Na 6ª feira, o ministro do meio ambiente convocou a imprensa para falar dos resultados da investigação feita pela pasta sobre os contratos do Fundo Amazônia com ONGs. A convocação para a imprensa dizia que o governo tinha descoberto irregularidades sérias.
No final das contas, o ministro não mostrou nenhum dado nem apontou nomes. Só conseguiu formular ilações vazias. A CGU, que em tese serviria para avalizar o inquérito, sequer estava presente na coletiva. Aliás, deixou claro que as conclusões eram de responsabilidade do MMA.
Já na tarde de 6a feira, a Noruega e a Alemanha, os grandes doadores do Fundo, declararam que monitoram de perto os projetos e estão plenamente satisfeitos com os resultados alcançados e que, ao contrário do que disse Salles, não foram procurados para rever as regras do Fundo.
Por seu lado, o BNDES, gestor do Fundo, afastou a gerente responsável dizendo, em nota, que “reflete prática natural enquanto se esclarecem as questões levantadas, não representando qualquer suspeita específica sobre a conduta dos funcionários do banco.” A Associação dos funcionários do Banco marcou um ato de desagravo para hoje à tarde, pelo afastamento repentino da gerente.
Para o Observatório do Clima, “o conjunto de ilações feitas por Salles e seu ataque a mais uma instituição ambiental alimenta a desconfiança nos doadores e o resultado pode ser o fim dos repasses ao Brasil. A ironia maior é que essa ação parta de um homem que foi condenado pela Justiça paulista por fraude ambiental e que é, no fim das contas, o único personagem com histórico de irregularidades nesta história”.
Maurício Tuffani, do Direto da Ciência, conta a história com detalhes, desde a convocação da coletiva à imprensa na 5a feira. A Folha escreveu sobre a coletiva, publicando também a reação de Alemanha e Noruega e sobre o afastamento da gerente do BNDES. Também na Folha, o blog Ambiência enumera os tropeços sucessivos de Salles: “só nesta semana, as decisões intempestivas de Salles pegaram de surpresa e criaram atritos com a Alemanha, a Noruega, a CGU, o BNDES, a agência de mudanças climáticas da ONU e o prefeito de Salvador – ninguém menos que ACM Neto, presidente do partido que controla a Câmara e o Senado”. O colunista Reinaldo Azevedo, também na Folha, e mais O Globo e O Eco comentaram a surpresa dos doadores. O Estadão comentou a coletiva.
O MMA soltou uma nota oca, com as mesmas ilações feitas por Salles na coletiva. Ao final, diz que submeteria os resultados da investigação ao “BNDES, Controladoria-Geral da União (CGU) e Tribunal de Contas da União (TCU) para a adoção das medidas que entenderem pertinentes”. O TCU audita o Fundo regularmente.
ClimaInfo, 20 de maio de 2019.
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