Salles propõe à Vale a conversão da multa por Brumadinho em zeladoria de sete parques nacionais

O Ibama multou a Vale em R$ 250 milhões pelo desastre provocado pela empresa em Brumadinho. Segundo escreve Sonia Racy, no Estadão, o ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, ofereceu à Vale trocar esta multa pela operação por 10 anos de 7 parques nacionais localizados em Minas Gerais. O ministro não deixou claro se, pela sua vontade, a troca livra a Vale das famílias dos mais de 300 mortos. Não deixou claro se a Vale terá que limpar a sujeira que provocou em Brumadinho, no rio Paraopeba, e nos municípios que este cruza, na represa de Retiro Baixo e no encontro com o São Francisco na represa de Três Marias. Não deixou claro se a Vale terá que recuperar a região toda, aproveitando as lições, boas e ruins, dos esforços de revitalização da bacia do Rio Doce afetada pelo desastre de Mariana. Aliás, também não está claro como ficam os processos cíveis contra os responsáveis. E não deixou claro se, por operar os parques, a Vale teria direito às receitas de visitantes e outras atividades, caso em que, ela ainda teria algum lucro. Por tudo estar mais turvo do que as águas do Paraopeba, temos que concordar com Maurício Tuffani quando escreve no Direto da Ciência que a ideia é ilegal e imoral.

Por falar em Salles, vale ler a coluna que a ex-ministra Marina Silva escreveu para o jornal Nexo comentando o que o moço não disse na audiência no Senado na semana passada: “a mensagem não falada do ministro Salles é mais, muito mais eloquente que a mensagem falada. Afinal – é bom repetir para que não pairem dúvidas – cuidar da agenda ambiental urbana é uma inegável necessidade. Mas se esconder atrás dela para abandonar o grave problema das mudanças climáticas, o combate ao desmatamento da Amazônia, a proteção dos biomas e o cuidado com a gestão dos recursos hídricos, é uma inaceitável irresponsabilidade. E não está no caminho de um modelo sustentável de desenvolvimento, capaz de gerar um novo ciclo de justiça, paz e prosperidade. Como anúncios de sua adesão a uma pauta contrária ao Meio Ambiente, os não ditos do ministro Salles formam um eloquente aviso: chegamos ao tempo da insensatez.”

 

ClimaInfo, 8 de abril de 2019.