Polícia detém brigadistas em Alter do Chão e apreende documentos de ONGs

brigadistas de Alter do Chão

Escolhemos para esta nota o título acima, por ser mais informativo, mas este bem que poderia ter o tom usado pelo OC, o Observatório do Clima (“Amazônia pega fogo e polícia de Helder prende os bombeiros”), que talvez expressasse melhor nossa perplexidade.

Acontece que a Polícia Civil do Pará deteve ontem quatro brigadistas de Alter do Chão, área da região de Santarém que sofreu com incêndios florestais em setembro passado, sob alegação de que estes tenham sido responsáveis pelas queimadas na região. A acusação remete a um dos argumentos mais “rocambólicos” dito por Bolsonaro durante o auge das queimadas na Amazônia, quando este acusou “ONGs” de estarem por trás da destruição da floresta. No entanto, as autoridades não deram mais detalhes sobre as acusações.

Além das prisões, a polícia também cumpriu mandato de busca na sede do Projeto Saúde e Alegria (PSA), uma das organizações mais reconhecidas da região e de atuação destacada na Amazônia. Um dos detidos trabalha na organização, mas os policiais não ofereceram justificativa para a apreensão de documentos e computadores na sede.

Em nota, o PSA afirmou que “não existe no momento nenhum procedimento contra o Projeto, mas apenas a apreensão de documentos institucionais no âmbito de um inquérito a respeito do qual ainda não temos acesso a nenhuma informação”.

“É uma situação kafkaniana, um pesadelo. O que a gente percebe claramente é uma ação política para tentar desmoralizar as ONGs que atuam na Amazônia. É muito preocupante”, afirmou à Folha o coordenador do Projeto Saúde e Alegria, Caetano Scannavino.

Outra organização afetada pela operação da polícia, o Instituto Aquífero Alter do Chão, disse que ainda está apurando quais são as acusações: “Estamos em choque com a prisão de pessoas que não fazem senão dedicar parte de suas vidas à proteção da comunidade, porém certos de que qualquer que seja a denúncia, ela será esclarecida, e a inocência da Brigada e seus membros devidamente reconhecida”, diz a nota publicada no Estadão.

Nos somamos ao comentário do OC: “É sintomático que este episódio ocorra num momento de aprofundamento da radicalização política e de risco para a democracia brasileira, quando o governo ameaça a população civil com ‘um AI-5’ e com excludente de ilicitude nas zonas rurais – Amazônia incluída.”
A Anistia Internacional divulgou uma nota a respeito, assim como o Instituto Ethos, que conclama as empresas parceiras de ONGs da Amazônia a se posicionarem. O WWF-Brasil também publicou nota desmentindo boatos sobre sua relação com os brigadistas.

 

ClimaInfo, 27 de novembro de 2019.

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