ClimaInfo, 7 de junho 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

SAIBA QUEM BANCA E INSTRUI A BANCADA RURALISTA

Os slogans “Agro é pop, Agro é tech” e “Agro: a indústria-riqueza do Brasil” vêm sendo martelados cotidianamente sobre os telespectadores do horário nobre da TV Globo. Você já deve ter se perguntado quem organizou a campanha e quem paga por ela. A agência Pública finalmente jogou uma luz sobre a trama de organizações, empresas e associações que bancam esta campanha além de instrumentalizar e bancar as atividades da bancada ruralista no congresso. No centro da teia está o Instituto Pensar Agropecuária, o IPA – entidade que, segundo A Pública, controla nos bastidores a poderosa bancada ruralista -, e seu diretor, o engenheiro agrônomo João Henrique Hummel Vieira, 56 anos, lobista e estrategista das ações rurais no Legislativo. O IPA arrecada recursos de 40 entidades do setor agropecuário, as quais, por sua vez, arrecadam doações das multinacionais de sementes, insumos e agroquímicos. Com os recursos, além das campanhas, oferece quadros técnicos e políticos para instruir deputados e senadores, logística e estrutura física para a bancada, e constrói semanalmente a pauta dos ruralistas, com informações e argumentos sobre o que deve ser discutido no Congresso. Declaradamente, seus adversários são índios, quilombolas, sem-terra e ONGs internacionais que, na opinião de Hummel, trabalham para inviabilizar a expansão do agronegócio em favor dos países europeus, e têm como objetivo “modernizar” as legislações trabalhistas rural, fundiária, tributária e indigenista, “para “garantir a segurança jurídica necessária” ao agronegócio.

Pelo tom das matérias, o IPA persegue seus objetivos passando sem hesitação o trator por cima de quem se opuser. Hummel chegou a ser pego na sala de uma das comissões votando como se fosse um deputado.

https://apublica.org/2018/06/o-agro-nao-e-pop/

https://apublica.org/2018/06/conversa-com-um-lobista/

 

PLANO SAFRA CRESCE ENQUANTO PLANO ABC É CORTADO MAIS UMA VEZ

O Plano Safra anunciado ontem confirma a pujança do agronegócio no governo: seus recursos subiram 3% e seus juros caíram, em média, 1%, para algo em torno de 6,5%-7%. Já o mirrado o plano da agricultura de baixo carbono, o ABC, foi cortado de R$ 2,13 bilhões para R$ 2 bilhões, seguindo em trajetória de “emirramento”: já teve R$ 3 bi em 2015-16 e R$ 2,9 em 2016-17.

A agropecuária responde, hoje, por 22% das emissões brutas de gases de efeito estufa (dados do SEEG – Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima); frente a este dado e às promessas feitas pelo Estado brasileiro junto ao Acordo de Paris, era de se esperar que o plano ABC tivesse trajetória crescente.

Em tempo: Carlos Gogo, consultor do agronegócio, disse no ano passado que o Plano Safra não é bem um plano, posto que é reciclado anualmente, mexendo em montantes, juros e condicionantes, o que leva o agricultor a não conseguir fazer planos de médio e longo prazos.

Em tempo 2: Elvison Ramos, coordenador nacional do Plano ABC, apresentou ontem uma comparação entre o desmatamento e a expansão da pecuária, insinuando que o boi não desmata. Ele tem razão, os bois não desmatam, só ocupam a área desmatada no ano anterior.

http://www.agricultura.gov.br/noticias/temer-e-maggi-anunciam-r-194-3-bi-para-plano-agricola-e-pecuario/ApresentacaoLancamentoPAP20182019_EDITADO_05062018Sintese_final…1.pdf

http://www.agricultura.gov.br/noticias/plano-abc-deve-contribuir-para-reducao-de-co2-em-40-ate-2020

http://www.agricultura.gov.br/noticias/temer-e-maggi-anunciam-r-194-3-bi-para-plano-agricola-e-pecuario

https://gauchazh.clicrbs.com.br/economia/campo-e-lavoura/noticia/2017/05/carlos-cogo-planos-safra-apoio-ou-dor-de-cabeca-9791852.html

http://www.observatoriodoclima.eco.br/verba-para-agricultura-sustentavel-e-mais-baixa-desde-2010/

 

MPF IDENTIFICA MILHARES DE DESMATADORES ILEGAIS

O Ministério Público Federal identificou mais de 2.300 pessoas e empresas proprietárias de terras na Amazônia responsáveis por desmatamentos ilegais da floresta entre agosto de 2016 e julho de 2017. No total, a área desmatada soma 1,6 mil km2, quase um quarto de todo o desmatamento do período. O MPF estima que os processos de  reparação ambiental somarão R$ 2,6 bilhões. Das 1.550 áreas nas quais o desmatamento foi identificado, 54 estão dentro de unidades de conservação federais e 18 dentro de terras indígenas, e outras mais dentro de glebas federais.

http://www.mpf.mp.br/am/sala-de-imprensa/noticias-am/amazonia-protege-mpf-identifica-responsaveis-por-todos-os-desmatamentos-com-mais-de-60-hectares-na-floresta-amazonica-entre-2016-e-2017

https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2018/06/06/mp-identifica-162-mil-hectares-de-remocao-de-floresta-na-amazonia-legal.htm

 

PETROLEIRAS VERSUS ÁREA DE PRESERVAÇÃO NOS CORAIS DA AMAZÔNIA

O calendário de leilões de áreas de exploração de petróleo aprovado ontem pelo CNPE prevê a oferta de blocos exploratórios na foz do Amazonas nas 16a e 17a rodadas a serem realizadas em 2019 e 2020.
Ontem também, o deputado Vital do Rêgo (PSB/PB) protocolou um projeto de lei que transforma os corais da Amazônia em Área de Preservação Permanente.
http://epbr.com.br/o-que-o-novo-calendario-de-leiloes-indica

http://epbr.com.br/corais-da-amazonia-podem-virar-area-de-preservacao-permanente/

 

‘PAGA-SE MENOS PELO DIESEL, MAS MAIS PELO FRETE’

A frase foi dita por Antônio Rodrigues de Pádua, diretor da Unica (União da Indústria de Cana de Açúcar) ao informar que as muitas usinas que pararam sua produção durante a greve dos caminhoneiros já estão de volta à atividade. As usinas terão um alívio com a redução do preço do diesel, já que consomem de 4 a 5 litros de diesel por tonelada de cana processada. Mas estão preocupadas com o tabelamento do frete. Aliás, as usinas e todo o setor agropecuário. O ministro Maggi disse que a tabela “é extremamente elevada, praticamente inviabiliza o setor produtivo”. Exageros à parte, um cabo de guerra está configurado. Os produtores gostariam muito de voltar ao mundo do frete livre, mas aceitariam uma tabela com valores menores. As críticas ruralistas provocaram uma reação rápida da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) dizendo que a tabela não está em negociação. Nas suas redes, os caminhoneiros ameaçam parar outra vez se o frete baixar.

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/vaivem/2018/06/usinas-sucroalcooleiras-voltam-ao-normal-mas-tabela-minima-de-frete-preocupa.shtml

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,sob-pressao-de-produtores-rurais-governo-vai-mudar-tabela-de-fretes,70002339132

http://www.valor.com.br/brasil/5569991/tabelamento-do-frete-esbarra-em-ruralistas

 

O ROTA 2030 PODE SER VÍTIMA DA GREVE DOS CAMINHONEIROS

O programa Rota 2030, que prevê isenções fiscais para montadoras de carros em troca de aumentos na eficiência de seus produtos, parece estar dando marcha a ré. Depois de meses de negociação, parecia que o ministério da fazenda, o ministério da indústria e as montadoras tinham chegado a um acordo. Mas, como a fazenda está cortando o que pode e o que não deve para cobrir o desconto do diesel dado aos caminhoneiros, o Rota entrou na mira da tesoura. A fazenda alega o aperto fiscal, mas também levanta a preocupação com a possibilidade de o programa ser contestado na OMC (Organização Mundial do Comércio), por prejudicar a livre concorrência com os importados.

Não deixa de ser irônico as montadoras terem faturado um monte vendendo os caminhões que agora podem lhes tirar isenções fiscais.

http://www.valor.com.br/brasil/5573039/sob-bombardeio-da-area-economica-regime-automotivo-pode-nao-sair

 

A ECONOMIA VERDE JÁ VALE O MESMO QUE A DOS FÓSSEIS

Uma das mais importantes empresas de análise de mercado, a FTSE, estima que a economia que gira em torno das fontes renováveis de energia e dos serviços ligados ao meio ambiente monta US$ 4 trilhões, 6% de tudo que é transacionado em bolsas de valores do mundo. Este é mais ou menos o valor da economia dos combustíveis fósseis. Mas, enquanto a economia fóssil está em queda, a economia verde está em crescimento. Analistas da FTSE acham que falta pouco para ser alcançada a meta de investimentos de US$ 90 trilhões até 2030, meta definida por Sir Nicholas Stern em 2016.

http://www.climatechangenews.com/2018/06/05/green-economy-now-worth-much-fossil-fuel-sector/

 

EMISSÕES DA CHINA EM ALTA, MAS GOVERNO ESPERA QUE POR POUCO TEMPO

As emissões de carbono da China aumentaram 4% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, revertendo a tendência dos últimos anos. É possível que o aumento chegue a 5% até o final do ano. Mas Xie Zhenhua, oficial chinês responsável pelas questões climáticas, anunciou que a China atingirá seus compromissos antes de 2030. Em um encontro realizado em maio na Universidade de Tsinghua, Zhenhua e Todd Stern, responsável pelas negociações climáticas durante o governo Obama, lembraram do estresse das longas discussões sobre o uso de “até” ou “por volta de” para a definição de uma meta para o pico das emissões chinesas no ano de 2030. “Até” acabou vencendo, mas Zhenhua subestimou a capacidade chinesa de reduzir suas emissões (bem, pelo menos até agora).

https://unearthed.greenpeace.org/2018/05/30/china-co2-carbon-climate-emissions-rise-in-2018

http://www.chinawatch.cn/a/201806/05/WS5b161829a3106beef440fe94_1.html

 

NOVOS GOVERNOS DA ESPANHA E DA ITÁLIA SINALIZAM COMPROMISSOS COM A DESCARBONIZAÇÃO

Os dois novos governos da Espanha e da Itália sinalizaram intenções sérias com a estabilização do clima. Na Espanha, o novo primeiro ministro Pedro Sanchez convidou Teresa Ribera, uma líder climática, a assumir o superministério que juntou Energia, Meio Ambiente e Mudanças Climáticas. Espera-se que ela acelere a desativação de termelétricas a carvão espanholas. Na Itália, o governo de coalizão populista de direita assumiu com um discurso verde, dizendo que homem e meio ambiente são dois lados da mesma moeda, e prometendo acelerar a descarbonização da economia. Para testar o compromisso italiano deve-se observar o que o novo governo fará frente à recente iniciativa de 7 países da União Europeia, que pede um aumento na ambição de redução de emissões. Vamos ver se a Itália será o oitavo país da iniciativa ou se as declarações são apenas “parole, parole, parole”.
https://www.elespanol.com/espana/20180604/teresa-ribera-cambio-climatico-energia-medio-ambiente/312469923_0.html

http://www.climatechangenews.com/2018/06/05/spain-italy-leadership-changes-raise-hopes-eu-climate-ambition/

 

TASMÂNIA PLANEJA CONSTRUIR USINAS REVERSÍVEIS PARA SE TRANSFORMAR NA BATERIA DA AUSTRÁLIA

A Tasmânia começou estudos para construir 14 hidrelétricas reversíveis com capacidade de 4,8 GW. A região quer aproveitar o excedente de plantas eólicas para levar água até represas construídas em altos de morros. Quando faltar vento ou a demanda aumentar, é só deixar a água descer para movimentar as turbinas das usinas. A ambição do programa é servir como uma central de armazenamento de energia para a Austrália. A Tasmânia é uma ilha-estado da Austrália e fica ao sul do continente. Seu relevo tem origem vulcânica e tem muitas montanhas escavadas nas últimas glaciações. É nesse relevo que o governo quer aproveitar para construir as hidrelétricas reversíveis.

https://www.theguardian.com/environment/2018/jun/06/pumped-hydro-projects-unveiled-as-tasmania-bids-to-be-battery-of-the-nation

 

A PEGADA DE CARBONO DE 13 MIL CIDADES

Acaba de sair um estudo que estima a pegada de carbono de 13 mil cidades de todo o mundo. A mensagem é simples: governos locais têm tanta oportunidade de redução de emissões de gases de efeito estufa quanto governos federais. O trabalho mostra que as 100 maiores cidades do mundo respondem por quase 20% das emissões globais, apesar de abrigarem somente 11% da população. As três maiores pegadas são as das cidades de Seul (Coreia do Sul), Guangzhou (China) e Nova York (EUA). As duas cidades brasileiras com maiores pegadas são, claro, São Paulo, que aparece em 63o lugar no ranking global, e o Rio, em 144o. A surpresa é a pegada grande de cidades relativamente pequenas como Colônia (Alemanha) e Montreal (Canadá).

http://iopscience.iop.org/article/10.1088/1748-9326/aac72a

http://citycarbonfootprints.info/

 

Siga o ClimaInfo nas redes sociais: www.facebook.com/climainfo e www.twitter.com/climainfonews