ClimaInfo, 17 de janeiro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

RURALISTAS E DESMATAMENTO NA MÍDIA INTERNACIONAL

O vetusto Financial Times, que não é muito dado à causa ambiental, publicou um artigo forte sobre o esforço da bancada ruralista para aprovar leis que afrouxam a proteção das florestas. Desde o título (Brasil, a floresta tropical paga o preço da crise no país), a matéria coloca o peso na pressão da expansão da soja e do gado em busca da ocupação de mais terras da floresta. Também fala do engajamento do governo Temer na promoção da pauta ruralista. E faz questão de mencionar que a bancada representa o agronegócio de exportação, e não todos os agricultores.

Ao longo da matéria, são relatados os ataques do ano passado ao Ibama e ao ICMbio, os garimpos ilegais em Rondônia e em Humaitá, no Amazonas, e os madeireiros, também ilegais, que são amparados por bancadas e governos estaduais e municipais. Quase ao final, ao falar da MP da grilagem, a matéria cita o ex-procurador Rodrigo Janot, quando ele disse ao STF que a MP “permitirá a privatização em massa de bens públicos”.

Nós acrescentaríamos mais um trecho da fala de Janot: que a MP tem “o efeito perverso de desconstruir todas as conquistas constitucionais, administrativas e populares voltadas à democratização do acesso à moradia e à terra e põe em risco a preservação do ambiente para as presentes e as futuras gerações”.

https://www.ft.com/content/971f03aa-f9e0-11e7-9b32-d7d59aace167

 

PAZZIANOTTO E A GEOGRAFIA DA FOME BRASILEIRA

Almir Pazzianotto escreveu um importante artigo no Estadão motivado pela “Síntese dos Indicadores Sociais 2017”, publicada pelo IBGE em dezembro. Para Pazzianotto, a Síntese “mostra a fome no Brasil. Confirma que o país é pobre – é rico apenas na visão alienada de bilionários, corruptos e privilegiados”.

Pazzianotto vai buscar no livro “Geografia da Fome”, clássico de Josué de Castro, a descrição exata da nossa miséria. Só que o livro é de 1948, entretanto tudo continua mais ou menos na mesma. Afinal, a Síntese mostra que, até a linha da pobreza (US$ 5,5 por dia segundo o Banco Mundial), vivem 25 milhões de brasileiros e, entre estes, 42% das crianças até 14 anos. Também até os 14 anos, 40% dos trabalhadores brasileiros já tinham começado a trabalhar. Isso quando há emprego. Assim como no final da década de 40, o Norte e Nordeste continuam com os maiores índices de pobreza. Os pobres são em torno da metade da população nos estados do Maranhão, Amazonas e Alagoas.

Pazzianotto conclui o artigo com uma pergunta: “Em 2018 o salário mínimo será de R$ 954. A Bolsa Família, de R$ 85. O Brasil ocupa a 7a posição no ranking do desenvolvimento econômico e o 79o no Índice de Desenvolvimento Humano, abaixo do Chile, do Uruguai e da Argentina. O que dizem os candidatos ao governo da República?”

Não deixe de ler.

http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,geografia-da-fome,70002152162

 

A MINERAÇÃO NÃO BENEFICIA A ECONOMIA LOCAL

Um dos argumentos mais brandidos pelas mineradoras e sua bancada no Congresso é que elas trazem riqueza e desenvolvimento para a região onde se instalam. Heloisa Pinna Bernardo, professora da USP, foi atrás dos dados econômicos dos municípios onde opera a mineração, adotando como critérios o peso das compensações financeiras na receita municipal e o índice de desenvolvimento municipal da FIRJAN (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), para aferir se as rendas adicionais trazem benefícios ou se estes são pequenos perto dos impactos ao meio ambientes e à saúde, e se a mineração “proporciona a geração de subempregos, a má distribuição da renda e taxas de crescimento das regiões de base mineral inferiores às das regiões nas quais a mineração é inexpressiva”.

Analisando a região mineira de Minas Gerais, a conclusão foi que “em média, os benefícios econômicos gerados não são revertidos em desenvolvimento humano (em termos de emprego, renda, educação e saúde)”. O trabalho, ressalta a autora, ainda é exploratório e abre a porta para mais pesquisas sérias sobre a mineração no Brasil.

Aproveitando o gancho, vale ler um artigo de André Aroeira sobre a mineração depredadora e a destruição que esta continua a provocar. Aroeira aponta que há lugar para uma mineração baseada em práticas sustentáveis que, respeitando os limites naturais e sociais, tem um papel importante na vida do país.

https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Mae-Terra/Entrevista-especial-com-Heloisa-Pinna-Bernardo/3/39133

http://conexaoplaneta.com.br/blog/mineracao-nao-e-um-mal-necessario/

 

O SOBE-MUITO-DESCE-POUCO DO PREÇO DOS FÓSSEIS, APESAR DA PETROBRAS BATER RECORDES DE PRODUÇÃO

A política de preços da Petrobrás de Temer e Pedro Parente continua a, num dia, elevar um pouco o preço da gasolina e diesel, para alguns dias depois baixá-los um pouco menos. Anteontem, foi anunciada mais uma redução de zero-vírgula-pouca-coisa nos preços dos dois derivados. Desde julho, início desta política, o que se viu foi um aumento de 27% no preço da gasolina e de 24% no do diesel. É verdade que o preço do barril de petróleo subiu 30% nos dois últimos meses do ano, mas os preços desses derivados ainda não acompanharam o do petróleo bruto.

Por sinal, a Petrobras anunciou que a produção de petróleo e gás no ano passado bateu um recorde: foram, por dia, em média, 2,15 milhões de barris de petróleo e 80 milhões de metros cúbicos de gás natural. Só do pré-sal, a Petrobras e parceiros extraíram 26% a mais do que em 2016. Assim, produzimos mais petróleo, cujos derivados são vendidos aqui a um preço maior do que lá fora. Não parece ser um bom negócio para o consumidor.

http://www.valor.com.br/empresas/5260441/petrobras-reduz-preco-do-diesel-em-04-e-da-gasolina-em-06

http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/01/1950810-producao-de-petroleo-da-petrobras-no-brasil-bate-recorde-em-2017.shtml

 

CHUVAS INUNDAM ITAIPU E CONTINUAM A FUSTIGAR FLORIANÓPOLIS

As chuvas que começaram no meio de dezembro continuam a cair com força sobre o Sul e parte do Sudeste. Anteontem, Itaipu teve que abrir todas suas quatorze comportas para deixar passar a água que desce pelo rio Paraná. Em novembro, ela já teve que abrir algumas comportas, mas abrir todas elas é algo que não acontece há quase dois anos. Mas como as chuvas não estão caindo em todo lugar, o nível dos principais reservatórios das hidrelétricas ainda está baixo. No subsistema Sudeste-Centro-Oeste, elas estão com menos de 30%. As do Nordeste seguem em estado crítico, com menos de 16%. Já no Sul, onde vem chovendo muito, elas estão com quase 65%.

Essas chuvas são as mesmas que causaram um grande estrago em Florianópolis na semana passada e que continuam a ameaçar com mais inundações.

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,com-excesso-de-chuva-itaipu-abre-as-tres-calhas-da-usina,70002151440

https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/pontos-de-florianopolis-seguem-com-alagamentos-dias-apos-fortes-chuvas.ghtml

http://dc.clicrbs.com.br/sc/noticias/noticia/2018/01/terrenos-continuam-alagados-em-florianopolis-apos-quase-uma-semana-das-chuvas-10119063.html

http://www.ons.org.br/pt/paginas/energia-agora/reservatorios

 

O CARRO AINDA É SONHO DE CONSUMO DE MUITO BRASILEIRO

Talvez se o transporte público fosse melhor, mais gente deixaria de andar de carro nas cidades brasileiras. Mas uma pesquisa feita no ano passado por encomenda dos institutos Escolhas e Clima e Sociedade, a qual perguntou aos brasileiros qual transporte consideram ideal, revelou que 41% preferem o transporte individual motorizado em carros e motos, enquanto 33% preferem o transporte coletivo em ônibus, metrô e trem. 22% preferem ir de bicicleta ou a pé. As outras opções sugeridas foram os Uber da vida (3%) e os táxis (1%).

Para virar esse jogo, os entrevistados disseram apoiar fortemente medidas que favoreçam pedestres e ciclistas, que priorizem o transporte coletivo ao invés dos individuais e induzam a modernização da frota de ônibus. Mas brasileiros ainda mantêm um pezinho no carro, ao dizer que não gostam da ideia de aumentar o imposto sobre carros, ou a de criar pedágios urbanos que restrinjam sua circulação em áreas críticas das cidades.

Para Walter de Simoni, mantido o que vemos hoje, o carro continuará liderando a preferência dos brasileiros.

http://escolhas.org/wp-content/uploads/2018/01/Escolhas-pesquisa-transporte.pdf

https://oglobo.globo.com/brasil/ma-qualidade-do-transporte-publico-aumenta-preferencia-da-populacao-por-carro-22290803

 

AS MUDANÇAS GEOPOLÍTICAS TRAZIDAS PELAS FONTES RENOVÁVEIS

A conferência de energias renováveis de Abu Dhabi retomou a discussão sobre geopolítica e energia. Há um caráter simbólico nesta discussão estar acontecendo logo em Abu Dhabi, uma das províncias petrolíferas mais ricas do mundo, com reservas comparáveis ao pré-sal. E pode ser um sinal da direção para onde caminha o mundo da energia.

Como contou à Daniela Chiaretti do Valor, Adnan Amin, diretor-geral da Irena (Agência Internacional de Energia Renovável), “estamos vindo de um mundo de oleodutos em que a energia está concentrada num pequeno grupo de fornecedores e com as tensões econômicas que surgem desse quadro”. E indo para outro onde as fontes estão por toda parte, mas o instrumental para captá-la, não. A passagem talvez leve a economia global pelo mundo das baterias e instrumentação feitas a partir de materiais como as terras raras ou de jazidas concentradas no altiplano da América do Sul e de minas na República do Congo. De qualquer modo, novos modelos de negócio deverão dominar e, possivelmente, menos verticalizados, posto que a essência das renováveis é sua acessibilidade.

A Folha também escreveu um editorial sobre as fontes renováveis de energia. Interessante o comentário final: “Não faltam sol e vento no Brasil, que encontra obstáculos crescentes para instalar novas barragens onde ainda há grande potencial hidrelétrico, a Amazônia”.

http://www.valor.com.br/internacional/5259971/migracao-energetica-para-renovaveis-tera-impactos-geopoliticos#

https://sites.hks.harvard.edu/hepg/Papers/2017/Geopolitics%20Renewables%20-%20final%20report%206.26.17.pdf

http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2018/01/1950762-renovacao-energetica.shtml

 

INVESTIMENTO EM RENOVÁVEIS NO REINO UNIDO CAI PELA METADE FACE ÀS INDECISÕES DO GOVERNO

O governo britânico continua dançando um bolero com as fontes renováveis, ora prometendo subsídios, ora prometendo retirá-los. O resultado foi que, no ano passado, o volume investido em novas plantas renováveis caiu pela metade em relação a 2016. Mesmo nos EUA de Trump, com toda sua retórica carvoeira, o volume investido aumentou um pouquinho, 1%.

Se o Reino Unido liderou o ranking de queda de investimento em renováveis, ao menos está em “boa” companhia: Alemanha, Japão, Noruega, Turquia e Taiwan também registraram quedas. Os investidores interessados em projetos no Reino Unido pedem mais transparência das autoridades, citando a Alemanha e a Holanda como exemplos de clareza nos planos.

Talvez seja exigir um pouco demais para quem anda atolado nas rotas quase sem saída do Brexit.

https://www.theguardian.com/business/2018/jan/16/uk-green-energy-investment-plunges-after-policy-changes

 

LOS ANGELES PODE SEGUIR O EXEMPLO DE NOVA YORK

Membros do Conselho Municipal de Los Angeles deram o pontapé inicial no que pode vir a ser uma nova ação judicial contra as empresas de petróleo e gás. O pilar da proposta é que elas sabiam que estavam contribuindo para a mudança climática e “nada (fizeram) para impedir seus caminhos destrutivos”. Há também a intenção de ajudar New York em sua ação judicial contra Chevron Corp., ConocoPhillips, Royal Dutch Shell e outras gigantes do petróleo. São Francisco e Oakland já apresentaram seus próprios processos, dizendo que as empresas de petróleo e gás devem pagar pelo custo contínuo de proteger as cidades da Área da Baía do aumento do nível do mar.  

http://beta.latimes.com/local/lanow/la-me-ln-climate-change-lawsuit-20180113-story.html

 

A LENTIDÃO DE LONDRES EM DESINVESTIR DOS FÓSSEIS

Nova York também subiu a barra do desinvestimento quando o prefeito Bill de Blasio anunciou que o fundo de pensão municipal ia se livrar de investimentos em fósseis. Em Londres, o prefeito Sadiq Khan, durante sua campanha, tinha prometido fazer o mesmo até 2020. Só que de lá para cá, aconteceu muito pouco e o que aconteceu tem tantas brechas que, na prática, as petroleiras não se sentiram nem um pouco incomodadas. Segundo Danielle Paffard, da 350.org, as ações de Nova York envergonham a inação londrina e mostram que, com boa liderança, é possível avançar.

https://www.theguardian.com/environment/2018/jan/15/london-put-to-shame-by-new-york-fossil-fuel-divestment

 

AQUECIMENTO GLOBAL AFETA O CRESCIMENTO DAS PLANTAS

O aumento da temperatura acelera o crescimento das plantas, porém torna mais instáveis as hastes mais altas. Plantas instáveis dobram-se mais rapidamente na chuva e geralmente produzem menos biomassa. Também acontece uma redução na proporção de substâncias-chave, como proteínas, que podem ser armazenadas nas sementes. Estas são algumas das conclusões do estudo feito pela Universidade Martin Luther Halle-Wittenberg (MLU) e pelo Leibniz Institute for Plant Biochemistry (IPB).

As descobertas do grupo de pesquisa da Halle podem ajudar a criar plantas mais adaptadas a altas temperatura. E indicam também como o nosso agro-pop está em risco por conta do aquecimento global. Seria bom se os membros da bancada ruralista se atualizassem com as descobertas científicas relacionadas com a atividade que representam.

http://pressemitteilungen.pr.uni-halle.de/index.php?modus=pmanzeige&pm_id=2819

https://www.ecodebate.com.br/2018/01/16/pesquisadores-identificam-como-as-mudancas-climaticas-alteram-o-crescimento-das-plantas/

 

COMO SANTUÁRIOS MARINHOS PODEM CONTRIBUIR COM O CLIMA

Com algumas das águas mais frias do mundo, a Antártida funciona como uma das grandes bombas de carbono do sistema oceânico global, absorvendo carbono da atmosfera e sequestrando-o em sedimentos que ficam nas profundezas de suas águas. Mas esse sorvedouro está em risco por conta das alterações provocadas pelos humanos, incluindo a pesca em escala industrial, que está desestabilizando a biodiversidade local.

Para que essa tendência não gere uma catástrofe de dimensões continentais, o Greenpeace lançou esta semana uma campanha pela criação de uma reserva oceânica do tamanho de cinco Alemanhas, no mar de Weddell, na Península Antártica. A ideia original foi da União Europeia, tem o apoio de vários países e será apresentada na conferência dos países sobre a Antártida em outubro. Só falta combinar com os russos e com os noruegueses, os chineses e os sul-coreanos, detentores das empresas de pesca industrial que atuam na região.

Se tudo der certo, os ativistas esperam que este santuário impulsione a criação de uma rede de áreas marinhas protegidas em águas internacionais para proteção da biodiversidade e do clima.

https://www.theguardian.com/environment/2018/jan/13/worlds-biggest-wildlife-reserve-planned-for-antarctica-in-global-campaign

 

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