Quem pode, escolhe quem morre

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Anuncia-se para breve aqui no Brasil a tragédia enfrentada pelos médicos italianos e espanhóis: escolher quem morrerá por falta de respirador e falta de leito em UTI. O critério quase universal é a priorização de quem tem mais chance de ter maior tempo de vida saudável. O biólogo Atila Iamarino prevê que o número de óbitos deve disparar em 2 ou 3 semanas. Desde o início de março, saem notícias falando do estrangulamento do sistema de saúde e da muito provável falta de leitos e equipamentos.

A situação pode ficar ainda mais crítica aqui e no mundo todo pela baixa oferta de materiais e equipamentos. Com a China como principal, ou às vezes única, fornecedora mundial, o mundo assiste aos EUA usando seu poder econômico e militar para levar o que puder, mesmo os pedidos fechados anteriormente com cidades, estados e países de todo o mundo. America First.

Entre os lamentos nacionais, o ex-ministro Rubens Ricupero, diz que o Brasil certamente não será nunca um cliente preferencial, de tanto que o presidente, sua família e o chanceler Araújo vivem atacando a China. A ver quantas mortes a mais serão colocadas nesta conta.

Para piorar o quadro, o drama dos leitos e respiradores só atingirá aos que conseguirem entrar nos hospitais. À medida em que a doença se espalha, é de se esperar que parte da população nem chegue a tempo de ser tratada. Isso vale tanto nas regiões mais pobres e afastadas nas regiões metropolitanas quanto no interior do país.

Populações indígenas estão se protegendo, bloqueando o acesso de não membros das tribos e expulsando invasores. Em muitos locais na Amazônia, uma pessoa que apresente sintomas dificilmente chegará em tempo a um hospital.

As periferias passam por mais um drama: o abastecimento precário de alimentos. Não bastasse a perda de renda enquanto os R$ 600 não vêm, o vírus e outras doenças endêmicas, por conta do fechamento das escolas, as crianças ficaram sem merenda. Artur Rodrigues e Lalo de Almeida, da Folha, andaram pela periferia de São Paulo e ouviram de moradores que a dieta está reduzida ao arroz e, vez por outra, feijão. Nada ou quase nada de legumes, frutas e proteína animal. “A dieta repetida, sem nutrientes, com diminuição da quantidade e qualidade, faz com que algumas dessas famílias entrem no grau de insegurança alimentar grave.”

 

ClimaInfo, 6 de abril de 2020.

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