Greta e Trump são destaques em Davos

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Greta: “Não precisamos de uma ‘economia de baixo carbono’. Não precisamos ‘reduzir as emissões’. Nossas emissões precisam parar (…) Não queremos que essas coisas sejam feitas até 2050, 2030 ou até 2021. Queremos que isso seja feito agora!” Isso foi parte da fala da jovem Greta Thunberg para os poderosos que foram a Davos para o Fórum Econômico Mundial. Greta ecoou demandas dela e de outros ativistas: “Interrompam imediatamente todos os investimentos em exploração e extração de combustíveis fósseis; encerrem imediatamente todos os subsídios aos combustíveis fósseis.” Ela reforçou seu recado sobre ouvir a ciência e agir. “E por que é tão importante ficar abaixo de 1,5oC? Porque mesmo a 1oC as pessoas estão morrendo por causa das mudanças climáticas. Porque é isso que a ciência exige para evitar a desestabilização do clima e para que tenhamos a melhor chance possível de não desencadear reações irreversíveis em cadeia. Cada fração de grau importa.”

A fala repercutiu no mundo todo. Vale ver a nota do próprio Fórum, a da rede americana CNBC e uma matéria da DowJones traduzida no Valor.

Trump: O presidente dos EUA também está em Davos e disse que “temos que rejeitar os eternos catastrofistas e suas previsões apocalípticas” e emendou falando que o aumento da produção de petróleo e gás “teve tanto êxito que os Estados Unidos não precisam mais importar energia de nações hostis”. Esta e outras falas de Trump saíram no UOL, na BBC e no The Guardian, dentre muitos outros veículos. Dani Chiaretti, no Valor, escreveu um artigo dedicado aos absurdos proferidos pelo presidente americano, abrindo com: “O presidente da maior economia do mundo, e a segunda maior emissora de gases-estufa, vive em outro planeta”. Ela matou a charada em seguida: “Trump fez de Davos um palanque para sua campanha eleitoral. Falou ao público doméstico ao citar o boom econômico que vive os Estados Unidos – um gêiser de oportunidades”, em suas palavras. E, muito provavelmente, Trump turbinará sua campanha com todas a reações negativas que conseguir colher.

Greenpeace: O Greenpeace lançou um relatório acusando o setor financeiro de ser tão culpado pelo aquecimento global quanto a indústria de fósseis e “em especial os presentes ao Fórum Econômico Mundial”. A organização criou um novo site, o Fracasso Econômico Mundial, no qual, além de apresentar o relatório, denuncia as responsabilidades de figuras ilustres e empresas do setor que financia os fósseis no mundo. O The Guardian, a francesa 24Heures e a italiana Rinnovabili deram a notícia.

Míriam Leitão: A coluna da jornalista n’O Globo evocou a Montanha Mágica, de Thomas Mann, que se passa nas montanhas de Davos, para falar da lenta guinada que os frequentadores do Fórum estão dando, passando a incorporar as mudanças climáticas, não só nas alturas do planejamento, como nas ações em suas empresas: “Cada grande investidor colocará seu dinheiro na economia de baixo carbono e na transição que terá que ser feita. O tema saiu dos cenários e foi para o concreto mundo da alocação de recursos.” Miriam lamenta a atual política ambiental do governo brasileiro dizendo que “o problema grave, contudo, é a falta de sintonia do Ministério da Economia com essa agenda (climática)”. E assim como o personagem principal da Montanha de Mann, que achava que ficaria por lá só uns poucos dias e acaba ficando para sempre, a mudança do clima chegou ao rarefeito mundo dos altos negócios e ficará para sempre.

A economista Ana Carla Abrão analisou o documentos de riscos do Fórum de Davos para o Estadão: “Mas no Brasil esse grande desafio parece ser ainda maior. Não só porque a Amazônia seja nossa ou por conta da riqueza da nossa biodiversidade. Mas sim porque as questões ambientais que dominarão as discussões no WEF deste ano são objeto de desprezo por parte do atual governo. O mesmo tema ambiental que lidera o topo de riscos globais do GRR é aqui dominado por ceticismo, amadorismo, falta de prioridade e ausência de ações.”

Cisne Verde: Assim como o Cisne Negro se tornou símbolo de acontecimentos inesperados que se tornam uma ameaça permanente, o Cisne Verde passou a representar os impactos das mudanças do clima. O Banco para Compensações Internacionais (BIS) está alertando o mundo de Davos dos riscos do clima. O vice-gerente geral do BIS, Luiz Awazu Pereira da Silva, explicou que “as abordagens tradicionais ao gerenciamento de riscos – que consistem na extrapolação de dados históricos e em suposições de distribuições normais – são, no geral, irrelevantes para avaliar futuros riscos relacionados ao clima”. Ele completou: “Acho que estamos na iminência de observar algo que poderá desencadear a próxima crise financeira sistêmica.” O trabalho pode ser baixado aqui. O Valor publicou uma tradução de uma nota das Agências Internacionais.

 

ClimaInfo, 22 de janeiro de 2020.

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