Energia Nuclear, a prisão de Temer e as “ajudas” governamentais aqui e nos EUA

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Soube-se, ontem, que a prisão do ex-presidente Michel Temer teve origem nas investigações sobre a construção da usina de Angra 3 que tiveram origem na delação da Engevix, responsável por parte da obra. Estariam envolvidos o ex-almirante Othon Pinheiro, já condenado a 43 anos de prisão, e o amigo do ex-presidente, Coronel Lima. Segundo Fausto Macedo, no Estadão, “com custo estimado em R$ 14 bilhões e com as obras atrasadas, Angra 3 envolveu propinas de 1% nos contratos ao partido do presidente, segundo confessaram à força-tarefa da Lava Jato delatores das empreiteiras UTC, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa. A construção sob a responsabilidade da Eletronuclear – controlada pela estatal Eletrobrás – foi dividida em vários pacotes contratuais.”

O término da construção de Angra 3 é tido como estratégico nos planos do ministro de minas e energia, Almirante Bento Albuquerque. André Borges, também para o Estadão, conta que Angra 3 tem uma dívida de mais de R$ 6 bilhões para com o BNDES. E, segundo uma nota da dona da usina, a Eletronuclear, “foram feitas diversas tentativas de renegociação das condições de pagamento deste empréstimo, porém sem sucesso. O BNDES só aceita uma revisão mediante garantia da conclusão da obra”. As estimativas de quanto falta para concluir a obra variam entre R$ 14 e R$17 bilhões.

Até nisso o atual governo se alinha com Trump. Segundo a Bloomberg, Trump prometeu colocar US$ 3,7 bilhões (cerca de R$ 14 bilhões) para terminar a construção de uma usina nuclear na Georgia cujo preço, no final, estaria estimado em perto de US$ 20 bilhões. A capacidade de geração da usina da Georgia é quase o dobro da de Angra 3.

Em tempo: no começo da semana um comboio transportando combustível nuclear para Angra 1 e 2 teria feito uma troca de tiros com um pessoal do Morro do Frade, em Angra. Uma nota da Eletronuclear avisou que a troca de tiros aconteceu depois dos caminhões terem passado pelo local. Mas nossa atenção foi chamada pelo trecho final da nota: “Se um tiro de arma de fogo conseguisse atravessar a proteção do contêiner, poderia danificar o combustível nuclear. No entanto, isso não colocaria em risco a população nem o meio ambiente. O urânio contido em um elemento combustível está em estado natural, tendo o mesmo nível de radioatividade encontrado na natureza.” Mas o combustível, o isótopo 235 do urânio, é encontrado na natureza misturado com o isótopo 238, muito menos radioativo. A produção do combustível nuclear é um processo que consiste exatamente em aumentar a concentração do U-235 até o ponto deste ser capaz de provocar uma reação nuclear dentro de um reator. Em “estado natural” não há reação nuclear. Em estado de combustível, sua radiação é muitas vezes superior à encontrada na natureza.

 

Boletim ClimaInfo, 22 de março de 2019.