ClimaInfo, 1º de fevereiro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

PERUÍBE PROÍBE TERMELÉTRICA DEFINITIVAMENTE

A Câmara de Vereadores de Peruíbe, no litoral sul de São Paulo, aprovou ontem no final da tarde uma emenda à lei orgânica do município proibindo a instalação de empreendimentos poluentes. A primeira vítima da lei e, na verdade, sua inspiração, é o projeto de uma termelétrica a gás natural de 1,7 GW. A vitória é dos moradores e de organizações locais, que pressionaram os governos e articularam uma frente parlamentar de vereadores para barrar o projeto.

Interessante lembrar que o município travou uma batalha similar há pouco mais de 30 anos, quando conseguiu impedir que o então ditador militar de plantão, João Figueiredo, construísse um complexo nuclear na região.

https://350.org/pt/comunidade-do-litoral-de-sao-paulo-vence-luta-contra-termeletrica/

 

BANCOS EXIGIRÃO O CAR EM OPERAÇÕES RURAIS A PARTIR DE JUNHO

Essa é do tempo da aprovação do Código Florestal. Depois de um sem número de postergações, a partir de junho, o produtor rural que não tiver feito o Cadastro Ambiental Rural da sua propriedade não terá acesso às linhas de crédito do Plano Safra e outras dedicadas ao agronegócio. Claro, se não inventarem de postergar outra vez. Afinal, 2018 é um ano eleitoral.
http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2018/01/30/141539-car-sera-exigido-por-bancos-a-partir-de-junho.html


AGRONEGÓCIO NÃO QUER MESMO ENFIAR A MÃO NO BOLSO

Temer não consegue agradar nem quando distribui crédito subsidiado. Nesta semana, ele foi para Rio Verde, GO, onde anunciou que o Banco do Brasil abriu uma linha de crédito para o pré-custeio agrícola de R$ 12,5 bilhões a um juro médio de 8,0% ao ano. Isso é um pouco acima da Selic, mas ainda uma taxa impossível de encontrar no mercado. Até o ano passado, as taxas do Plano Safra sempre foram menores do que a Selic. Os produtores rurais entregaram uma carta pedindo juros menores, dizendo que, como estão, “os patamares de juros (…) são incompatíveis e incoerentes com a importância do setor para a economia do país”. O que é um discurso incoerente em si. Qual a importância de um setor da economia que precisa de crédito subsidiado para se achar importante?
http://www.valor.com.br/agro/5294201/produtores-pressionam-por-juros-menores#


HIDRELÉTRICA DE JIRAU INUNDA ÁREA PROTEGIDA E SE DIZ VÍTIMA

Uma área de mais de 4.000 hectares de Parque Nacional Mapinguari, em Rondônia, ficou debaixo d´água no ano passado e corre o risco de ficar outra vez por causa da hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira. O ICMBio quer que a usina solte mais água e rebaixe sua cota de operação, o que implica em gerar menos energia. Coisa que a usina não quer fazer. Ela garante que sempre operou na cota de 90 metros como havia sido contratada para fazer. Acontece que, quando chove muito, a usina acaba provocando um aumento da cota na outra ponta do lago que, transbordando, inunda o Parque. O pessoal da usina alega que o projeto original não previa essa cheia do Madeira e que nada no contrato exige atenção para esse fato. O ICMBio diz que a enchente do ano passado matou parte da floresta e a deixou mais vulnerável a incêndios. O pessoal da usina alertou a Aneel para o risco à barragem que seria reduzir a cota, e o Operador Nacional do Sistema acha que perder energia de Jirau “significaria não só prejuízo para o empreendedor, mas a falta de energia para o sistema”.
Esse problema está acontecendo numa área de 40 km2, numa usina praticamente sem reservatório. Imaginem o que pode provocar um monstrengo com reservatório de milhares de km2.
http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,inundacao-de-reserva-ambiental-afeta-producao-de-energia-de-jirau,70002171865

 

A GESTÃO DA ÁGUA EM SÃO PAULO E NO FÓRUM MUNDIAL

Ontem, dois artigos interessantes falavam sobre a água. Falando sobre a situação de São Paulo, onde nas últimas semanas várias notas têm alertado sobre o risco de um novo racionamento, o presidente da Sabesp, Jerson Kelman, e o secretário de saneamento e recursos hídricos de São Paulo afirmam que não há motivo para preocupação. Eles elogiam a população da Grande São Paulo, que sobreviveu ao corte de 20% durante o racionamento não declarado de 2014-15 e que, passada a crise, ainda consome 15% menos do que antes da crise. Os autores mencionam, também, uma água adicional trazida do Itapanhaú,  um rio que despenca da Serra do Mar e que abastece cidades do litoral como Bertioga. Os autores dizem que todas as contas foram feitas para não prejudicar o pessoal da baixada litorânea, e que o povo de São Paulo agradece. Os autores não mencionam os níveis do Sistema Cantareira (amarelo) nem o da bacia do Piracicaba-Capivari-Jundiaí, onde soaram sinais de alarme.
A outra matéria traz uma entrevista com Hachmi Kennou, do Conselho Mundial da Água, que acha que um dos grandes desafios são os modelos de governança da água. Há algum tempo, o fulcro era o financiamento dos projetos de infraestrutura. Outro tema focado foram os modelos de parceria público-privado. Agora a água está se tornando motivo de guerras e o Conselho Mundial da Água tem a determinação “de colocar a água numa agenda geopolítica, geoclimática, geoambiental e geo-sócio-econômica”, disse Kennou.
Só lembrando que a 8a sessão do Fórum Mundial da Água acontece em Brasília, entre 18 e 23 de março. Informações, programa e inscrições no último link desta nota.
http://www.valor.com.br/brasil/5290753/modelo-de-gestao-da-infraestrutura-da-agua-e-desafio#

http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2018/01/1954285-certeza-liquida.shtml

http://www.worldwaterforum8.org/

 

GERADORAS E GOVERNO CHILENO FAZEM ACORDO PARA NÃO CONSTRUIR MAIS TÉRMICAS A CARVÃO

Um acordo entre o governo chileno e a associação de geradoras de eletricidade, composta pela AES, Colbun, Enel e Engie, estabelece que estas não mais darão início a projetos de térmicas a carvão sem sistemas de captura e armazenamento de CO2, o chamado CCS (carbon capture and storage). Além disso, o acordo criou um grupo conjunto de trabalho que analisará cada planta a carvão existente sob o ponto de vista da tecnologia instalada, dos impactos ambientais e sociais de sua operação e de seu papel na segurança e no suprimento de energia para o sistema chileno. Com estas informações, o grupo definirá um cronograma de desligamento das usinas que não puderem ser acopladas a sistemas de CCS. Segundo o governo, esse passo só está sendo possível pela queda nos preços da geração das fontes renováveis. A matriz chilena tem quase 20 GW de capacidade instalada. Cerca de 30% da eletricidade gerada vem de hidrelétricas, 8% de plantas fotovoltaicas, 6% de eólicas, 2% de térmicas a biomassa, o que soma 46% de fontes renováveis. Pelo lado dos fósseis, que somam os outros 55%, 21% do total gerado vem de térmicas a carvão, 20% a gás natural e 13% a diesel e outros produtos de petróleo.
https://www.afp.com/es/noticias/840/chile-eliminara-el-uso-del-carbon-en-centrales-termoelectricas-para-2050-doc-yc1np3

http://www.setorenergetico.com.br/sustentabilidade/chile-fecha-acordo-para-colocar-um-fim-as-termeletricas-carvao/25137/

 

 

INÉDITO NA AMÉRICA LATINA: JOVENS COLOMBIANOS PROCESSAM GOVERNO POR NÃO FAZER O SUFICIENTE PELO CLIMA

Pela primeira vez na América Latina, um grupo de jovens abre um processo judicial contra seu governo por estar fazendo pouco para enfrentar as mudanças do clima e, portanto, comprometendo seu futuro. Um grupo de 25 jovens entre 7 e 26 anos, vindos de 17 cidades da Colômbia, está ao Tribunal Superior de Bogotá pedindo para participar mais das ações contra o desmatamento na bacia hidrográfica mais importante do mundo, a Amazônica. Por exemplo, a água que supre Bogotá vem, principalmente, de um lago que acumula a chuva tropical que cai sobre a Amazônia colombiana. Os jovens miram o compromisso do governo colombiano de zerar completamente o desmatamento até 2020.

Em 2016, foram desmatados cerca de 700 km2 na Amazônia colombiana. No mesmo ano, o desmatamento na Amazônia brasileira foi dez vezes maior.
http://www.eltiempo.com/vida/medio-ambiente/ninos-y-jovenes-interponen-la-primera-tutela-sobre-cambio-climatico-en-america-latina-175692

http://www.observatoriodoclima.eco.br/jovens-processam-colombia-por-nao-agir-no-clima/


AS MUITAS MENTIRAS DE TRUMP NO SEU PRIMEIRO DISCURSO SOBRE O ESTADO DA UNIÃO

Trump foi ao Congresso anteontem para fazer o primeiro Discurso sobre o estado da União (State of the Union Address) de sua gestão. Tradicionalmente, os presidentes dos EUA prestam contas do que fizeram até então e declaram o que pretendem fazer durante o resto de seu mandato. Trump abriu seu discurso falando da resiliência do povo norte-americano, que suportou um ano de incêndios, secas, furacões, enchentes e ondas de frio. Tudo isso sem sequer mencionar que o clima está mudando. Mais adiante, Trump declarou ter posto fim à guerra contra o carvão limpo e que está transformando os EUA numa potência energética outra vez. Nem ele conseguiu ressuscitar o carvão, pelo menos não ainda, e os EUA são uma potência energética desde há muito tempo. Apesar do nome do discurso ter a palavra “União”, em vários pontos Trump reforçou sua visão de nós contra eles, sejam eles mexicanos, terroristas do ISIS ou mesmo democratas. Dos vários comentários feitos ao discurso, a maioria apontando mentiras deslavadas, vale dar uma olhada na compilação das mentiras feita pelo pessoal da Associated Press.
https://insideclimatenews.org/news/31012018/trump-state-union-address-climate-change-energy-coal-infrastructure

https://apnews.com/e37867ab28704abfbd9ac3dc8ae9612d


MUDANÇA DO CLIMA PODE CRIAR OPORTUNIDADES DE TRILHÕES DE DÓLARES

Na semana passada, em Davos, o megaempresário indiano Anand Mahindra, CEO da corporação que leva seu nome, disse não entender como existem empresas que encaram as mudanças do clima como ameaça e risco. “Tudo que nosso grupo de empresas tem feito para melhorar (o consumo de) energia ou reduzir as emissões de gases de efeito estufa nos trouxe retorno… A ideia de que empresas enfrentam um dilema entre crescer ou fazer mais pelo clima é um mito”. Ele estima que existam trilhões de dólares em oportunidades que virão das mudanças climáticas. O Grupo Mahindra tem ativos da ordem de US$ 19 bilhões.
http://www.powerengineeringint.com/articles/2018/01/mahindra-ceo-says-climate-change-a-6trn-opportunity.html


COMO A GESTÃO DE SUPRIMENTOS PODERIA AJUDAR A ZERAR O DESMATAMENTO NO MUNDO

Muitas corporações acham que estão fazendo sua parte no combate ao aquecimento global ao expurgar da sua cadeia de suprimentos produtos associados ao desmatamento de florestas tropicais. Iniciativas como a nossa moratória da soja e a Roundtable for Sustainable Palm Oil vão nessa direção, tentando assegurar aos grandes supermercados que ninguém desmatou para produzir o que é colocado em suas gôndolas. Um artigo na Nature Climate Change aponta falhas nesta abordagem e sugere que, para que sejam efetivas no combate ao desmatamento, é preciso que estas iniciativas desenvolvam parcerias entre organismos de estado e empresas para dar conta do rastreamento e da fiscalização das cadeias de suprimento.
https://www.nature.com/articles/s41558-017-0061-1

https://www.sciencedaily.com/releases/2018/01/180129131355.htm

 

CLAREAR A SUPERFÍCIE DA TERRA PODE REDUZIR PICOS DE TEMPERATURA EM ATÉ 3°C

Tem gente que chama de geoengenharia, mas são ações que têm muito pouco de engenharia, e não têm a dimensão associada ao prefixo “geo”. Estamos falando de um conjunto de providências relativamente simples de tomar que aumentam a quantidade de luz solar mandada de volta para o espaço, como tornar as edificações mais claras e os tetos mais brancos, e a adoção do plantio direto, que cobre o solo com a palha das colheitas, que também tem o mesmo tipo de efeito. Se isto for feito num único prédio, o efeito é quase nulo. Mas se mais gente agir nesta direção, cientistas preveem que os picos diurnos de temperatura poderão ser reduzidos entre 2°C e 3°C. Talvez isto não mexa muito na temperatura média global, mas, no auge do calor de um dia de verão, a temperatura não subir tanto já é um refresco. Um trabalho publicado na Nature Geoscience relata a modelagem feita para áreas densamente povoadas do hemisfério norte para chegar nesses intervalos  de redução de temperatura.
https://www.nature.com/articles/s41561-017-0057-5

https://www.sciencedaily.com/releases/2018/01/180129181512.htm

http://www.observatoriodoclima.eco.br/geoengenharia-caseira-pode-reduzir-aquecimento-local-diz-estudo/

 

 

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