ClimaInfo, 5 de setembro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

RENOVABIO DISCUTE DESMATAMENTO

Uma fazenda de cana que tenha desmatado nos últimos anos pode entrar no RenovaBio? Este é um dos pontos ainda pendentes na definição no programa. O RenovaBio visa reduzir a intensidade de carbono do transporte rodoviário do país incentivando o uso de biocombustíveis produzidos com menores emissões. Isso pode vir pelo aumento da eficiência das usinas ou por meio da redução das emissões nas lavouras de cana e soja. Pelo programa, os produtores recebem algo parecido a créditos de carbono proporcionais a uma nota técnica que avalia o desempenho da usina e das lavouras. E é aqui que a questão do desmatamento está pegando. Como o programa se define como ambientalmente correto, não haveria porque aceitar cana e soja produzidos em terras desmatadas. Mas, como a realidade tem muito mais do que 50 tons de cinza, as discussões versam sobre a manutenção de APPs e reservas legais, sobre o ano do desmatamento e sobre compensações em outras áreas. A bola está com a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) e não com o Ibama.

https://www.valor.com.br/agro/5799581/renovabio-ainda-depende-de-decisao-sobre-desmate

 

AUMENTO DAS VENDAS DE ETANOL

Os motoristas de carros flex continuaram migrando da gasolina para o etanol hidratado no mês de julho, por conta do aumento da competitividade do combustível renovável (segundo a ANP, o etanol foi vendido em média no país por 62% do preço da gasolina). As vendas de etanol hidratado bateram recorde para o mês, sendo que as distribuidoras venderam mais de 1,5 bilhão de litros aos postos, volume 47% superior ao de julho do ano passado e 4,1% acima do volume vendido em junho. Em contrapartida, as vendas de gasolina recuaram 19% ante o mesmo mês do ano passado e alcançaram praticamente 3 bilhões de litros. O estado onde o etanol teve sua maior participação nas vendas foi São Paulo, onde representou quase metade dos combustíveis vendidos para os motores ciclo Otto.

https://www.valor.com.br/agro/5792607/vendas-de-etanol-hidratado-batem-recorde-em-julho

 

FORÇANDO ANGRA 3 GOELA ABAIXO

O Globo publicou mais um artigo em defesa da conclusão da usina nuclear de Angra 3, repetindo que é necessário investir “só” R$ 14 bilhões para que a usina entre em funcionamento. Os autores, da Associação Brasileira de Energia Nuclear, dizem que desistir agora implica num prejuízo de “R$ 11,9 bilhões, decorrente de cancelamento de contratos, desmobilização no canteiro de obras, perda de equipamentos, recuperação do local etc.”. Chama a atenção o pouco caso demonstrado para com uma diferença de R$ 2 bilhões que, nesse período de crise fiscal, não é pouca coisa. Mais, neste ano, Angra 1 e Angra 2 estão recebendo mais de R$ 240 para cada MWh gerado, e não há porque a energia de Angra 3 ser mais barata. No leilão da semana passada, teve MWh eólico contratado a R$ 87, e o preço médio do MWh ficou abaixo de R$ 150. Como já foram investidos em Angra 3 mais de R$ 7 bilhões, no final, o país teria investido ao final R$ 21 bilhões, o que junto com os custos do descomissionamento da usina no final de sua vida útil, dá mais do que o orçamento do Bolsa Família deste ano. E isso para gerar eletricidade 60% mais cara do que a média dos contratos do último leilão. A conta não fecha.
https://oglobo.globo.com/opiniao/razoes-para-concluir-angra-3-23035545

 

MANEJANDO A FLORESTA DE MODO SUSTENTÁVEL

Já há 10 anos, ⅓ da Floresta Nacional do Jamari, em Rondônia, é manejado sob a responsabilidade de duas empresas. O corte de cada árvore tem que ser planejado e submetido ao Ibama. Durante este período, foram cortadas e retiradas mais de 30 mil árvores, e a floresta continua forte. Maurício Sacramento, do Serviço Florestal Brasileiro, diz que “tem uma ciência por trás disso. A floresta, mesmo com essa intervenção, permanece com a estrutura firme. Ela mantém suas funções”. A maior parte da madeira extraída é vendida no mercado internacional, onde enfrenta a extração ilegal de madeira que não tem os custos nem os investimentos em equipamentos e treinamento de pessoal. Fazer direito pode sair mais caro no curto prazo, mas em compensação a ilegalidade não leva em conta a destruição de seu próprio futuro.

https://www.dw.com/pt-br/corte-controlado-de-madeira-mant%C3%A9m-floresta-de-p%C3%A9/a-45334735

 

CALIFÓRNIA QUER ZERAR AS EMISSÕES DA GERAÇÃO DE ELETRICIDADE ATÉ 2045

A Califórnia continua avançando sua agenda climática, mesmo em tempos de Trump. O governador Jerry Brown deve assinar nos próximos dias uma lei para zerar as emissões da geração elétrica até 2045, com um marco intermediário, de redução nas emissões em 60% até 2030. O senador Kevin de León, autor do projeto de lei, disse neste fim de semana que “entregaremos à próxima geração um futuro brilhante, alimentando a Califórnia com o Sol e o calor da Terra”.

Para quem é curioso, a Califórnia era uma ilha no romance de cavalaria do século 16, “Las Sergas de Esplandián”, do espanhol Garci Rodríguez de Montalvo. Uma ilha habitada só por mulheres, como no mito das Amazonas. E acharam muito ouro por lá.
http://www.observatoriodoclima.eco.br/lei-na-california-preve-emissao-zero-de-carbono-na-eletricidade-ate-2045/

 

‘KEEP CALM’ E TRABALHE NAS DIRETRIZES PARA A IMPLANTAÇÃO DO ACORDO DE PARIS

O título desta nota é uma recomendação do boletim ECO, da Climate Action Network, sempre editado durante as reuniões da Convenção Clima. Ontem, na cerimônia de abertura da última reunião preparatória para a COP24, que acontecerá na Polônia neste dezembro, o primeiro ministro das Ilhas Fiji e presidente da COP23 do ano passado, Frank Bainimarama, fez um discurso pela urgência: “Em três meses estaremos em Katowice [Polônia] e, francamente, não estamos prontos… Sem diretrizes para a implantação com as quais todos possam conviver, nos arriscamos ao caos em Katowice e à possibilidade de mais um atraso no urgente trabalho de combate à mudança climática”.

O WRI elencou três balizas para as negociações desta semana: a reunião de Bangcoc falhará se não colocar compromissos claros sobre a mesa, se não tiver linguagem jurídica e se não finalizar um texto para as negociações de dezembro”.

Enquanto isso, do lado de fora das salas de reunião, ativistas e grupos de defesa dos direitos humanos acusaram os países desenvolvidos de fazer corpo mole quanto à promessa de mobilizar US$ 100 bilhões por ano em financiamento climático. Lidy Nacpil, do Movimento dos Povos Asiáticos sobre Dívida e Desenvolvimento, disse que “o financiamento inadequado do clima compromete a capacidade de sobrevivência à crise climática do mundo em desenvolvimento”.

http://eco.climatenetwork.org/category/current-issue

https://www.euractiv.com/section/climate-environment/news/governments-not-ready-for-katowice-cop24

http://www.climatechangenews.com/2018/09/03/three-goals-weeks-bangkok-climate-talks

 

AÇÃO CLIMÁTICA PODE DAR IMPULSO DE US$ 26 TRILHÕES À ECONOMIA GLOBAL

O alinhamento dos investimentos que devem ser feitos nos próximos 15 anos com o que é necessário para o enfrentamento da mudança climática pode gerar benefícios econômicos da ordem de US$ 26 trilhões entre 2018 e 2030, segundo um novo relatório da Global Commission on the Economy e do projeto New Climate Economy. O relatório analisou o impacto econômico de ações climáticas ambiciosas nas cidades, na geração de energia, na produção de alimentos e no uso da terra, na água e na indústria. O relatório ressalta que a maioria das escolhas para estes investimentos em infraestrutura será feita nos próximos dois ou três anos.

https://www.fastcompany.com/90230359/fighting-climate-change-could-boost-the-global-economy-by-26-trillion

 

LEMBRANDO DOS IMPACTOS DA MUDANÇA CLIMÁTICA

É sempre bom lembrar do que nos motiva a falar diariamente das mudanças climáticas. Pensando nisso, reproduzimos aqui uma lista dos impactos recentes feita pela Climate Nexus: “a curva de concentração de CO2 na atmosfera, de Charles Keeling, mostra um aumento constante e drástico nos últimos 60 anos, ilustrando a causa primeira do aquecimento global que impulsiona as mudanças climáticas (1); em decorrência destas mudanças, o fogo está modificando a paisagem do Oeste dos EUA (2); as florestas tropicais estão deixando de sorver carbono da atmosfera e passando a liberá-lo (3); as florestas do Arizona podem se transformar em desertos, agravando a seca e os incêndios (4); os impactos do El Niño e da La Niña serão mais fortes (5); a paisagem terrestre pode se transformar em algo irreconhecível (6); quase todos os ecossistemas do planeta serão transformados (7); e uma “onda de calor” oceânica recentemente elevou as temperaturas do Maine a níveis recordes (8)”.

A lista está muito longe de ser abrangente.

https://www.theguardian.com/uk-news/2018/sep/03/weatherwatch-charles-keelings-co2-curve-shows-drastic-rise-in-60-years (1)
https://apnews.com/333a833a02334f68b26e90745b46fa4a/AP-Explains:-Driven-by-climate-change,-fire-reshapes-US-West (2)

https://www.thenation.com/article/tropical-forests-are-flipping-from-storing-carbon-to-releasing-it/ (3)

https://www.azcentral.com/story/news/local/arizona-environment/2018/09/01/climate-change-could-transform-arizona-forests-deserts-environment-study/1148294002/ (4)

https://www.houstonpublicmedia.org/articles/news/2018/09/03/302573/climate-change-will-make-el-nino-la-nina-impacts-stronger-study-says/ (5)

https://e360.yale.edu/digest/nearly-every-ecosystem-on-the-planet-will-be-transformed-by-climate-change (6 e 7)

https://www.washingtonpost.com/national/health-science/an-ocean-heat-wave-just-drove-temperatures-off-maine-to-near-record-highs/2018/08/31/3db85126-ad2d-11e8-a8d7-0f63ab8b1370_story.html (8)

 

INDONÉSIA QUER APOIO AO BIOQUEROSENE PARA SEGUIR COMPRANDO AVIÕES DOS EUA E DA EUROPA

A Indonésia impôs, em agosto, a liberação da construção de usinas processadoras de óleo de palma (dendê) nos EUA e na França como condição para que suas companhias aéreas comprem aviões da Boeing e da Airbus. As preocupações com a competitividade do produto local e com o desmatamento na Indonésia para a produção de dendê levaram a União Europeia a banir o uso do óleo de palma para a produção de biocombustíveis a partir de 2030, e levaram os EUA a impor uma tarifa antidumping de 341% sobre o biodiesel indonésio. A Garuda Indonesia, companhia aérea estatal, já havia anunciado o adiamento das entregas de jatos encomendados à Airbus e à Boeing.

https://www.reuters.com/article/us-indonesia-biofuels-airplane/indonesia-sets-palm-biofuel-plant-condition-for-jet-purchases-from-us-france-minister-idUSKCN1L60AS

 

Para organizar campanhas por transporte público não poluente:

O Laboratório de Mudanças Climáticas da Purpose lançou o edital ‘Mais Ônibus, Menos Diesel’ para apoiar organizações que queiram fazer campanhas para a substituição dos ônibus a diesel por outros movidos a energias limpas em suas cidades ou regiões metropolitanas.

O edital é aberto a organizações de todo o Brasil, à exceção de São Paulo, e apoiará três iniciativas. O prazo de inscrição de propostas vai até 30 de setembro.

A Purpose oferecerá, para cada uma das três propostas selecionadas, mentoria contínua de estratégia política, comunicação e articulação; produção de materiais de comunicação e tradução de conhecimentos e informações complexas sobre transição energética para a população; além de dez mil Reais para o desenvolvimento das campanhas.

Informações detalhadas sobre o edital no link abaixo.

https://maisonibusmenosdiesel.org/   

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