Pontos de Virada do Carbon Brief

16 de fevereiro de 2020

O Carbon Brief está publicando uma série de artigos sobre sete dos principais pontos de virada ou sem retorno, os tipping points climáticos. Cada artigo é escrito por um cientista especializado no tema.

O ponto de virada da Amazônia

O primeiro tipping point da série é sobre a Floresta Amazônica. A Amazônia é crucial para a manutenção do clima global. A circulação de água garante as chuvas na região e a circulação atmosférica nos trópicos e ao longo de toda a cadeia oriental dos Andes. As secas severas previstas pelos modelos climáticos, agravadas pelo desmatamento antrópico, reduzem a circulação de água, o que acaba destruindo ainda mais árvores. Um feedback positivo é que acaba transformando grandes áreas de floresta em uma vegetação parecida com a do Cerrado. A floresta é fundamental para o sistema climático também pelas trocas de carbono com a atmosfera e pelo carbono que estoca nas suas árvores e em seu solo. Estima-se que o que resta da Floresta Amazônica absorve atualmente 5-10% do CO2 produzido pela humanidade. A redução desta capacidade de absorção acabará transformando a floresta em um emissor líquido, aumentando o aquecimento global e reduzindo ainda mais a circulação de água. E a recuperação de uma floresta como a Amazônica, se possível, leva séculos. Parte da água que circula através da floresta acaba descendo ao longo da encosta leste dos Andes, irrigando as lavouras de Mato Grosso, parte do Sudeste brasileiro, Paraguai e norte da Argentina, regiões cruciais para a economia desses países.

As emissões do derretimento do permafrost

O permafrost é definido como sendo a superfície congelada por mais de dois anos seguidos. A espessura da camada de terra congelada varia de centímetros a quilômetros. Ao derreter, o gelo libera o CO2 que havia sido aprisionado, e o processo de decomposição da vegetação e de outros organismos que o gelo interrompeu voltam a acontecer, liberando ainda mais CO2 e metano. Esses gases passam a contribuir para acelerar o aquecimento global, acelerando o derretimento de mais permafrost. Há camadas de permafrost de centenas de milhares de anos e a ciência estima que haja duas vezes mais carbono congelado do que na atmosfera. Como outros pontos de virada, é possível que este já tenha sido ultrapassado e que o processo já seja irreversível.

A parada da circulação termoalina meridional do Atlântico

A circulação termoalina meridional do Atlântico (AMOC) leva as águas quentes do Caribe para o norte da Europa e sua velocidade e alcance dependem, fundamentalmente, da diferença de temperatura nas camadas superficiais do Atlântico nas duas pontas. Na medida em que a atmosfera aquece, esta diferença tende a diminuir e, junto, a circulação que, a continuar a tendência atual, pode parar completamente um dia. Esse dia pode ser antecipado por outro fator que propele a circulação – a salinidade. Águas mais salgadas são mais densas e tendem a ficar em profundidades maiores. O derretimento do gelo da Groenlândia adiciona quantidades importantes de água fresca e leve ao Atlântico Norte, exatamente onde a AMOC, hoje, fria e salgada afunda e inicia sua volta pelas profundidades. A água fresca freia este movimento, contribuindo para ralentar e, eventualmente, frear a corrente. Os modelos climáticos atuais ainda não preveem o colapso da AMOC e o que acontecerá com o clima terrestre se isto acontecer.

A Antártica Ocidental perto do tipping point

Se todo o gelo da Antártica derretesse, o mar subiria 60 metros. A parte menor do continente, a ocidental, causaria uma elevação de pouco mais de 3 metros. No entanto, a ciência entende que ela é muito mais instável do que qualquer outra parte do continente e é considerada a maior incógnita nas previsões de elevação do nível do mar. Os modelos indicam que o sistema sofre um colapso a partir de quando o aumento da temperatura média global passar dos 2°C. As geleiras da Antártica Ocidental têm uma parte em terra e outra no mar. A camada marinha serve como uma rolha para o gelo terrestre. Na medida em que a atmosfera aquece, a camada marinha derrete e enfraquece. Mais, a camada de gelo terrestre começa a se retrair por causa da água do mar que começa a se infiltrar. Essa retração enfraquece a rolha e a geleira começa a se movimentar mais rapidamente. Caso as temperaturas permaneçam mais elevadas, o processo se retroalimenta e a geleira acaba derretendo e o mar subindo ainda mais.

 

ClimaInfo, 17 de fevereiro de 2020.

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