A crise do petróleo é inédita e profunda

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“A Shell corta seus dividendos pela primeira vez desde a 2ª Guerra. O preço do petróleo fica negativo nos EUA. Os enormes petroleiros carregados de combustível que ninguém quer, se aboletam no Estreito de Singapura”.

Megan Darby, na Climate Change News, conta que a crise pela qual passa o setor de petróleo e gás é completamente inédita. Atravessa-se uma tempestade perfeita, combinação da queda vertiginosa da demanda por conta das quarentenas e das restrições a viagens com a sobreoferta que começou com um guerra de preços entre a Arábia Saudita e Rússia.

Darby carrega mais nas cores dizendo que o pano de fundo é o aquecimento global e a pressão cada vez maior para que as economias emitam menos e parem de queimar fósseis. Enquanto crises anteriores fizeram parte dos ciclos da economia, a ruptura desta vez é inédita.

Países produtores estão prometendo cortes de produção inimagináveis antes da pandemia e, mesmo assim, os preços insistem em flutuar em torno da metade dos praticados no começo do ano. Em contrapartida, as fontes renováveis ficam cada vez mais atraentes financeiramente, até mesmo para corporações fósseis como a Shell e a BP. Alguns analistas desconfiam que 2019 foi o ano do pico do consumo dos fósseis ou que, pelo menos, os anos dourados se foram. Kingsmill Bond, da Carbon Tracker, diz que “não devemos ficar surpresos de ver esse pico, mesmo estando cercados de combustíveis fósseis em nosso cotidiano.” Segundo ele, “a demanda de cavalos atingiu o pico quando os carros representavam apenas 3% do total de animais, a demanda de iluminação a gás atingiu o pico quando a eletricidade estava na sua infância, e tínhamos telefones Nokia antes do aparecimento do iPhone”. Darby discute que a saída da crise passa por acelerar o final dos combustíveis fósseis e incentivar a eletrificação e as renováveis.

Por falar em preços de petróleo, depois do mergulho para o negativo no meio de abril, os dois principais indicadores voltaram a gravitar entre US$ 25 e US$ 30. Ontem, segundo o Financial Times a Comissão de Negociação de Contratos Futuros de Commodities norte-americana avisou o mercado que os preços de contratos futuros pode chegar a valores negativos novamente. O aviso foi feito a partir da percepção da insegurança criada pela volatilidade dos preços. A recomendação da Comissão é de maior prudência.

 

ClimaInfo, 15 de maio de 2020.

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