Caos em Belo Horizonte resulta do encontro do mau planejamento com a mudança climática

Belo Horizonte chuvas

Não faltaram anúncios. Desde a semana passada, a meteorologia prenunciava uma forte chuva para a região de Belo Horizonte. E a chuva veio quebrando recordes. Chuvas acima de 100mm são raras, como informa o professor Raoni Rajão, da UFMG: em BH, desde 1960, ocorreram somente de 1 a 4 por década. Mas só neste janeiro, dois dias registraram chuvas assim: dia 24 foi o mais chuvoso dos registros, com 171mm, e o dia 25 foi o 6º da série, com 140mm.

O urbanista e professor da UFMG, Roberto Andrés, disse ao El País que as cidades que hoje mais sofrem com as consequências das chuvas foram as que em seu planejamento urbano desconsideraram o curso da água: “É do ciclo natural que os rios se encham. Foi problema de concepção acreditar que seria possível ocupar as áreas próximas aos córregos e rios. É preciso deixar uma área, fazer parques, deixar espaços para que os rios possam subir. Mas essa ideia equivocada de planejamento está internalizada em várias cidades brasileiras”. Andrés também fala da ocupação desordenada de morros e encostas.

Mas os problemas do mau planejamento urbano não explicam tudo. A mesma matéria do El País informa que o estudo Análise de vulnerabilidade às mudanças climáticas do município de Belo Horizonte já apontava em 2016 “dados alarmantes sobre a intensificação dos impactos das mudanças climáticas na capital, como inundações, ondas de calor, deslizamentos e dengue. O estudo indicava que 207, ou 42% dos 486 bairros da capital mineira, já se encontravam em situação de alta vulnerabilidade. E prevê que, em 2030, se nada for feito, o número de locais em situação de risco de deslizamento e inundações pode dar um salto, atingindo mais da metade dos bairros (68% do total atual).”

Thomas Milz, na Deutsche Welle, usou as chuvas em Minas como gancho para elencar uma série de tragédias que, em comum, têm um Estado ausente. São governantes que não zelam pelo deveriam e autarquias e estatais que não cumprem sua função social. “Fica a impressão de que lucrar é mais importante do que resolver os problemas. E isso não é exclusividade dos governos. Os desastres de Mariana e Brumadinho levam a acreditar que empresas privadas tampouco colocam a segurança em primeiro lugar. Me pergunto: onde está a pressão popular para exigir uma melhoria?”

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