“É um processo. Sempre nos lugares em que se está começando, a madeira chega primeiro. Depois, vem o desmate da pecuária.”

Matupi

A frase é de José Carlos da Silva, um pecuarista de Santo Antônio do Matupi, AM, e não uma denúncia de um ambientalista. Silva complementa: “Anda junto, a madeira com a pecuária”. Fernanda Wenzel e Marcio Isensee, do Eco, contam a história de Matupi, parecida com tantas outras cidades que foram surgindo ao longo das estradas que cortam a Amazônia. Moradores relataram que durante muito tempo a principal atividade foram as serrarias operando com madeira extraída ilegalmente. Chegaram a ser 50. O desmatamento na região chamou a atenção do Ibama que passou a fazer operações e apreender maquinário e toras. Ainda restam 26 com autorização do Ibama. Só que a principal atividade passou a ser a pecuária. O rebanho de Matupi representa a maior parte do gado existente no município de Manicoré, onde está situado. Essa transição de atividade aconteceu neste século:

entre 2004 e 2018, o rebanho passou de 13 mil para 115 mil animais e a área desmatada aumentou em 82 mil hectares.

Wenzel e Isensee contam de outra dinâmica igualmente comum na Amazônia: a posse da terra. Nos anos 90, o INCRA criou um assentamento na região. Hoje, poucos assentados ainda moram em Matupi – a maioria vendeu seus lotes para fazendeiros. Muito foram adiante desmatar novas área para vender outra vez. A matéria explica que se trata de “uma dinâmica que mantém ativa a engrenagem do desmatamento. Quem vem na frente consegue a terra quase de graça, mas arca com as dificuldades de chegar em um lugar sem infraestrutura e onde o Estado é inexistente. Quem vem atrás paga um pouco mais caro, mas chega com mais dinheiro e melhores condições de investimento. Um processo que faz parte da história de ocupação da Amazônia”. Gabriel Cardoso Carrero, do Idesam diz que: “É um processo que poderia ser chamado de “matogranização” de Rondônia e, depois, de “rondonização” do Amazonas. São pessoas que têm esse perfil de trabalharem mais com pecuária do que com agricultura, e que vão atrás de terras desocupadas, sem nenhuma infraestrutura. Quando a infraestrutura chega, estas terras valorizam e essas pessoas acabam por vender a terra e vão mais à frente na fronteira”.

 

ClimaInfo, 10 de fevereiro de 2020.

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