ter aceitado os estudos de viabilidade da hidrelétrica de Jatobá, a segunda maior do Complexo Tapajós. O projeto da maior, a São Luiz do Tapajós, continua engavetado pelo Ibama.

https://oglobo.globo.com/economia/fase-de-grandes-hidreletricas-chega-ao-fim-22245669

http://www2.aneel.gov.br/cedoc/dsp20174394ti.pdf

https://www.canalenergia.com.br/noticias/53046992/aneel-aceita-estudos-de-viabilidade-da-uhe-jatoba

 

O AGRO EXAGERA

No finalzinho do ano, Tasso Azevedo publicou em seu blog um interessante artigo – “Sem Exagero” – delicadamente desconstruindo frases a respeito do Brasil e do agronegócio que, de tanto serem repetidas, viraram “verdades” para muita gente. Azevedo começa com duas afirmações já clássicas: o Brasil teria a matriz energética mais renovável do mundo e, também, teria a maior área de florestas do mundo. Só que a Rússia tem área florestal bem maior. E no ranking de aproveitamento de fontes renováveis da IEA (sigla em inglês da Agência Internacional de Energia), o Brasil está em 28o lugar, atrás, por exemplo, de Paraguai, Colômbia e Costa Rica, deste lado do Atlântico, e atrás de Islândia, Noruega e Áustria do outro.

Azevedo desconstrói muito do que o Secretário Executivo do Ministério da Agricultura, Eumar Novacki, tinha escrito dias antes, e que o ministro Maggi há muito propaga por aí. Para estes senhores, e para muita gente do agronegócio, o agricultor brasileiro é penalizado pela legislação que o proíbe de plantar em toda sua fazenda. Ao mesmo tempo, estes senhores dizem que o agricultor brasileiro é o maior defensor do meio ambiente, sem se preocuparem em explicar porque o maior defensor do meio ambiente se queixa das leis que o obrigam a defendê-lo. Aliás, leis que o próprio agronegócio escreveu e comemorou como grande vitória sobre o movimento ambientalista. Tasso termina seu artigo com uma recomendação: “Seria interessante o ministro assumir o compromisso e garantir junto ao setor o desmatamento zero da vegetação nativa remanescente no Brasil. Este seria, sim, o maior ato de promoção do agronegócio brasileiro. Sem nenhum exagero”.

https://tassoazevedo.blogspot.com.br/2017/12/sem-exagero.html

http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,o-agronegocio-e-o-meio-ambiente,70002128206

 

AS ELEIÇÕES E A QUESTÃO SOCIOAMBIENTAL

Também no finalzinho do ano, o pessoal do IDS (Instituto Democracia e Sustentabilidade) publicou um artigo no Estadão torcendo para que as eleições de outubro mostrem que o país quer um desenvolvimento sustentável para todos. Mas, além das eleições, eles listam as dez pautas mais relevantes que estarão em discussão no congresso, nos ministérios e nos tribunais em 2018. Começando pelo congresso, onde tramitam a Lei do Licenciamento Ambiental e a nova versão da amputação do Jamanxim. O Supremo pode decidir sobre as Ações Diretas de Inconstitucionalidade sobre o Código Florestal, sobre a Lei da Grilagem promulgada no ano passado e sobre as Terras Quilombolas. O STF também pode decidir se medidas provisórias podem alterar Unidades de Conservação. Já o governo prometeu legalizar o arrendamento de terras indígenas e alterar o registro de agrotóxicos, tornando-o ainda mais frouxo. Ainda esse ano, acontece o Fórum Mundial da Água em Brasília. E por falar em água, em São Paulo, a Sabesp deve apresentar seu plano para a governança do sistema Cantareira.

http://sustentabilidade.estadao.com.br/blogs/mais-democracia-mais-sustentabilidade/2018-podera-ser-decisivo-para-a-luta-socioambiental-no-brasil/

 

O ANO DOS FÓSSEIS NO BRASIL

As petroleiras investiram R$ 30 bilhões no ano passado comprando ativos da Petrobrás e apostando nos leilões dos campos do pré e do pós sal. A lista de compras das Exxon, Shell, BP, Statoil e Total da vida foi publicada num artigo de André Ramalho, no Valor, em 27/dezembro. E os chineses também deram o ar de sua graça.

O ano terminou com Temer dando algo entre R$ 300 bilhões e R$ 1 trilhão em renúncia fiscal às petroleiras. No finalzinho do ano, Temer vetou três pedacinhos da MP, o que reduziu muito pouco a renúncia fiscal, mas manteve a bonança até 2040. Prorrogáveis.

Dom Phillips, do Guardian, foi até Oiapoque conversar com moradores que estão preocupados com a possibilidade de vazamentos de óleo nas explorações que a Total e a BP começam a querer fazer nos blocos do campo localizado na foz do rio Amazonas. Phillips lista os impactos ambientais que vazamentos de óleo podem provocar, que recaem sobre os ainda pouquíssimos conhecidos corais e até sobre peixes-boi e peixes-serra que só vivem na região. As reservas do campo são estimadas em 13 bilhões de barris de petróleo. Numa conta de padeiro, se convertidos em gasolina, diesel e outros derivados e queimados, emitiriam quatro bilhões de toneladas equivalentes de CO2. Mais ou menos o que o Brasil emitiu nos últimos dois anos.

http://www.valor.com.br/empresas/5238463/petroleiras-mundiais-investem-r-30-bilhoes-no-brasil-em-2017#

http://epbr.com.br/temer-faz-tres-vetos-na-mp-do-repetro-e-mantem-prazo-ate-2040

https://www.theguardian.com/environment/2017/dec/27/amazon-town-coral-reef-big-oil-a-catastrophe-waiting-to-happen

 

EXXON ANUNCIA DESCOBERTA DE MAIS PETRÓLEO NA GUIANA

Na semana passada, a ExxonMobil anunciou a sexta descoberta de petróleo de alta qualidade em campos offshore da Guiana. O bloco Stabroek, que fica entre a Guiana e o Suriname, é reconhecido como a segunda maior área do mundo com petróleo pouco explorado. Estima-se que as reservas passem de três bilhões de barris. A Exxon capitaneia a joint-venture formada com a chinesa CNOOC e parceiros locais. Nos mapas da USGS (sigla em inglês do Serviço Geológico dos Estados Unidos), o campo Guiana-Suriname fica ao lado do campo onde estão os corais da foz do Amazonas. Para comparação, estima-se que o pré-sal tenha mais de 100 bilhões de petróleo.

http://corporate.exxonmobil.com/en/company/worldwide-operations/locations/guyana#About

http://news.exxonmobil.com/press-release/exxonmobil-announces-sixth-oil-discovery-offshore-guyana

https://economia.uol.com.br/noticias/efe/2018/01/05/guiana-anuncia-descoberta-de-grande-jazida-de-petroleo-em-seu-litoral.htm

 

INSIGNIFICANTE NO BRASIL, A IMPORTAÇÃO DE CARRO ELÉTRICO TEM REDUÇÃO DE IMPOSTO

O governo anunciou que vai reduzir o IPI dos carros elétricos importados de 27% para 5%, como forma de incentivar o novo mercado. O pessoal do ministério da fazenda, que não pode nem ouvir falar em incentivos fiscais, nem deu bola porque o número de carros elétricos emplacados no ano passado não chegou a 2.000.

https://oglobo.globo.com/economia/governo-vai-cortar-imposto-para-carro-eletrico-abre-mercado-brasileiro-22255898

 

RESOLUÇÃO DE ANO NOVO: LIVRE-SE DO SEU CARRO

Apesar de ser do começo do ano passado, um artigo publicado pelo Fórum Econômico Mundial traz um monte de razões e números para abandonarmos os carros, como, aliás, o próprio artigo diz que as gerações mais novas já estão fazendo. Começa que o carro fica parado 96% do tempo, dos quais 80% na garagem de casa. Quando em uso, contabilizando os engarrafamentos e o tempo que se gasta para pagar gasolina, seguros e o próprio carro, a velocidade não passa de 13 km/h. Velocidade que, aponta o autor, qualquer ciclista urbano ultrapassa sem suar. Do ponto de vista da eficiência, os melhores carros daqui transformam 1/3 da energia da gasolina em movimento jogando os outros 2/3 fora na forma de calor, poluição e barulho. Do terço efetivamente usado, mais de 80% é gasto para mover o próprio peso do carro e essa proporção fica ainda maior quando só o motorista viaja. Isso sem contar o tamanho da conta que a sociedade paga na forma de espaço ocupado por ruas e avenidas e estacionamentos. E esses números não mudaram nada no último ano. E, nas mesas de Brasília, no MDIC, na Fazenda e no Congresso, tramita o Rota 2030, que dá mais descontos para a indústria automotiva continuar a encher nossas cidades de carros.

https://www.weforum.org/agenda/2017/02/why-it-might-be-time-to-ditch-your-car

 

CARROS LIMPOS NA NORUEGA E MENOS SUJOS NA CHINA

Adivinhe onde os carros elétricos venderam mais que convencionais em 2017. Ok, foi só na Noruega, mas quem imaginaria que isso aconteceria tão cedo? Mais da metade dos novos carros vendidos naquele país no ano passado empregam novas formas de energia, de acordo com os dados divulgados pelo Conselho Consultivo de Tráfego Rodoviário da Noruega, OFV. Para a secretária-geral da Associação de Veículos Elétricos da Noruega, Christina Bu, as vendas de carros elétricos poderiam ter sido ainda maiores, mas alguns compradores preferiram aguardar pelos lançamentos, como o Modelo 3 da Tesla. O exemplo da Noruega confirma o poder das políticas públicas: a adesão aos carros elétricos na Noruega foi acelerada por subsídios governamentais e isenções fiscais que tornam a tecnologia mais acessível. O governo também expandiu a rede nacional de estações de recarga e passou a oferecer aos motoristas de automóveis elétricos muitos outros benefícios: estacionamento mais barato, uso de corredores de ônibus durante horários de pico e isenção da grande maioria dos pedágios rodoviários. Está funcionando.

Na Ásia, de olho na poluição nas suas grandes cidades, o governo chinês mandou suspender a produção de 500 modelos de carros que deixaram de atender os padrões de economia de combustíveis. A medida vale tanto para os fabricantes locais como para as joint-ventures com as grandes automotivas. Por enquanto, a medida vai afetar menos de 1% da produção. Mas o sinal governamental foi forte e dá uma direção clara para os fabricantes.

https://www.pri.org/stories/2018-01-03/over-half-new-car-sales-norway-are-electric-or-hybrid-vehicles

https://www.nytimes.com/2018/01/04/business/energy-environment/norway-electric-hybrid-cars.html

https://mobile.nytimes.com/2018/01/02/climate/china-cars-pollution.html

 

REINO UNIDO PODE BANIR O CARVÃO A PARTIR DE 2025

A venda de veículos movidos a combustíveis renováveis faz parte do plano da Noruega de banir o diesel e a gasolina até 2025. Coincidentemente, esse é também o ano no qual o Reino Unido deverá se ver livre das usinas de carvão. Depois de consultas públicas realizadas no ano passado, o governo britânico acaba de divulgar normas que, na prática, significam o fim das usinas de carvão em 2025. O Parlamento deixou uma brechinha para rever esta data em caso de emergência, ou permitir o funcionamento de usinas que consigam enterrar suas emissões, o chamado CCS (captura e armazenamento de carbono). Segundo a Reuters, o Reino Unido assumiu o compromisso legalmente vinculante de reduzir as emissões (base 1990) em 80% até 2050.

https://www.theguardian.com/business/2018/jan/05/uk-coal-fired-power-plants-close-2025

https://www.reuters.com/article/us-britain-coal-phase-out/britain-outlines-plans-for-2025-coal-power-phase-out-idUSKBN1EU11P

 

MUDANÇA DO CLIMA PROVOCA FORTE ONDE DE FRIO NOS EUA E TEMPESTADE ENORME NA EUROPA

Nos últimos 10 dias, uma frente gelada desceu pelo Canadá e o meio dos EUA, se juntou com o “ciclone bomba” de ar gelado que veio do Atlântico e atingiu a costa leste, enchendo o país de neve – até na Flórida – e serviu de combustível para negacionistas fazerem gracinhas pedindo mais aquecimento global. Não deviam. Uma imagem da NOAA (sigla em inglês da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional) mostra um mapa mundi com as anomalias de temperatura, o quão acima ou abaixo da média estão as temperaturas. O hemisfério norte é quase todo vermelho, mais quente que a média, exceto justamente pela faixa de frio que atravessa o Canadá e o centro-leste dos EUA. O motivo: o aquecimento no resto do hemisfério empurrou mais para o sul a corrente de ar polar da alta atmosfera, o jet stream. Como numa membrana, pressione um ponto para cima e outro ponto vai afundar.

Como todos os furacões e tufões, o tal do “ciclone bomba” foi gerado e alimentado pelas águas aquecidas do Atlântico Norte. A diferença é que ele arrastou o ar polar que provocou um estrago em Nova York e em toda a costa leste norte-americana.

E na parte mais quente do hemisfério norte, também alimentada pelas mesmas águas mais quentes do Atlântico Norte, outra tempestade ficou forte o suficiente para ganhar nome: Eleanor. Foram registrados ventos de mais de 160 km/h, rios cheios com mais de 7 metros acima do normal. Pela primeira vez, a Holanda teve que fechar as cinco gigantescas barragens antienchente para segurar ondas de muitos metros de altura.

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marceloleite/2018/01/1948453-la-vem-os-negacionistas-questionar-onde-esta-o-aquecimento-global.shtml

http://www.observatoriodoclima.eco.br/o-frio-extremo-aquecimento-global/

https://www.scientificamerican.com/article/earthtalks-global-warming-harsher-winter/

https://www.forbes.com/sites/marshallshepherd/2017/12/28/a-response-for-people-using-record-cold-u-s-weather-to-refute-climate-change/#880e605680d1

https://www.climaterealityproject.org/blog/perfect-storm-extreme-winter-weather-bitter-cold-and-climate-change

https://www.nytimes.com/2018/01/04/nyregion/snow-storm-schools-trains-roads.html

http://www.dw.com/pt-br/tempestade-castiga-europa-ocidental/a-42017945

 

2017 FOI O 2o ANO MAIS QUENTE DA HISTÓRIA RECENTE

Foi na trave: 0,1 graus Celsius impediram 2017 de ser tão quente como 2016, o ano mais quente já registrado na história. Mas um detalhe conta a favor do vice-líder: ele não foi anabolizado pelo El Niño, como aconteceu com o ano líder. Por isso, as temperaturas de 2017 surpreenderam os cientistas e contribuíram para reafirmar o que a gente já sabe (mas os adoradores do Trump adoram negar): o aumento da temperatura média do planeta é provocado pela concentração de gases de efeito estufa na atmosfera – gases esses que, por sua vez, são emitidos pela queima de combustíveis fósseis nas indústrias, usinas e veículos e pela destruição de florestas naturais. A análise é do sistema europeu Copernicus e mostra que 2017 foi 0,5oC mais quente do que a média dos últimos 30 anos e 1,2oC mais quente do que a média do século XVIII, antes da industrialização.

https://climate.copernicus.eu/news-and-media/press-room/press-releases/2017-extends-period-exceptionally-warm-years-first-complete

http://epoca.globo.com/ciencia-e-meio-ambiente/blog-do-planeta/noticia/2018/01/2017-foi-o-segundo-ano-mais-quente-ja-registrado.html

 

OS EVENTOS EXTREMOS DE 2017 EM DEZ IMAGENS

Das muitas matérias sobre “os dez melhores” ou “os dez piores” do ano passado, selecionamos a do blog “O que você faria se soubesse”. Eles selecionaram fotos do que eles consideraram os dez piores eventos extremos. Os furacões do Caribe, claro, e os incêndio florestais em Portugal e na Califórnia estão entre eles. Vale conferir para não esquecer.

http://oquevocefariasesoubesse.blogspot.com.br/2017/12/2017-dez-imagens-de-um-ano-de-extremos.html

Siga o ClimaInfo nas redes sociais: www.facebook.com/climainfo e www.twitter.com/climainfonews