ClimaInfo, 26 de abril 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

PARECE PIADA, MAS NÃO É

Denúncia da Agência Sportlight mostra que a atual gestão da Eletrobras pagou quase R$ 2 milhões para falarem mal da própria empresa. O contrato foi feito – sem licitação – com o grupo FSB Comunicação, a maior assessoria de imprensa do país. Por meio da divulgação das mazelas e dos problemas da estatal, a diretoria queria com o contrato mobilizar a opinião pública e formar um ambiente favorável à privatização.
http://agenciasportlight.com.br/index.php/2018/04/24/atual-gestao-da-eletrobras-pagou-quase-r-2-milhoes-para-que-falassem-mal-da-propria-empresa/

 

INDÍGENAS ENFRENTAM OFENSIVA PARLAMENTAR

Mais de 100 projetos anti-indígenas tramitam no congresso, e tramitam mais rapidamente do que as pautas não-indígenas, segundo levantamento feito pela Agência Pública. Entre 2015 e 2018, as propostas anti-indígenas tramitaram em média 28,8 vezes; já as demais, somente 17,2 vezes. A Pública diz, no entanto, que o movimento acentuado destas proposições não significa, necessariamente, que a pauta avançou para a aprovação no congresso, mas indica que o tema se tornou uma das prioridades da última legislatura.
A atual formação do congresso é a mais conservadora desde 1964, segundo levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). O grande número de policiais, religiosos, fazendeiros e empresários eleitos por partidos de direita e centro-direita em 2014, segundo o órgão, também é tendência para o pleito deste ano.

O levantamento da Pública mostra que os estados da Amazônia Legal elegeram 49 deputados federais da Frente Parlamentar da Segurança Pública, 35 representantes da Frente Parlamentar Evangélica e 45 da Frente Parlamentar Agropecuária. O conjunto de deputados destes três grupos é conhecido como Bancada BBB, por unirem a bancada armamentista (“da bala”), a ruralista (“do boi”) e a evangélica (“da Bíblia”). Dito de outro modo, 81% dos deputados federais da Amazônia Legal, região que abriga o bioma com a maior diversidade de espécies do planeta e um enorme estoque de carbono, compõem pelo menos uma destas bancadas.
https://apublica.org/2018/04/indigenas-enfrentam-a-maior-ofensiva-parlamentar-em-20-anos/

 

CLÃ DE POLÍTICOS, EMPREITEIROS E CORRETORES QUER RIFAR SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO PARA FAZER LOTEAMENTOS DENTRO DE PARQUE EM IBIRITÉ, MG

O clã Pinheiro domina Ibirité, na região metropolitana de Belo Horizonte, e elegeu um dos seus – Toninho Pinheiro (PP-MG) – como deputado federal. O clã quer mudar uma lei federal que protege mais de 2.100 parques nacionais e outras reservas ambientais, colocando em risco o Sistema Nacional de Unidades de Conservação. A proposta de Toninho Pinheiro foi discutida ontem na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados. O deputado conta com apoio de seus pares da bancada ruralista. Com o projeto, o clã quer garantir a propriedade e o uso de fazendas dentro e no entorno do Parque Estadual da Serra do Rola Moça, flexibilizando a legislação federal que protege Parques Nacionais e outras reservas ambientais, onde pretende fazer loteamentos. A nova redação da lei também permitiria que os Pinheiro ampliassem dois loteamentos que já possuem, ambos na divisa com o parque.
A matéria da Intercept deixa bem claro como nossas leis são feitas com base na corrupção e no uso dos poderes e da política para alavancar interesses privados.
https://theintercept.com/2018/04/24/familia-pinheiro-projeto-lei-unidades-conservacao/

http://www.camara.leg.br/internet/ordemdodia/integras/1653085.htm

https://ruralometro.reporterbrasil.org.br/politicos/toninho-pinheiro

 

O FUTURO DA AGRICULTURA BRASILEIRA, SEGUNDO A EMBRAPA

A Embrapa lançou na 3a feira sua visão da agricultura brasileira para 2030. O relatório, bastante extenso e aprofundado, analisa sete tendências que têm forte potencial de impacto sobre a agricultura: 1) mudanças socioeconômicas e espaciais; 2) intensificação e sustentabilidade dos sistemas de produção agrícolas; 3) mudança do clima; 4) riscos para a agricultura; 5) agregação de valor nas cadeias produtivas agrícolas; 6) protagonismo dos consumidores; e 7) convergência tecnológica e de conhecimentos na agricultura.
O capítulo sobre mudança do clima não traz novidades substanciais, mas faz uma boa síntese dos estudos nacionais e internacionais dos impactos do aquecimento global sobre a agricultura. As mensagens mais importantes vêm das simulações feitas para os anos 2020, 2050 e 2070, em um cenário que considera que nada será feito para deter o aquecimento global. Nesta situação, as perdas da agropecuária chegariam a R$ 7,4 bilhões, em 2020, e R$ 14 bilhões, em 2070; a soja seria a cultura mais afetada (no pior cenário chegaria a 40% de perdas em 2070); o café arábica pode perder até 33% da área de baixo risco em São Paulo e Minas Gerais, apesar da possibilidade de aumentar sua área na região Sul do país; o milho, o arroz, o feijão, o algodão e o girassol poderão sofrer forte redução de área de baixo risco no Nordeste, com significativa perda da produção. Por outro lado, este cenário indica que a mandioca poderá ter um ganho de áreas com baixo risco, porém sofreria perdas na região Nordeste, e a cana-de-açúcar poderá dobrar sua área plantada nas próximas décadas. O capítulo destaca, também, as estratégias de adaptação do setor definidas no Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima, de 2016.
http://www.valor.com.br/agro/5480413/embrapa-lista-os-desafios-da-agricultura-do-pais-ate-2030

https://www.embrapa.br/futuro-da-agricultura

https://www.embrapa.br/olhares-para-2030

 

VOTAÇÃO DO “PL DO VENENO” ADIADA PARA 8 DE MAIO

A reunião da comissão especial que examina o “PL do Veneno” (PL 6299/2002) convocada para ontem, 25/04, foi atropelada pela abertura dos trabalhos no plenário da câmara e transferida para o dia 8 de maio. A pauta tinha um único ponto: a discussão e a votação do parecer do relator, o deputado ruralista Luiz Nishimori (PR/PR). Apesar do conteúdo do relatório ser ainda desconhecido, sabe-se que este será favorável à destruição da atual lei de agrotóxicos. E imagina-se que o projeto será aprovado com folga na comissão, dada sua composição ter maioria ruralista. O “PL do Veneno”, entre outras, muda o nome dos “agrotóxicos” para “defensivos fitossanitários”, admite a possibilidade de registro de substâncias comprovadamente cancerígenas e permite a venda de alguns agrotóxicos sem receituário agronômico e seu uso preventivo.

Ao mesmo tempo, o Tribunal de Recurso da Califórnia decidiu contra a Monsanto e manteve o glifosato – o ingrediente ativo do herbicida Roundup, um dos agrotóxicos mais usados no Brasil – na lista de produtos carcinogênicos. A corte se baseou em pesquisas da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer da Organização Mundial de Saúde (IARC).

https://www.nrdc.org/experts/avinash-kar/court-upholds-ca-reliance-expert-science-against-monsanto

 

POR QUE A CANA-DE-AÇÚCAR NÃO DECOLOU EM OUTROS PAÍSES TROPICAIS?

A agroindústria da cana-de-açúcar é um caso de sucesso, entre outras coisas, por ter conseguido aumentos substantivos de produtividade no campo e no processamento de açúcar e álcool. Pesquisadores da UNICAMP debruçaram-se durante cinco ano sobre o setor para entender porque outros países tropicais não tiveram o mesmo sucesso, e para desenhar estratégias que permitissem que cheguem lá. O professor Luiz Cortez explica que “a formação de uma rede robusta de países produtores do etanol de cana é importante para consolidar o mercado de biocombustíveis. O objetivo do nosso projeto é gerar conhecimento para orientar as estratégias destes países”. Nesses tempos do Acordo de Paris, mais países produzindo biocombustíveis implica em redução das emissões da gasolina e do diesel. Em alguns países da América Latina, os pesquisadores observaram que seria possível produzir álcool suficiente para garantir uma mistura de 10% na gasolina, sem plantar cana em mais nenhum hectare, só com aumentos de produtividade no campo e nas destilarias. Na África, plantando cana em uma pequena parte dos pastos existentes, seria possível produzir álcool para a queima em fogões, em substituição à lenha, cuja queima indoor é maléfica à saúde humana. Hoje, a fumaça que invade as casas é um dos grandes problemas de saúde ao sul do Saara. Os pesquisadores, também, estimam que o bagaço de cana resultante seria suficiente para aumentar a geração de eletricidade entre 10% e 20% em vários países.

Os pesquisadores identificaram que existe uma grande diversidade de modos de produção da cana e do álcool, e que tentar implantar uma única receita, como no modo brasileiro, não daria certo. Um dos pontos principais é a estrutura agrária. Enquanto aqui a usina é dona de parte das terras e arrenda o restante, em muito países a cana é plantada em pequenas propriedades para ser vendida. A usina não tem plantações próprias. Isso dificulta a introdução de técnicas mais avançadas, de modo que não é possível atingir uma escala de produção economicamente interessante. As usinas também têm todo tipo de porte, ao contrário daqui onde, desde o Proálcool, as usinas são todas acima de certo porte. O grupo realizou workshops nos EUA e na África do Sul e atraiu pesquisadores de vários países.

http://revistapesquisa.fapesp.br/2018/04/19/fronteiras-do-etanol-de-cana-de-acucar/

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0960148118300247?via%3Dihub

https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fenrg.2016.00039/full

 

MINERADORA CANADENSE SAI DA BELO SUN DEPOIS DO ABAIXO-ASSINADO INTERNACIONAL CONTRA A MINA NO XINGU

Uma das maiores acionistas da Belo Sun vendeu metade das suas ações, e deve vender a outra metade até o próximo mês. A Belo Sun é a empresa que quer explorar uma mina de ouro ao lado da Usina de Belo Monte. O anúncio da venda das ações aconteceu logo depois de um abaixo-assinado ter coletado no site Avaaz mais de 700 mil assinaturas contra o projeto. O pedido teve apoio de indígenas Juruna e de movimentos como o Xingu Vivo Para Sempre.

A Belo Sun respondeu rapidamente ao mercado, dizendo que vai recomprar parte das ações e emprestar recursos para seus executivos comprarem uma outra parte. Não há sinal de que o projeto vai parar. Mas quando um rato grande abandona o navio…

https://www.agnicoeagle.com/English/investor-relations/news-and-events/news-releases/news-release-details/2018/Agnico-Eagle-Completes-Sale-of-Common-Shares-of-Belo-Sun-Mining-Corp/default.aspx

http://belosun.com/news/releases/index.php?content_id=110

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2018/04/mineradora-vendera-acoes-de-belo-sun-depois-de-abaixo-assinado-na-internet.shtml


O CANADÁ DE TRUDEAU É CRITICADO POR QUERER SER CAMPEÃO CLIMÁTICO SEM DEIXAR DE EXPLORAR FÓSSEIS

Thomas D. Sisk escreveu uma crítica pesada ao primeiro ministro Trudeau por seu apoio ao oleoduto projetado para escoar a produção das áreas betuminosas do Norte do país. Segundo Sisk, o tanto que o Canadá está prometendo reduzir de emissões será anulado pelas emissões da queima do que passar pelo oleoduto. Sisk também acusa o governo de esconder do público análises científicas que mostram os riscos ambientais do projeto e suas implicações climáticas. Trudeau vinha defendendo o projeto alegando que ele é um mal necessário para manter a província de Alberta dentro do plano climático. As áreas betuminosas ficam nessa província, a mais rica do país. Thomas D. Sisk é professor de ciências ambientais na Northern Arizona University.

http://thehill.com/opinion/energy-environment/384468-canada-cant-have-it-both-ways-on-pipelines-and-climate

 

A CHINA JÁ INSTALOU MAIS DE 10 GW FOTOVOLTAICOS NESTE ANO

Uma nota rápida para contar que a China instalou quase 10 GW de capacidade fotovoltaica entre janeiro e março deste ano, 22% a mais do que no começo do ano passado. Interessante é que 80% dessa capacidade é de geração distribuída, paineis solares sobre casas e prédios, e só 20% em grandes centrais, invertendo o que vinha acontecendo até o ano passado.

Em tempo: 10 GW são quase equivalentes a uma Belo Monte. Sem os efeitos colaterais desta.

https://cleantechnica.com/2018/04/24/china-installs-nearly-10-gigawatts-of-solar-in-first-quarter-up-22/

 

MUDANÇA DO CLIMA PROVOCA FORTE SECA NO AFEGANISTÃO

No meio de muitas notícias sobre impactos climáticos, chama a atenção a forte seca que afeta o Afeganistão. Vinte de suas 34 províncias estão no equivalente ao nosso estado de emergência. No inverno passado, caiu 60% menos chuva e neve. A sofrida agricultura do país depende das águas que descem do derretimento da neve. A ajuda humanitária está ameaçada pelo recrudescimento da guerra, como acontece em toda primavera e verão.

https://www.reuters.com/article/us-afghanistan-weather/emergency-alerts-loom-as-drought-takes-hold-in-war-torn-afghanistan-idUSKBN1HU1M4

 

NOVA BATERIA DE FLUXO TEM TESTES POSITIVOS

A Lockheed americana desenvolveu uma bateria de “fluxo”, feita de materiais baratos e não-tóxicos, que pode ser um grande avanço no armazenamento de eletricidade. Estas baterias funcionam com dois líquidos, cada um circulando em um circuito fechado separados por uma membrana semipermeável no trecho no qual os dois circuitos se aproximam. Um dos líquidos tem tendência de liberar elétrons, o outro de absorvê-los. A membrana é o local de passagem da corrente que pode alimentar um circuito elétrico. Depois da bateria descarregada, a eletricidade de uma fonte externa recompõe os elétrons dos dois líquidos. Uma das grandes vantagens é que, teoricamente, não existe perda de material e, portanto, não existe limite para a quantidade de recargas. Até agora, as baterias mais avançadas têm sido construídas com materiais ou muito caros ou muito tóxicos, ou os dois. A Lockheed diz ter dado o pulo do gato. Dependendo do custo, estas baterias podem vir a ser uma alternativa às de lítio-ion. A empresa pretende lançar o produto no ano que vem.

https://uk.reuters.com/article/us-lockheed-battery/lockheed-says-flow-battery-will-boost-use-of-renewable-power-idUKKBN1HU2SM

 

GRAFENO PODE REDUZIR SUBSTANCIALMENTE AS EMISSÕES DAS CIMENTEIRAS

A indústria do cimento é responsável por cerca de 5% das emissões mundiais. Cerca de metade destas emissões vêm da queima de fósseis no forno que precisa ultrapassar os 1.200 oC. A outra metade vem das reações químicas que transformam o calcário em cimento. Até hoje, a abundância de fósseis e de calcário garantiu que o preço do cimento fosse muito mais baixo do que o de materiais construtivos concorrentes. Por isso, existe muita pesquisa buscando reduzir as emissões do produto. Um grupo de pesquisa da Universidade de Exeter incorporou grafeno ao cimento e produziu um composto que é duas vezes mais forte e quatro vezes mais resistente à água do que o cimento tradicional. O grafeno é formado por camadas de um átomo de carbono de espessura, nas quais os átomos de carbono formam hexágonos compactados. É considerado um dos materiais mais leves e mais resistentes do mundo. Se a nova mistura vier a ser um produto comercial competitivo, o mundo precisará de muito menos cimento para fazer as mesmas coisas. E, portanto, emitir muito menos gases de efeito estufa.

https://www.theguardian.com/environment/2018/apr/23/graphene-a-game-changer-in-making-building-with-concrete-greener

 

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