Mia Couto, um dos mais importantes escritores contemporâneos da língua portuguesa, nasceu na Beira, em Moçambique, cidade que hoje segue embaixo d’água por conta do Ciclone Idai. Para Mia, “apoio moral não é fundamental, preciso mesmo é do material”. Ele pede contribuições por meio da Fundação Fernando Leite Couto. Até ontem, Mia não havia conseguido voltar a Moçambique, como explica em uma mensagem: “Na verdade, estou eu quase tão destruído quanto a minha cidade. Estava determinado a ir para a Beira para mergulhar no espírito do lugar e, agora, segundo me dizem, quase não há lugar. É como se me tivessem arrancado parte da infância (…) E o problema é bem maior que a Beira. Todo o centro de Moçambique está por baixo de água: estradas, casas, torres de energia e de telecomunicações estão destruídas. Não consigo saber dos meus amigos que vivem na Beira.”
A contagem de mortos ainda está longe de terminar. A Euronews fala em mais de 700 mortos e centenas de milhares de desabrigados. A BBC publicou o relato de um consultor de agricultura e florestas do Zimbabwe que viajou para Beira e conta ter visto 200 corpos na beira da estrada. A missionária brasileira Noemia Cessito descreveu assim o drama para Rafael Balago: “As chuvas encheram as barragens, que foram abertas e geraram enchentes que destruíram as estradas. Há buracos muito profundos nelas. Não dá para passar, então não chega água nem comida. As pessoas estão andando pelas ruas em busca de algo para comer”.
Comentando o ciclone Idai, o PhD em ciências atmosféricas da Universidade Estadual do Ceará, Alexandre Costa, disse em seu blog que “Moçambique foi vítima (…) do petróleo [e acrescentamos, do carvão] (…) daquele tirado do subsolo de outro lugar, queimado e despejado na atmosfera como CO2. De uma vez por todas, é necessário que caia a ficha: o aquecimento global, ao elevar a temperatura dos oceanos tropicais e aumentar a capacidade da atmosfera em armazenar vapor d’água, está produzindo e produzirá cada vez mais tempestades extremamente severas e mortíferas.” O The Guardian reforçou a conexão entre a queima de combustíveis fósseis no mundo rico – e o consequente aquecimento global – com os desastres humanitários que se abatem sobre os países pobres que emitem pequenas quantidades de gases de efeito estufa.