“É um processo. Sempre nos lugares em que se está começando, a madeira chega primeiro. Depois, vem o desmate da pecuária.”

9 de fevereiro de 2020

A frase é de José Carlos da Silva, um pecuarista de Santo Antônio do Matupi, AM, e não uma denúncia de um ambientalista. Silva complementa: “Anda junto, a madeira com a pecuária”. Fernanda Wenzel e Marcio Isensee, do Eco, contam a história de Matupi, parecida com tantas outras cidades que foram surgindo ao longo das estradas que cortam a Amazônia. Moradores relataram que durante muito tempo a principal atividade foram as serrarias operando com madeira extraída ilegalmente. Chegaram a ser 50. O desmatamento na região chamou a atenção do Ibama que passou a fazer operações e apreender maquinário e toras. Ainda restam 26 com autorização do Ibama. Só que a principal atividade passou a ser a pecuária. O rebanho de Matupi representa a maior parte do gado existente no município de Manicoré, onde está situado. Essa transição de atividade aconteceu neste século:

entre 2004 e 2018, o rebanho passou de 13 mil para 115 mil animais e a área desmatada aumentou em 82 mil hectares.

Wenzel e Isensee contam de outra dinâmica igualmente comum na Amazônia: a posse da terra. Nos anos 90, o INCRA criou um assentamento na região. Hoje, poucos assentados ainda moram em Matupi – a maioria vendeu seus lotes para fazendeiros. Muito foram adiante desmatar novas área para vender outra vez. A matéria explica que se trata de “uma dinâmica que mantém ativa a engrenagem do desmatamento. Quem vem na frente consegue a terra quase de graça, mas arca com as dificuldades de chegar em um lugar sem infraestrutura e onde o Estado é inexistente. Quem vem atrás paga um pouco mais caro, mas chega com mais dinheiro e melhores condições de investimento. Um processo que faz parte da história de ocupação da Amazônia”. Gabriel Cardoso Carrero, do Idesam diz que: “É um processo que poderia ser chamado de “matogranização” de Rondônia e, depois, de “rondonização” do Amazonas. São pessoas que têm esse perfil de trabalharem mais com pecuária do que com agricultura, e que vão atrás de terras desocupadas, sem nenhuma infraestrutura. Quando a infraestrutura chega, estas terras valorizam e essas pessoas acabam por vender a terra e vão mais à frente na fronteira”.

 

ClimaInfo, 10 de fevereiro de 2020.

Se você gostou dessa nota, clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.

x (x)

Continue lendo

Assine nossa newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Glossário

Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
1 Aulas — 1h Total
Iniciar