REUTERS DIVULGA ESPECIAL SOBRE O DESMATAMENTO DO CERRADO
A Reuters publicou um longo artigo de Jake Spring sobre o desmatamento do Cerrado para o plantio, principalmente, de soja e milho para a produção de ração animal, em um mundo cada vez mais carnívoro. Nos últimos dez anos, mais de 100 mil km2 da vegetação nativa do bioma foram convertidos em extensas lavouras. Esta área é maior do que a Coreia do Sul, e 50% maior do que a área desmatada na Amazônia no mesmo período. As consequências já se fazem sentir na dupla crise hídrica que assola, por exemplo, o rio São Francisco e seus afluentes, dos quais várias lavouras irrigadas bombeiam água e onde, sem vegetação, nascentes estão se enchendo de sedimentos e secando. O artigo é longo, mas vale a leitura. Spring faz uma costura inteligente dos vários movimentos políticos, econômicos e tecnológicos que sustentam o ‘agro’, setor louvado como salvador da pátria que não leva em conta os limites que a natureza impõe e que tem uma visão imediatista, que espalha cada vez mais produtos químicos e mais emissões, que vai acabar por abreviar a sustentação do próprio negócio.
https://br.reuters.com/article/topNews/idBRKCN1LD19Q-OBRTP
https://www.reuters.com/investigates/special-report/brazil-deforestation/
ESTIAGEM NO SUDESTE DERRUBA A PRODUÇÃO DE ETANOL DE CANA
Boa parte do estado de São Paulo recebe poucas chuvas desde abril e a lavoura da cana está sentindo os efeitos. Se na safra passada colheu-se quase 600 milhões de toneladas, a expectativa dos produtores para a safra atual é de uma queda de 40 milhões de toneladas. Os números não tinham ainda aparecido porque, até o final de junho, a cana colhida cresceu debaixo das chuvas de verão. Agora é a vez da cana que cresceu na estiagem. Há um pequeno consolo no fato da falta de chuva aumentar o ATR (Açúcar Total Recuperável), indicando a possibilidade de se extrair mais açúcar por tonelada de cana. Com o preço internacional do açúcar baixo e o preço da gasolina alto, o setor voltou a apostar no etanol que, nos carros flex, reduz as emissões fósseis do país.
A EXPANSÃO DO ETANOL DE MILHO NO CENTRO-OESTE
Na safra passada, o Mato Grosso produziu 1,4 bilhão de litros de etanol, dos quais 300 milhões vieram de destilarias que processam milho. A vantagem do milho é ser colhido na entressafra do Sudeste. A vantagem é compensada pelo processamento não gerar um “resíduo” como o bagaço de cana, o que faz o processo demandar outra fonte de biomassa para a produção de vapor e da eletricidade que necessita. Por enquanto, o próprio Mato Grosso e, também, Rondônia e Amazonas devem ser os principais mercados consumidores do etanol mato-grossense, em função da distância deste aos grandes centros do Sudeste. A expansão do etanol de milho dependerá, portanto, dos preços relativos da gasolina, do açúcar e, se este vier para valer, dos incentivos do Renovabio.
UMA NOVA TÉRMICA A EUCALIPTO NO INTERIOR DE SÃO PAULO E O AUMENTO DA GERAÇÃO A BIOMASSA NO BRASIL
O Grupo IBS vai construir em Lençóis Paulista uma térmica de 50 MW que queimará eucalipto de uma reserva florestal próxima. O investimento é estimado em R$ 350 milhões. A usina deve entrar em operação em 2021 e é projetada para consumir cerca de 650 mil toneladas por ano de cavaco de madeira. O último Boletim de Monitoramento do Sistema Elétrico, com dados de junho, indica que a geração a biomassa passou de 20 GWh no primeiro semestre, um crescimento de 14% em relação ao primeiro semestre do ano passado. As térmicas a bagaço geraram quase 80% desse total.
https://www.ccee.org.br/ccee/documentos/CCEE_636036
ILHA NO LITORAL PAULISTA É PARTIDA EM DUAS PELA ELEVAÇÃO DO MAR
A Ilha do Cardoso é um dos poucos paraísos até agora preservados no litoral brasileiro. A parte sul da ilha é uma restinga que se alonga na fronteira entre os estados de São Paulo e Paraná. Na 2a feira, uma ressaca acabou por romper a faixa de areia que vinha sendo erodida há anos, dividindo a restinga em duas partes. No Facebook, o presidente da Reserva da Biosfera da Mara Atlântica, Clayton Lino, descreveu a coisa assim: “Neste 27 de agosto de 2018, o mar dividiu em dois a ilha do Cardoso, no Lagamar, na divisa de São Paulo e Paraná. O nível do mar vinha claramente subindo nos últimos anos. Pois é, como previsto, aconteceu… É apenas um dos primeiros efeitos notáveis das mudanças climáticas”; ao que o economista da UFRJ, Cadu Young, acrescentou: “para quem é do Rio de Janeiro, isso poderá ocorrer em breve com a Restinga da Marambaia.” Maurício Marinho, geógrafo e consultor socioambiental, disse, também no Facebook, que “a força da natureza, intensificada pela ação humana deve impor às zonas costeiras um maior dinamismo nos próximos anos, reforçando a importância da conservação das áreas naturais e das práticas tradicionais”.
A notícia é muito importante para quem acha que os efeitos da elevação do nível do mar só se manifestam na Flórida e em Bangladesh.
https://www.ovaledoribeira.com.br/2018/08/rompimento-do-cordao-de-areia-na-ilha-cardoso-em-cananeia.html
MINISTRO FRANCÊS DO MEIO AMBIENTE ATACA MACRON E RENUNCIA EM PROGRAMA DE RÁDIO AO VIVO
O agora ex-ministro Nicolas Hulot atacou Macron e renunciou a seu cargo, na manhã de ontem, ao vivo, em um programa na rádio France Inter. Hulot disse ter acumulado decepções. Para ele, Macron não faz o suficiente para combater a mudança do clima e os “minipassos” adotados pela França e por outros países para desacelerar o aquecimento global e o colapso da biodiversidade são inadequados: “eu não quero criar a ilusão de que estamos enfrentando tudo isso”. Nicolas Hulot se disse desapontado, por exemplo, pela volta atrás na meta de redução da participação da energia nuclear para 50% no mix energético do país até 2025, e pela anulação, pelo Ministério da Agricultura, das restrições que buscava impor ao uso do herbicida glifosato. Macron, que estava em viagem pela Dinamarca e não havia sido informado de antemão, disse que “fez mais do que qualquer outro” e que as pessoas devem ser pacientes: “é uma briga que não se ganha de um dia para o outro”.
A MUDANÇA CLIMÁTICA SERÁ MAIS MORTAL, MAIS DESTRUTIVA E MAIS ONEROSA PARA A CALIFÓRNIA DO QUE SE ACREDITAVA ANTERIORMENTE, ALERTA O ESTADO
As mudanças climáticas criarão, na Califórnia um nova e devastadora normalidade, repleta de intensas ondas de calor e incêndios destrutivos, se nada for feito para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, segundo um novo relatório produzido pelo governo daquele estado. A 4a Avaliação Anual da Mudança Climática da Califórnia concluiu que, no cenário de emissões usuais, os grandes incêndios que vêm atingindo o estado crescerão em 50% até 2100 e queimarão 77% mais florestas. O relatório também concluiu que entre 31% e 67% das praias podem erodir até 2100; que as mortes por ondas de calor nas cidades podem dobrar ou triplicar até 2050; e que o abastecimento de água provinda das montanhas nevadas pode diminuir em ⅔ até aquele ano. O comunicado do governador Jerry Brown diz que “estas conclusões são profundamente sérias e continuarão a nos guiar no enfrentamento da ameaça apocalíptica das mudanças climáticas irreversíveis”.
http://www.climateassessment.ca.gov/
A CRESCENTE IRRACIONALIDADE DO INVESTIMENTO EM FÓSSEIS
Um artigo do IEEFA (Institute for Energy Economics and Financial Analysis) conta como a indústria do petróleo não é mais a mesma. A indústria reinou durante boa parte do século passado. As ações das sete grandes petroleiras chegaram a estar, ao mesmo tempo, na lista das 10 maiores do índice da Standard and Poor’s. Mas a coisa mudou neste século. Hoje, das atuais, só a ExxonMobil ocupa o 7o lugar no índice. A primeira grande mudança aconteceu na avaliação de valor das empresas. Até há pouco, o que contava eram as reservas de petróleo e gás. Num mundo cada vez mais dependente dos fósseis para andar e gerar energia, reservas novas nos locais mais improváveis valiam qualquer investimento. Mas, daí, veio o fracking. De repente, qualquer pequeno empreendedor podia produzir óleo e gás com poucos recursos. O potencial de expansão do fracking provocou duas quedas monumentais: o preço do barril despencou da estratosfera de US$ 120 para quase US$ 20, e o valor das reservas perderam seu atrativo. O segundo choque está em andamento. A luta contra a mudança do clima está colocando o petróleo e o carvão na lista de ativos que precisam continuar enterrados, ou seja, valerem quase nada. Se as petroleiras podiam há alguns anos colocar muito dinheiro no trabalho dos negacionistas e de lobbies nos parlamentos, agora se veem obrigadas a não só se vestirem de verde como também a prospectar oportunidades no mundo das fontes limpas para garantir sua sobrevivência futura. O artigo termina dizendo que os investimentos e ações não valem mais o risco.
http://ieefa.org/ieefa-update-the-investment-rationale-for-fossil-fuels-falls-apart/
PARQUE EÓLICO OFFSHORE PARA A EXTRAÇÃO DO PETRÓLEO NORUEGUÊS
A petroleira estatal norueguesa Equinor está planejando alimentar dois dos seus mais importantes campos de petróleo com um parque eólico offshore. O parque está projetado para ter 11 conjuntos eólicos de 8 MW cada um. Tradicionalmente, as plataformas de petróleo queimam parte do gás que extraem para gerar a eletricidade que consomem. Segundo o vice-presidente executivo para Novas Soluções Energéticas, Pål Eitrheim, “reduzir o uso de turbinas a gás por meio do fornecimento a partir da energia eólica offshore é um projeto desafiador e inovador e que pode facilitar novas oportunidades industriais para a indústria da Noruega”.
http://epbr.com.br/equinor-quer-interligar-campos-e-eolica-offshore/
DESMATAMENTO E DEGRADAÇÃO FLORESTAL NA ÁFRICA É MUITO PIOR DO QUE SE SUPUNHA, MAS RECUPERAÇÃO NATURAL COMPENSA ESTOQUE DE CARBONO
Pesquisa recém-publicada quantificou o desmatamento e a degradação florestal nas áreas de bosques de savanas (savanna woodlands) do sul da África. Os resultados são importantes:
– entre 2007 e 2010, a taxa de desmatamento foi cinco vezes maior do que as estimativas anteriores;
– cerca de 17% de toda a área está degradada; e
– somando o desmatamento com a degradação florestal, a perda de carbono chega a ser seis vezes mais alta.
Para chegar a estes valores, os pesquisadores usaram dados de radar, ao invés de imagens de satélite. A explicação pode interessar por aqui. O monitoramento de florestas tropicais se baseia na distinção dos tons de verde das copas cujas folhas permanecem o ano todo. Na savana, durante a estação seca, a cor dominante é o marrom. Com as chuvas, a folhagem volta tanto nas árvores quanto na grama. A grama complica a análise das imagens. O radar permite enxergar as árvores individualmente, mesmo às custas de muito trabalho de campo para calibrar o software de análise.
O trabalho também mostrou um lado bom: em metade da área estudada, o processo de recuperação das florestas também é forte e o ganho de carbono fixado no período foi da mesma ordem de grandeza das perdas, de modo que o estoque final permaneceu relativamente constante.
A área coberta pelo trabalho inclui partes de Angola, Zâmbia, Zimbabwe, Malawi, Tanzânia, Moçambique e a antiga província de Katanga, na República Democrática do Congo.
https://news.mongabay.com/2018/08/widespread-degradation-deforestation-in-african-woodlands
https://www.nature.com/articles/s41467-018-05386-z
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