ClimaInfo, 30 de novembro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

Novo no ClimaInfo

O ClimaInfo publicou duas novas matérias em seu website sobre a Conferência do Clima da ONU que começa na próxima semana. Numa delas falamos do que esperar da COP24. Na outra indicamos três temas para serem acompanhados durante as duas semanas da conferência.

 

Repercute a desistência da organização da COP25 no Brasil

Tem sido forte a repercussão da influência de Bolsonaro na desistência do país da realização por aqui da COP25, a conferência anual da ONU sobre o clima. De Buenos Aires, onde está para a reunião do G20, o presidente francês Emmanuel Macron deu um sinal amarelo para o acordo comercial há anos em discussão entre a União Europeia e o Mercosul: “Houve uma mudança política importante no Brasil recentemente [e] o Mercosul tem que se posicionar… Não sou a favor de que se assinem acordos comerciais com potências que não respeitem o Acordo de Paris.” Bernardo Mello Franco diz n’O Globo que, mesmo antes da posse, o novo governo já deu seu primeiro vexame internacional. Daniela Chiaretti, no Valor, relata uma sensação de alívio na ONU, porque poderia “ser desastrosa uma conferência (…) em momento crucial das negociações climáticas sendo conduzida por um país que não acredita no tema.” Na Bandnews, Ricardo Boechat foi direto: é uma maluquice associar a mudança do clima a ideologias, como faz o ministro indicado das relações exteriores: “as geleiras estão derretendo porque são de esquerda, a Amazônia está sendo destruída porque é de direita, o clima está mudando porque é fundamentalista, os eventos estão ficando extremos porque é progressista.” Boechat reafirma que as mudanças climáticas e seus impactos são fatos estudados e comprovados pela ciência (o trecho começa aos 45 minutos do programa). E Carlos Rittl, do Observatório do Clima, escreveu no Estadão sobre a importância de sediar a Conferência e diz que, “ao abrir mão de realizar [a] conferência, [o novo governo] dá um sinal muito negativo para a comunidade internacional. Diz, por um lado, que não faz questão desse protagonismo, e, por outro, que pode vir a tomar uma série de medidas domésticas no sentido de estabelecer retrocessos, permitindo aumento no desmatamento, permitir que a expansão agropecuária aconteça de qualquer forma, sem critérios de sustentabilidade, e priorizando combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás natural.”

 

O mito das grandes hidrelétricas pode estar no fim

Jacques Leslie menciona os rompimentos recentes de grandes barragens no Laos e na Colômbia e o quase desastre na maior represa da Califórnia para dizer que o cerne dos problemas das hidrelétricas está no preço decrescente da eletricidade gerada por eólicas e fotovoltaicas, o que está deixando as grandes hidrelétricas para trás, mesmo sem que sejam contabilizados os danos ambientais e sociais por elas provocados. Ao incluir esses impactos, na sua imensa maioria, elas se tornam simplesmente inviáveis. Leslie cita Thayer Scudder, um antropólogo que fez várias consultorias em projetos de grandes hidrelétricas para o Banco Mundial, que diz ter aprendido “que benefícios importantes de grandes reservatórios, no curto e médio prazos, tendem a provocar custos enormes e inaceitáveis no longo prazo em termos econômicos, ambientais e sociais, incluindo o preço dos mais de meio bilhão de pessoas afetadas por projetos habitando nas bacias dos rios represados.” Menciona também um trabalho importante da Universidade de Oxford, publicado em 2014, que analisou 245 grandes reservatório construídos entre 1934 e 2007 e mostrou que o custo real das obras foi, em média, 94% maior do que o previsto e que os prazos estouraram os previstos em quase 50% dos casos. Leslie coloca o dedo numa ferida bem conhecida no Brasil: ao mobilizar valores astronômicos em países em desenvolvimento, os projetos andam de braço dado com a corrupção, sobrepreços e atrasos. Ele exemplifica o tamanho do problema dizendo que “a partir dos anos 80, os estouros dos orçamentos de construção de grandes barragens tiveram um papel importante nas crises das dívidas da Turquia, Brasil, México e na antiga Iugoslávia.” Por outro lado, nesta semana, o pessoal da Itaipu Binacional conseguiu um espaço numa publicação da Convenção do Clima para dizer o quão limpas e renováveis são as grandes hidrelétricas, vendendo seu peixe com os olhos voltados para COP24.

Em tempo: O pessoal que reclama da lentidão do licenciamento de hidrelétricas deveria ler o trabalho da Oxford para ver que as condições brasileiras não diferem das do resto do mundo. E mais, das hidrelétricas brasileiras que entraram nos leilões da CCEE, só Belo Monte atrasou o prazo de entrega da energia. Todas as demais, incluindo as mais recentes construídas na Amazônia e muitas PCHs, começaram a entregar energia dentro do prazo. O relaxamento do licenciamento, portanto, tem como único objetivo a redução de custos, tentando fazer com que as hidrelétricas voltem a competir com as eólicas e as fotovoltaicas.

 

A redução das emissões marítimas afeta as exportações nacionais

O transporte marítimo é o modal mais eficiente e de menores emissões de gases de efeito estufa. Mesmo assim, é responsável por 2,2% das emissões globais destes gases, o que corresponde aproximadamente às emissões totais da Alemanha. A Organização Marítima Internacional (IMO) chegou a um acordo recentemente que busca limitar as emissões da navegação internacional, que não são contabilizadas pelos países e, portanto, não entram no Acordo de Paris. Para discutir a importância da iniciativa da IMO e os possíveis impactos econômicos desta para a economia brasileira, o Instituto Clima e Sociedade organizou o encontro ‘Navegando por rotas de descarbonização‘. Vale destacar que um estudo realizado pela COPPE/UFRJ e apresentado no evento revelou que o impacto do repasse de custos do transporte marítimo para a economia brasileira seria da ordem de 1% a 3% do Produto Interno Bruto (PIB). O estudo, no entanto, indica que haveria espaço para repasse dos custos, já que “algumas commodities brasileiras (…) têm qualidade superior em relação aos concorrentes.”

 

Tramitação do PL do ‘licenciamento flex’ divide ruralistas

O Congresso em Foco mostra uma divisão entre os ruralistas quanto à tramitação do PL que flexibiliza o licenciamento ambiental. Nilson Leitão (PSDB-MT), por exemplo, quer o ver ser votado na maior brevidade possível: “O projeto está pronto para plenário e com urgência aprovada, não tem mais o que discutir”; para ele o projeto é de “enorme” interesse do futuro governo. A deputada e futura ministra da agricultura, Tereza Cristina (DEM-MS), pediu a Rodrigo Maia (DEM-RJ) que o projeto seja votado ainda em 2018, mas ela mesma não crê na possibilidade: “Acho difícil. Seria bom”. Já o indicado à secretaria-geral da agricultura, Marcos Montes (PSD-MG) já jogou a toalha: “Eu acho difícil. A Casa está andando devagar pelo acúmulo de projetos, e esse é um projeto polêmico”.

 

Os efeitos do clima na saúde e nos sistemas de saúde

Todo ano, a mais conhecida revista da ciência médica, a Lancet, publica um relatório sobre as evidências científicas dos efeitos da mudança climática sobre a saúde humana. No evento do lançamento deste ano, os organizadores destacaram o duplo impacto das temperaturas mais elevadas: o efeito direto no aumento a incidência de doenças relacionadas com calor, e o efeito dos eventos extremos que danificam infraestruturas e sobrecarregam os sistemas de saúde, de hospitais a ambulâncias.

O Financial Times e o Carbon Brief explicam, em gráficos, os principais itens do relatório. Em resumo, os destaques são:

– Um número crescente de pessoas com mais de 65 anos serão atingidas por mais de uma onda de calor todos os anos.

– As ondas de calor impactam mais a Europa e o Mediterrâneo Oriental do que o resto do mundo porque ali residem um número maior de idosos.

– Já a maioria das horas de trabalho perdidas por conta do calor ocorrem no Sudeste da Ásia. Lá, o impacto do calor é agravado pela alto índice de umidade.

– A transmissão de doenças infecciosas está aumentando, principalmente aquelas associadas às famílias de mosquitos Aedes e  Anopheles. Os casos de dengue e de malária estão aumentando no mundo todo. Doenças como a cólera, transmitidas por bactérias do tipo Vibrio também estão em alta.

Vale a leitura da matéria da Folha. E o Bom Dia Brasil fez um jogral muito interessante com notícias sobre mudanças climáticas, começando com o relatório da Lancet.

 

O progresso – ou sua falta – na implantação das NDCs dos países do G20

Pesquisadores da Europa, dos EUA e da China publicaram na Science uma análise do que os países do G20 estão fazendo para cumprir o que prometeram para o Acordo de Paris. As principais conclusões:

– Quase todos os membros do G20 estão fazendo algum progresso.

– China, Índia, Indonésia, Japão, Rússia e Turquia estão alinhados com as suas metas incondicionais (alguns países condicionaram o cumprimento de metas a mais financiamento externo, a ajuda humanitária, a apoio tecnológico etc.).

– Argentina, Austrália, Canadá, União Europeia, Coreia do Sul, África do Sul e os EUA precisam reforçar suas políticas para que consigam cumprir as metas.

– As projeções das emissões do Brasil e do México são consideradas incertas demais para que seja previsto o cumprimento de suas metas.

– Não há informação suficiente sobre a Arábia Saudita.

– Em muitos países do grupo, as emissões continuarão a crescer até 2030. É o caso da China e da Índia, por exemplo.

– Na Arábia Saudita e na África do Sul, as emissões por unidade de PIB e por habitante continuam crescendo.

 

O desafio do clima será vencido pela tecnologia e não pelo Acordo de Paris?

A afirmação é de Dieter Helm, professor de política econômica na Universidade de Oxford. Em artigo publicado no Financial Times, ele diz que abordagens de cima para baixo, como a do Protocolo de Quioto e o Acordo de Paris, simplesmente não funcionarão. Helm lembra que as emissões de quase todo mundo estão subindo ou, nos melhores casos, caindo muito menos do que deveriam cair, e que os custos da transição energética estão sendo mais altos do que o inicialmente imaginado. Para Helm, esta última afirmação é demonstrada pelo recente movimento dos ‘Coletes Amarelos’ franceses e pelos investimentos em térmicas a carvão que os chineses estão fazendo longe de seu território. Helm diz que as eleições de Trump, Putin, Xi Jinping e Bolsonaro mostram que a alternativa globalizada não mais está dando respostas às populações desses países. A solução, diz Helm, passa por duas ações. A primeira é admitir que os custos de mecanismos como Paris são muito altos e que as economias piorarão antes de melhorar – ou piorar menos do que em um mundo mais quente. A segunda é aumentar substancialmente os recursos investidos em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias mais decisivas e mais disruptivas do que as eólicas e fotovoltaicas. “O mundo no qual temos que enfrentar a mudança do clima é feito de novas tecnologias como robôs, impressoras 3D e inteligência artificial, todas trazendo uma tremenda economia de energia.”

O professor provavelmente não teve espaço, no seu curto artigo, para explicar onde estarão os empregos que poderão sustentar uma população de 9 bilhões de almas. Ou talvez estivesse pensando, à moda de Jonathan Swift, em uma nova Modesta Proposta.

 

Harvard testa projeto de geoengenharia para contenção do aquecimento global

Pesquisadores da Universidade de Harvard querem espalhar algumas poucas gramas de carbonato de cálcio na estratosfera para ver se a teoria funciona e se consegue afetar o balanço de radiação, o que indicaria uma possível diminuição da temperatura na superfície do planeta. Se funcionar, o próximo passo será o estudo dos efeitos colaterais da aplicação da ideia em grande escala. Se não funcionar, a busca por soluções para a redução da temperatura global continuará. A cada dia, a cada árvore derrubada e a cada cano de escapamento a emitir gases de efeito estufa, mais aumenta a temperatura média global. E mais dependente a humanidade ficará de soluções “mágicas” como esta.

 

Para ir

The growing green debt market and its technological opportunities

Seminário promovido pela Febraban, pelo CEBDS e pelo Green Assets Wallet discutirá as oportunidades dos mercados verdes e como novas tecnologias digitais podem dinamizá-los.

Dia 3 de dezembro, das 8h30 às 12h, na Febraban, Av. Brig. Faria Lima, 1.485 – Torre Norte, 12º andar, São Paulo. Mais informações, programação e inscrições aqui.

 

Para ir

1º Fórum Brasileiro de Transição Energética

A AmCham Rio e a EPBR convidam a todos para um dia de bate-papo sobre transição energética, mercado de carbono e os compromissos assumidos pelo Brasil a partir do Acordo de Paris, com participação de grandes nomes do segmento de energia.

Participações de Luiz Barroso (International Energy Agency), Lavinia Hollanda (Escopo Energia), Giovani Vitória Machado (EPE), Alejandro Duran (BHGE), Ibama, BNDES, Nelson Silva (Petrobras), Verônica Coelho (Equinor), Felipe Maciel (EPBR), Yana Alves (MDIC), André Araújo (Shell), Gil Maranhão Neto(ENGIE), e Suzana Kahn (PBMC).

6a feira, 14 de dezembro, das 9h15 às 15h30, na AmCham Rio, Praça Pio X, 15, 5º andar, Rio de Janeiro.

Sócios da AmCham Rio e leitores da EPBR – R$ 110,00.

Não Sócios e demais participantes – R$ 220,00.

Inscrições até dia 11 de dezembro aqui.

 

Para ver

O desaparecimento da calota de gelo no Ártico

A Nasa produziu um time-lapse do Polo Norte mostrando a redução da camada de gelo de 1984 até 2016. É curto e a narração é em inglês, mas a narração é dispensável, tamanha a força das imagens.

 

Para concorrer a US$ 3 milhões

Global Cooling Prize

Sir Richard Branson, dono da Virgin, oferece um prêmio de US$ 3 milhões para quem reinventar o aparelho de ar condicionado. Ele apoia várias iniciativas climáticas e decidiu colocar a atenção em algo cuja demanda cresce com o aquecimento global. Os aparelhos, hoje, têm uma eficiência energética da ordem de 15%, e boa parte da eletricidade que os alimenta em todo o mundo é gerada queimando combustíveis fósseis. O desafio é manter ambientes frescos com menor uso de energia e sem o uso de usar gases refrigerantes com alto potencial de aquecimento global. Um artigo da Good News Network conta um pouco do desafio. E mais informações estão no site do concurso.

 

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