ClimaInfo, 26 de julho 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

COMO CUMPRIR A PROMESSA FEITA AO ACORDO DE PARIS?

O estado brasileiro se comprometeu junto ao Acordo de Paris com a redução das emissões de gases de efeito estufa do país em 37% até 2025, com base nas emissões de 2005, além de indicar uma redução de 43% a ser obtida até 2030. Naquele momento, o compromisso foi bem recebido, principalmente por prever uma redução absoluta de emissões, e por isto ter vindo de um país em desenvolvimento. Mas, até agora, não existe um plano oficial para cumprir o compromisso. Em 2017, o governo elaborou um documento para subsidiar diálogos com a sociedade sobre uma estratégia para tal, mas o processo ainda não chegou ao fim. Em paralelo, o Fórum Brasileiro de Mudança Climática (FBMC) envolveu representantes de governo, do setor privado, de organizações da sociedade civil e de instituições de pesquisa na discussão e priorização de possíveis ações para o cumprimento do compromisso. Foram levantadas 255 ações/medidas de mitigação, das quais foram selecionadas 40 para o cumprimento do compromisso, e outras 59 para o curto prazo (antes de 2020). Cada uma das ações selecionadas foi avaliada em função de seu potencial de mitigação, de sua compatibilidade com uma estratégia de longo prazo carbono-neutra, dos impactos sociais sobre emprego, renda e outros indicadores sociais e de seus impactos sobre o meio ambiente. A viabilidade das ações também foi avaliada. O resultado deste processo está no documento ‘Proposta Inicial de Implementação da Contribuição Nacionalmente Determinada do Brasil’ que está sendo apresentado aos candidatos à presidência e ao próprio governo. O texto pode ser baixado do primeiro link abaixo. O segundo link leva a uma entrevista dada à rádio CBN pelo Coordenador Executivo do FBMC, Alfredo Sirkis.

https://drive.google.com/file/d/1puFdkXpY3Ms8yyMPB7z2mIen7dDcFiha/view  

https://forumbrasilclima.org/consulta-publica-2017/

http://cbn.globoradio.globo.com/media/audio/195599/grupo-vai-pressionar-presidenciaveis-por-acoes-con.htm

 

QUEM DISSE QUE OS FÓSSEIS SÃO GARANTIA DE SEGURANÇA ENERGÉTICA?

Não bastasse a falta de combustíveis nas cidades durante a greve + lockout do transporte rodoviário, agora é a manutenção programada de uma plataforma que opera em um dos principais campos do pré-sal que aparece para mostrar que não necessariamente os combustíveis fósseis são garantia de segurança energética. A parada da plataforma, que começou na 2a feira e vai até 8 de setembro, ocorre em pleno auge do período seco, quando o sistema elétrico atual mais precisa das usinas térmicas para evitar uma queda ainda mais acentuada no volume de água dos reservatórios. Sem combustível para rodar suas turbinas, sete termelétricas pararão temporariamente, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), deixando de gerar até 2,1 GW.  A Aneel mandou ofício ao ONS reclamando do momento escolhido não ser “o mais adequado” e cobrando esclarecimentos sobre os motivos da programação nestas data e as medidas a serem tomadas para garantir o abastecimento de energia, principalmente no Nordeste, além de um detalhamento dos impactos disso para o nível dos reservatórios e para os custos totais de operação do sistema.

https://www.valor.com.br/brasil/5686567/falta-de-gas-prejudica-geracao-de-termicas-e-acende-alerta-na-aneel

 

RESISTINDO AO TABELAMENTO DOS FRETES PROPOSTO POR TEMER, AGRONEGÓCIO INVESTE EM CAMINHÕES

A tabela de preços mínimos para os fretes rodoviários prometida pelo governo Temer durante a greve + lockout do transporte rodoviário está estimulando a criação ou o reforço de frotas próprias de caminhões para o escoamento das safras. Para cargas a granel, como soja e milho, os valores de fretes para longas distâncias até agora propostos representam, em média, altas estimadas entre 30% e 50% em relação aos preços que vinham sendo praticados. O Valor identificou planos mais ou menos avançados de investimento em frotas próprias na Cargill, na paranaense Coamo, a maior cooperativa agrícola da América Latina, na JBS, na Copersucar e entre empresas gaúchas de laticínios filiadas ao Sindilat.

https://www.valor.com.br/agro/5684651/agroindustrias-investem-em-caminhoes

 

PARA O MUNDO, BASTA UM TRUMP

Ontem falamos que Bolsonaro, se eleito, quer tirar o Brasil do Acordo de Paris. Comentando esta intenção, Tasso Azevedo diz n’O Globo que “a experiência recente nos EUA nos mostra que é preciso levar a sério estes discursos e procurar desconstruí-los com argumentos claros”, antes que se consolidem pelo embate político. Não vamos nos alongar nos argumentos científicos levantados no artigo, mas vale destacar a observação sobre a coesão até agora apresentada pelas instituições brasileiras no processo de Paris. Azevedo lembra que “o Brasil teve um papel fundamental no desenho do Acordo de Paris, sendo o arquiteto da proposta de compromissos nacionais voluntários revisados a cada cinco anos como pedra fundante do acordo. Mesmo em meio à crise política e ao processo de impeachment de 2016, a ratificação do Acordo de Paris foi um momento de rara coesão no Congresso brasileiro, sendo aprovado por unanimidade tanto na Câmara quanto no Senado”. Para Azevedo, “a saída do Acordo seria um vexame para a diplomacia brasileira e um ato de descaso com as populações em situação de risco. Também representaria uma enorme perda de oportunidade para a economia brasileira tornar as suas vantagens comparativas em vantagens competitivas”. Azevedo termina seu artigo dizendo que: “Para o mundo, basta um Trump. Não precisamos de outro. Aqui não!”. Assinamos embaixo.

https://oglobo.globo.com/opiniao/aqui-nao-22915925

 

NOVO ESTUDO ESTIMA CUSTO DO AUMENTO DO RIGOR CONTRA O DESMATAMENTO

A economista Mari Aparecida dos Santos modelou diferentes cenários para estimar o custo de um eventual aumento do rigor contra o desmatamento. Ela tomou como referência a aplicação do Código Florestal na letra da lei. E comparou com um cenário sem anistia a quem um dia desmatou, e com outro sem as Cotas de Reserva Ambiental (CRA). Estas cotas funcionam como um sistema de compensação pelo qual um proprietário com uma área florestal maior do que a exigida por lei vende direitos a outro com déficit de reserva legal. Eliminar as cotas implica todas as propriedades terem florestas nas suas APPs e áreas de reserva legal. A economista estima que isto teria um custo para o país da ordem de 0,62% do PIB e mostra que a conta por estado seria desigual. O Mato Grosso, por exemplo, no cenário sem os CRAs, sofreria uma queda de 4,5% em seu PIB, enquanto o PIB de Rondônia teria uma elevação de 1,5%.

Em quase qualquer situação, 0,62% de alguma coisa é quase nada, não é um número que impressiona. Mas, para se ter uma ideia do que pode ser uma queda de 0,62% no PIB, basta ver que se estima que a greve + lockout dos transportes rodoviários tenha provocado uma queda do PIB de entre 0,2% e 0,7%, e que o FMI acha que o aumento do PIB deste ano no Brasil será de 1,5%. Frente a estes valores, 0,62% pode ser, agora, um percentual bastante relevante.

https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-humanas/maior-rigor-contra-desmatamento-tiraria-menos-de-1-do-pib/

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,pib-fraco-e-greve-de-caminhoneiros-abatem-calculos-para-economia,70002330737

https://portugaldigital.com.br/ministerio-da-fazenda-estima-que-paralisacao-dos-caminhoneiros-custou-r-15-bilhoes-a-economia-brasileira/

 

INCÊNDIOS NA GRÉCIA TÊM PROBABILIDADE MAIOR DE OCORRÊNCIA DEVIDA AO AQUECIMENTO GLOBAL

Milhares de moradores e turistas tiveram que fugir dos incêndios que começaram na 2a feira sob uma intensa onda de calor e seca associada a ventos de mais de 80 km/h. Até ontem, contavam-se pelo menos 79 mortos e dezenas de desaparecidas. Um grupo de 26 corpos – alguns enlaçados – foi encontrado em um penhasco à beira-mar, onde acredita-se tenham ficado presos ao tentar fugir das chamas.

A imprensa internacional de ontem trazia várias entrevistas com cientistas dizendo que as mudanças climáticas tornaram este evento climático extremo “mais provável”. O Professor Peter Stott, do Met Office do Reino Unido, compara a ação probabilística do aquecimento global à do jogador mau-caráter que vicia os dados para aumentar a chance de ganhar nas apostas: “se você joga os dados repetidas vezes, espera que cada jogada resulte em números diferentes. Mas, se repetidas vezes aparecem dois números seis, certamente você pensará que “isso não é normal, alguém viciou estes dados”. Stott diz que, no caso dos incêndios que ocorrem agora na Grécia, é o aquecimento global que viciou os dados. O professor Len Shaffrey, da Universidade de Reading, disse que “as temperaturas globais estão aumentando devido à mudança climática. O aumento global das temperaturas implica maior probabilidade de ocorrência de uma onda de calor extrema”.

https://www.aljazeera.com/indepth/inpictures/greece-wildfires-families-embraced-final-moment-180725051126640.html

https://www.thesun.co.uk/news/6859588/deadly-wildfires-and-killer-heatwaves-are-ripping-through-the-planet-from-athens-and-sweden-to-los-angles-and-japan/

 

COMO FINANCIAR A TRANSIÇÃO PARA UM MUNDO DE EMISSÃO ZERO

Se as emissões globais precisam chegar a zero – ou quase zero – até 2050, é necessário perguntar como financiar esta transição e se o pensamento financeiro atual nos leva à direção correta. Por exemplo, há quase dez anos, estudos aplicam o conceito do custo marginal de abatimento, que identifica e classifica alternativas tecnológicas segundo seu potencial de redução de emissão por unidade de investimento. Nas construções de cenários futuros, as alternativas vão sendo implantadas começando pelas de menor custo. No entanto, como mostra um artigo publicado na Climate Change News, talvez esta não seja a melhor estratégia. O adiamento de investimentos em setores de alto custo de abatimento, como em mudanças na estrutura do transporte, além de postergar as reduções de emissão, pode acabar saindo mais caro mais à frente, porque os investimentos terão que ser feitos em prazos mais apertados. Além disso, muitos investimentos feitos hoje, como no setor de energia e na indústria pesada, podem ter vidas úteis de décadas. A postergação de uma tecnologia limpa pode amarrar o sistema produtivo em tecnologias sujas para além de 2050. Por outro lado, quanto antes alternativas limpas entram no sistema, antes se dá a aprendizagem e a redução dos custos associados; e mais cedo aparecem necessidades de novas gerações de inovação com pegadas de carbono ainda mais baixas. O caminho para um mundo sem emissões passa, necessariamente, por transitar entre a escassez de recursos de hoje, assim como a de amanhã, e não simplesmente pela busca única das “low hanging fruits”.

http://www.climatechangenews.com/2018/07/20/getting-climate-finance-wrong/

 

DELHI: MIL ÔNIBUS ELÉTRICOS PARA COMBATER A POLUIÇÃO

Delhi é uma das cidades mais poluídas do mundo e, dentro de seu plano para enfrentar o problema, o governo acabou de encomendar 1.000 ônibus elétricos. A frota fóssil atual é de quase 6.000 ônibus e o suprimento da demanda exigiria mais outros 3.000. As principais fontes de poluição de Delhi são os motores diesel, tanto de veículos como de geradores, a poeira da construção civil e uma velha termelétrica a carvão construída em 1973. Deve ser interessante olhar os números para ver o quanto a poluição de 1.000 ônibus a diesel é maior do que a expelida pela térmica que deverá alimentar os 1.000 ônibus elétricos.

https://energy.economictimes.indiatimes.com/news/power/fighting-air-pollution-delhi-to-get-1000-electric-buses/64944716

 

O AQUECIMENTO GLOBAL ESTÁ AFASTANDO A FORMAÇÃO DE TUFÕES DA LINHA DO EQUADOR

Já há algum tempo, cientistas constatam que os ciclones no Pacífico Sul começam a aparecer cada vez mais afastados da linha do equador. Os atores de um trabalho publicado nesta semana na Nature Climate Change, depois de analisar dados meteorológicos de 1980 a 2014, sugerem que, próximo ao equador, o aquecimento global está induzindo uma estabilidade vertical, reduzindo a elevação da corrente de ar quente e, assim, diminuindo as condições para o surgimento de tempestades tropicais e seu fortalecimento e conversão em tufões. Mais ao sul, a mesma estabilização vertical mantém a temperatura mais quente do que no passado e, aí sim, aumenta as condições para surgimento dos tufões. O mesmo pode vir a acontecer com os furacões no Atlântico, só que começando mais ao Norte do que hoje. Se isto acontecer, a costa leste dos EUA pode virar uma parede de estande de furacão-ao-alvo.

https://www.smh.com.au/environment/climate-change/time-bomb-tropics-expansion-nudges-cyclone-formation-into-new-areas-20180723-p4zt26.html

 

Siga o ClimaInfo nas redes sociais: www.facebook.com/climainfo e www.twitter.com/climainfonews